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Quinta-feira, 29 de Maio de 2008

Fado, Futebol e Fátima

 

Somos um país de divisas. Não me refiro a divisas fiduciárias, pois, à excepção das remessas dos imigrantes, não abundam em terras lusas desde os tempos de D. João V. Refiro-me a lemas, geralmente expressos de uma forma menemónica para permitir ao povo memorizar de uma forma simples.

É comum identificar três pilares do regime salazarista, curiosamente todos começados pela letra F: Fado, Futebol e Fátima. Aos 3 F's haveriam de suceder, hélas, três D's, a saber: "Democratizar, Descolonizar e Desenvolver".

Comecemos pelos F's. Fado, expressão musical exclusivamente portuguesa, teve uma origem ainda não completamente esclarecida, embora hoje se tenha alguma certeza que esteja relacionada com o regresso da corte de D. João VI a Lisboa, proveniente do Brasil. Desta melange de cultura africana, brasileira e portuguesa nasceu uma música original que começou inicialmente a ser cantada em casas "mal-afamadas" da capital. Teve na "Severa" a sua primeira grande intérprete, e em Amália o seu apogeu. Não obstante, continuou a ser vista como uma música boémia, de gente pouco recomedável e terrivelmente desprezada pela intelectualidade. Recordo uma entrevista do fadista João Braga, em que relata a forma como disse a seu pai que queria ser fadista. Conta-nos Braga, que o pai foi consultar o dicionário e, em voz alta e bom vernáculo, leu o significado do adjectivo fadista que encontrou no dicionário: chulo, proxeneta, meretriz... 

Salazar não gostava de fado. Entendia que era uma canção que conduzia a um melancolismo abúlico, preferindo estilos mais ritmados como o "Vira do Minho". Amália, símbolo apropriado do regime, e o Fado foram muito maltratados no pós 25 de Abril, por existir a ideia que eram instrumentos do regime cessante. A reabilitação do Fado, já em pleno século XXI, veio com uma nova geração de fadistas, onde o nome mais  sonante é Mariza.

O Futebol teve o seu momento mais marcante como instrumento político em 1966 no Mundial de Futebol de Inglaterra. Os "magriços" cumpriram dois objectivos do regime:

1º Provar que os portugueses se podiam bater de igual para igual com todos os países, consonante com a célebre postura do "orgulhosamente sós".

2º Demonstrar, em plena guerra colonial, que as colónias eram tão portuguesas como qualquer região da Metrópole, através da estrela maior do futebol português de então, Eusébio, originário de Lourenço Marques, Moçambique.

A colagem de Eusébio ao Estado Novo trouxe-lhe mais tarde (à semelhança de Amália) alguns dissabores. Já no ocaso da sua carreira, o então futebolista encontrava-se nos EUA a jogar quando a sua mãe faleceu, tendo-lhe sido vedada a entrada no seu país de nascimento para assitir às cerimónias fúnebres.

O 3º F, Fátima, foi um fenómeno anterior ao regime, mas acentou que nem uma luva numa Igreja Católica ameaçada pelo fanatismo republicano. Com o reconhecimento das aparições por parte da cúria romana, tornou-se no símbolo máxima de fé em Portugal. Salazar, que frequentou um seminário e chegou mesmo a receber ordens menores, ao contrário do que se pensa estava longe de ser um "beato". Não comungava, nem sequer se confessava (D. Maria dizia que tinha uma dispensa do papa!) olhando com reserva para alguns bispos rebeldes. Penso que adoptaria a fórmula do célebre Bispo de Viseu, D. Alves Martins, " a religião quer-se como o sal na comida, nem de mais nem de menos".

Apesar da utilização do milagre no contexto doméstico, o seu alcance foi muito para além do âmbito nacional. A principal mensagem mariana aos "pastorinhos", expressa nos célebres "segredos", destinava-se à conversão da Rússia bolchevique. Em 1917 dá-se a Revolução Russa que desde primeira hora assume a sua vocação internacionalista. A Santa Sé  não menosprezou este ambiente revolucionário e o tempo viria a dar-lhe razão.

A mensagem de Fátima viria a causar algum mau estar em plena II Guerra Mundial. A invasão da Rússia (Já então União Soviética) por parte da Alemanha Hitleriana parecia ser legitimada pela mensagem mariana.

Os D's encerravam os desafios mais prementes que o país, saído de um contexto revolucionário, teria que enfrentar. Democratizar foi um processo difícil, só completamente estabilizado em 1982 com a revisão constitucional que extingue um orgão militar não eleito: o Conselho da Revolução.

O processo de descolonização foi conturbado, mal conduzido, caótico e negligente, cujas sequelas ainda hoje se fazem sentir na antiga África portuguesa. Este imbróglio, que colocou os comunistas no poder em todas as ex-colónias, tem dois rostos. Mário Soares e Almeida Santos. Não obstante, o povo português compensou (e de que maneira) a inaptidão dos políticos, com um processo de integração dos chamados "retornados" exemplar.

Finalmente o "D" de desenvolver continua a ser o mais difícil de concretizar. Caímos no mesmo erro dos nossos antepassados no reinado de D. João V. Recebemos o dinheiro de Bruxelas, mas não o aplicámos convenientemente. D. João V construiu o Palácio de Mafra, Cavaco Silva construiu muitas estradas mas investiu pouco no maior capital que um país tem: as pessoas. 

 

publicado por Rui Romão às 07:15
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Domingo, 25 de Maio de 2008

O Meu Eça

 

A forma como interpretamos a realidade que nos rodeia depende de uma multiplicidade de factores, que podem ir desde as experiências que vamos  vivendo, as pessoas que vamos conhecendo, os locais que visitamos, os livros que lemos, as matérias que estudamos, o trabalho que executamos,etc.

Não esquecendo todas estas influência e outras que não caberiam neste texto, gostaria de sublinhar a importância dos livros. Esta importância não será dispicienda. Cedo, os governantes se aperceberam deste fenómeno, tomando como exemplo o índex de livros proibidos que acompanham todas as ditaduras ou, noutra latitude, a profusão de biografias de políticos nas vésperas de actos eleitorais.

No meu caso particular, o principal instrumento literário de interpretação da realidade é a obra de Eça de Queirós. Não falo apenas dos seus célebres romances, fala também das sua crónicas, as "Prosa Bárbaras, bem como o seu alter ego Fradique Mendes. Escritor brilhante, descreveu a sociedade do seu tempo com uma mestria inegualável, num registo prazeiroso e cativante que apenas a sua escrita me proporciona. Analisando de perto as personagens queirosianas, apercebemo-nos que, à parte do fuso cronológico e de todas as mudanças que lhe estão implícitas, continuamos a reviver actualmente com os mesmos erros que Eça identificou na sua época. Eles são inúmeros e vão desde o diletantismo mediocre, encarnado pelo conselheiro Acácio ou pelo João da Ega, até à hipocrisia do Clero, aduzida no "Crime do Padre Amaro", ou à mania das grandezas num registo provinciano, a fazer lembrar a passagem do Hipódromo de Belém nos "Maias" . 

Mais paradigmática é a associação que Eça faz a pessoas concrectas, como é o caso de Bulhão Pato. Nos Maias, Pato sentiu-se retratado na personagem Tomás de Alencar. Um ultra-romântico, bacoco, de verso estéril, que Eça satiriza até pelo seu talento para a culinária. Não deixa de ser curioso que um homem de letras, que toda a vida lutou pelo reconhecimento intelectual junto de seus pares, tenha ficado para a posterioridade à conta das sua célebres (e deliciosas) ameijoas à Bulhão Pato.

Se tivesse que apontar alguma injustiça à prosa queirosiana, não tomaria Bulhão Pato como exemplo. Escolheria antes as Mulheres e o Brasil. Sao as duas bêtes noires do romancista. A mulher é representada na sua venalidade, leviendade, ignorância, futilidade, sendo rara a personagem feminina que não incarne mais do que um destes "pecados". Creio que este complexo feminino se encontra relacionado com a ausência da figura materna. Filho de mãe incógnita!, foi criado pelos avós no Porto, tendo sido perfilhado por Carolina D'Eça pouco antes do seu casamento (Eça casou-se na casa dos 40 anos). Desconfio que Carolina D'Eça não seria sua mãe, tanto mais que a suposta mãe afirmou que a criança tinha nascido na Póvoa de Varzim, quando hoje se sabe que nasceu em Vila do Conde.

O segundo alvo predilecto de Eça era o Brasil (vide em "As Farpas" os artigos que dedicou ao Imperador D. Pedro II). Neste caso, penso que se tratava de uma atitude jactante, muito comum ao longo de século XIX, perante um país jovem que os portugueses ainda viam como uma espécie de "protectorado" luso.

Estes "ressabiamentos" queirosianos não obnubilam o papel importantíssimo que o autor teve na abertura de novas avenidas de pensamento e de mudança de mentalidades, tarefa que, volvido mais de um século, ainda não conseguimos concretizar.

Termino com uma blague, completamente verídica, que se passou na cerimónia de inauguração da estátua de Eça de Queirós no Largo Barão de Quintela, ao Cais do Sodré. O discurso ficou a cargo de Ramalho Ortigão, seu amigo de sempre, e contou com a presença de várias pessoas próximas do romancista. A estátua representa Eça a olhar para uma mulher despida, que representa a verdade nua e crua que o romancista sempre se esforçou por colocar em tudo o que escrevia. Quando perguntaram à sua antiga governanta a opinião acerca do monumento, esta respondeu que "o senhor estava muito parecido, mas a senhora... não sei como se deixou representar naqueles propósitos"!

publicado por Rui Romão às 15:00
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Quinta-feira, 15 de Maio de 2008

A Mais Pequena História de Portugal: Grandes Vs. Pequenos

 

Em 1992, Francis Fukuyama, antigo assessor do presidente Ronald Reagan, publicou uma obra intitulada "O Fim da História e o Último Homem". Em linhas gerais, a obra pretendia comprovar que a queda do bloco soviético originava o fim da história, pelo facto de a hegemonia dos E.U.A, doravante, ser incontestável.

Numa primeira análise, tomando como referência o contexto político, militar, económico e culural,  esta teoria poderá ganhar algum crédito. Hoje, ninguém duvida da hegemonia norte-americana, nem tão-pouco da sua continuidade, mas será que poderemos falar do fim da História? A teoria do fim da história tem por base o materialismo histórico e dialético de Karl Marx e F. Engels. Na sua interpretação histórica, socorrendo-se da dieléctica hegueliana, a humanidade caminhava inexoravelmente para uma situação de estado comunista, que seria o Estado sem Estado. Ou seja, num mundo onde os homens são livres e iguais, a instituição Estado estaria votada à obsolescência, pelo simples motivo de não precisarem de um instrumento repressivo de manutenção do status quo burguês. 

A tese, do ponto de vista histórico-filosófico, resume-se à história da luta de classes, que abrange o período compreendido entre o feudalismo até ao capitalismo de que Marx foi contemporâneo. A antítese seria a revolução do operariado e do campesinato contra a "exploração do homem pelo homem", onde se eliminariam as  classes sociais e na síntese, a almejada  sociedade sem classes.

Karl Popper foi talvez o filósofo que melhor conseguiu desmontar este embuste, no entanto mesmo sem o seu contributo, a história provou, através das diversas experiências comunistas, que este regime só seria aplicável no papel.

As ditaduras soviética, alemã, chinesa, norte-coreana, vietnamita, cubana, etc. foram apenas modelos degenerados, corrompidos, vulgatas sem qualquer afinidade com a teoria que K. Marx e F. Engels criaram.  No entanto, pelo menos até à "Primavera de Praga", foi massiva a influência  marxista no seio intelectual europeu, ao longo do século XX.

Questões políticas à parte, reconheço alguma aplicabilidade da teoria do Materialismo Histórico e Dialéctico à História de Portugal. Penso que consigo apresentar a nossa história tendo por base esta matriz de pensamento, com todas as limitações que são reconhecidas.

Ao contrário da divisão clássica das sociedades cristãs entre nobreza, clero e povo, perfilho, à semelhança de alguns autores, que o grande foco de conflito não foi entre estas três classes (a que se acrescentou a burguesia com a Revolução Industrial) mas entre os "grandes" e "pequenos". No fundo, clero e nobreza sempre tiveram interesses muito coincidentes, ao contrário da burguesia que se associa ao povo para fazer frente a estes.

Analisando a História de Portugal, nascemos como nação de uma situação conflituosa entre os  poderosos fidalgos castelhanos, partidários de Dª Teresa, e da "arraia miúda" que estava do lado do infante D. Afonso. Já Rei, D. Afonso Henriques sempre honrou esse apoio.

O poder dos fidalgos só se tornou efectivo no reinado de D. Sancho II, quando a inaptidão do monarca deu espaço aos nobres  e ao clero para aumentarem o seu poder e riqueza. Contudo, este ascendente haveria de ser breve, com o afastamento de D. Sancho e a subida ao trono do "bolonhês".  A nobreza haveria de dar, novamente, um ar da sua graça no final do reinado de D. Dinis, no entanto aí o povo, ao lado do infante D. Afonso (futuro Afonso IV), revoltou-se. Os "grandes" só voltariam a recuperar o seu poder no reinado de D. Fernando, o tal  "rei fraco que faz fraca a forte gente" como versejou Camões.

Na dinastia borgonhesa fica-nos na memória alguns episódios de conflito como a guerra civil que opôs D. Sancho II  (apoiado pela nobreza terratenente) e o seu irmão D. Afonso III, a vingança de D. Pedro após a morte de Inês de Castro, ou ainda o conflito que opôs o "justiceiro" ao Bispo do Porto. Conta-se que este ordenou que lhe tirassem as vestes ecliseásticas e o chibateou nas costas.

Na guerra civil é à frente de um exército popular que o Mestre de Avis e o Condestável levam de vencido o partido de D. Beatriz e de D. João de Castela.  O conflito de Alfarrobeira, entre D. Afonso V e seu tio o infante D. Pedro (o das 7 partidas do mundo) volta a pôr em evidência o conflito entre "grandes" e "pequenos", mas desta vez os grandes sairam vencedores, com a morte do infante D. Pedro. O domínio dos poderosos, que manietavam completamente um Rei de pouco gabarito, haveria de ter a sua antítese com o Príncipe Perfeito. Diz-se que este quando subiu ao trono resumiu numa frase a política generosa de seu pai relativamente à aristocracia "o meu pai deixou-me apenas as estradas de Portugal para reinar".

A sua política de controlo da situação política revestiu-se de grande violência com  a morte do Duque de Bragança e do seu próprio cunhado, D. Diogo,  Duque de Viseu, `as suas próprias mãos no Paço de Setúbal.

Na crise de 1580, D. Filipe II tem de seu lado uma nobreza venal que olhava com cobiça para a riqueza das minas de prata na América espanhola. O Prior do Crato, que se lhe opôs na arruaça a que deram o nome pomposo de "Batalha de Alcântara", foi um adversário que não ofereceu grande réplica.

Com a restauração de 1640 o povo vinga a derrota de 1580, face a uma nobreza que embora desiludida  era descrente do sucesso de tal empresa. Não deixa de ser sintomático que o próprio Duque de Bragança tenha tergiversado na aceitação de um trono que lhe foi oferecido de mão beijada por um punhado de jovens fidalgos lisboetas. 

Já com a dinastia de Bragança no trono, este movimento alternante, num conflito aberto e constante entre "grandes" e "pequenos", prossegue. D. Afonso VI, um Rei com grandes perturbações mentais, estava, como seria de esperar, na mão dos poderosos. O povo esteve ao lado do seu irmão, D. Pedro II, que lhe conquistou o poder. O filho de D. Pedro II, o "magnânimo" D. João V, voltou a colocar uma coroa opolenta com as riquezas do Brasil ao serviço da aristocracia e do clero. O pendor foi tão forte que a reacção não o foi menos, com D. José I e o seu célebre ministro Marquês de Pombal.

A D. José sucede D. Maria I, que também enloqueceu, pelo que o seu filho, futuro D. João VI, cedo adquiriu a condição de Príncipe Regente. Foi com este título que deslocou a capital para o Rio de Janeiro e com ele levou uma corte maioritariamente corrupta e dependente do Estado.

Com o regresso a Portugal e a morte de D. João VI, após comer uma laranja com algo mais do que vitamina C, vem a guerra civil entre liberais (com o apoio dos grandes) e absolutistas (apoiados pelos pequenos).

Com a vitória dos liberais, formam-se dois grandes grupos nas hostes liberais - Cartistas e Setembristas -  que internamente abrigam diversas sensibilidades, desde os moderados até aos radicais.

No entanto, numa análise simplificada, os Setembristas tomavam o partido dos "pequenos", ao passo que os cartistas (com uma forte facção de cabralistas) representavam os poderososo que aderiram à causa liberal. Venceram os segundos, numa hegemonia que se manteve até à República. 

A República teve as suas origem no Setembrismo, a que se juntaram os novos ricos que nasceram com o fontismo e que se viam afastados do centro de poder. Foi com o aparecimento de uma Burguesia endinheirada que o ideal republicano foi tomando forma. 

Nos 16 anos de 1ª República a situação era tão confusa (45 governos!) que não se pode dizer que foi um governo de grandes nem de pequenos, porque houve de tudo, inclusivamente um golpe de estado que derrubou um governo, capitaneado por dois indivíduos boémios do Bairro Alto, de seu nome "Ai Ó Linda"  e "Chico Fadista".

Com o 28 de Maio de 1926 e a ditadura salazarista que lhe sucedeu a situação volta a ser indefinida. Os grandes estavam mais próximos do poder, mas não conseguiam influenciar  o senhor que habitava o Palácio de São Bento.   

De 25 de Abril de 1974 a 25 de Novembro de 1975 vivemos o período em que o povo teve maior peso nas decisões políticas. Em nove séculos de História, nunca o poder esteve tão perto do povo, apesar de esta "primavera" ter como objectivo final a entrada na órbita da ditadura soviética.

Com o 25 de Novembro, abrandou o poder popular, no entanto  avançaram as nacionalizações que lesaram os poderosos. Os grandes só voltariam a gozar dos seus antigos privilégios no consulado cavaquista, com as reprivatizações. Actualmente, à excepção de dois ou três "arrivistas", o poder económico encontra-se nas mãos de quem o tinha no dia 24 de Abril de 1974.

Nos nossos dias vivemos numa sociedade onde as diferenças já não são tão fracturantes. Os governos de esquerda, não representam, de todo, as camadas mais desfavorecidas. Rendidos à terceira via de Giddens, a esquerda apresenta-se numa versão light, que não a distingue, em quase nada, da direita liberal. No fundo, o "centrão" ideológico, corporizado por PSD e PS, colocaram um ponto final nesta situação conflituosa. O único resquício desta luta multisecular encontramos nas lutas sindicais, no entanto o seu poder deriva mais da conjuntura do que de uma situação sistémica e estabilizada. 

 É esta a minha visão da História de Portugal. Ao contrário de Fukuyama, não entendo que seja o fim da História de Portugal. Como acredito  que cada período carrega a sua própria antítese, não tenho dúvidas que outros paradigmas ideológicos aparecerão para atirar por terra velhos dogmas. No entanto, salvo melhor opinião, foi assim...

 

publicado por Rui Romão às 20:03
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Sábado, 3 de Maio de 2008

Alfredo da Silva - Da 1ª República até ao Regime Ideal

 

 

Para Alfredo da Silva, a primeira república foi vivida numa situação paradoxal. Por um lado, os negócios prosperavam, nomeadamente no período da Grande Guerra, onde a alta dos preços lhe permitiu lucros avultados. Por outro, passou a ser um alvo de ataques da demagógica imprensa republicana, que se referia ao industrial como o "rei dos açambarcadores".

Até Outubro de 1910, não obstante o clima contestatário que se vivia principalmente no Barreiro, face aos aumentos sucessivos de impostos indirectos, a CUF conseguia ficar à parte destes protestos. Talvez o reconhecimento pelo modelo social empreendido pela empresa, ou mesmo as acções de charme realizadas através dos seus delegados junto de potenciais consumidores, tenham deixado a empresa à margem da convulsão que varria o país.     

Com o golpe republicano, a Vila passou a viver num clima de pré-terrorismo, onde nem as linhas de caminho de ferro e as mangueiras dos bombeiros escapavam à revolta popular. A somar a este clima de contestação generalizada, viriam as greves e as exigências injustificadas que assolaram as fábricas da Cuf: Largo da Fontaìnhas, Fábrica Sol, Barreiro e Alferrarede.

A agitação social haveria de voltar com a Grande Guerra. Este foi um período sensivel, onde Alfredo da Silva para além de se confrontar com a crise internacional, teria que se defender das acusações de germanófilo, que lhe valeram a presença na black list do foreign office britânico. A imprensa foi implacável, com o empresário a ser o alvo predilecto dos periodistas, que o acusavam de enriquecer à custa da miséria alheia. Este clima crispado gerado em torno da sua figura, a somar ao seu apoio declarado ao Sidonismo,  haveria de ter como consequência lógica (nos parâmetros da 1ª república) a sua eliminação física.

A primeira das várias tentativas  teve lugar em 1919, quando descia a Avenida Presidente Wilson (actual Avenida D. Carlos I), o seu caro foi alvejado com 2 bombas de dinamite!, tendo o denodo do motorista evitado que elas atingissem fatalmente o empresário. Malogrado o plano inicial, os executores do atentado recorreram ao revolver, disparando convulsivamente contra o carro do industrial. Alfredo da Silva escapou miraculosamente a este atentado,  tendo o seu motorista sofrido diversos ferimentos, embora não fatais.

O segundo atentado à sua vida seria ainda neste annus horribilis de 1919. Desta vez, à porta de sua casa do Alto de Santa Catarina. Quando o empresário de preparava para entrar no automóvel que o aguardava, um sujeito aproximou-se e apontou-lhe uma arma à cabeça. Para sorte do industrial a arma encravou (o que não era tão habitual quanto isso). O motorista de Alfredo da Silva, munindo-se da manivela do carro, inicia uma perseguição ao indivíduo que só termina quando, com a ajuda de um cúmplice, é deflagrada uma bomba que deixou ferimentos no motorista, deixando o industrial, novamente, incólume.      

Na sequência destes ataques Alfredo da Silva abandonou o país, no seu auto-exílio de Madrid. No regresso, haveria de ter novamente que se haver com os fanáticos do regime. Em 19 de Outubro de 1921, o nome do empresário constava da "lista de passageiros" da camioneta fantasma que na célebre noite sangrenta roubou a vida ao primeiro ministro cessante, António Granjo, bem como aos "herois" da rotunda Carlos da Maia e Machado Santos. Escapou novamente, encoberto pelos seus empregados, o que lhe permitiu ganhar o tempo suficiente para fugir. No entanto a sua fuga haveria de se revelar infrutífera, porque acabaria por ser acometido na estação de Leiria, onde um atentado quase lhe rouba a vida, deixando-lhe sequelas que o acompanhariam até ao resto dos seus dias.

Após Leiria, parte para França onde se entrega aos cuidados de uma enfermeira francesa, que acabaria de tomar como companheira. No entanto, ese percalço não tirou nem combatividade nem a perseverança que caracterizaram a sua vida empresarial.

Entretanto adquire a Casa Totta, que quase o levou à ruína financeira, sendo obrigado a descapitalizar as suas restantes empresas, nomeadamente a Sociedade Geral e a CUF, para fazer face à situação calamitosa que a casa financeira viveu no final da década de vinte. Nesta altura, contou com o apoio do então ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, que desempenhou um papel fulcral na salvação da empresa. De resto Alfredo da Silva adere ao Estado Novo, tomando lugar na Câmara Corporativa, instituição que sempre idealizou como um vector fundamental da tomada de decisões políticas. Beneficiou da política de condicionamento industrial, o que não o impediu de perder o concurso da Companhia dos Tabacos. Ao seu estilo, em vez de baixar os braços, fundou uma empresa concorrente, a Tabaqueira, como o prova a sigla SG (Sociedade Geral) que ainda hoje figura nos maços de tabaco. No entanto esta empresa apenas se revelou lucrativa quando o empresário já se encontrava a viver os seus últimos anos de vida. 

Prova da sua visão, viu nas telecomunicações uma janela de oportunidades para o futuro. Tentou controlar a Marconi, mas os seus esforços revelar-se-iam infrutíferos.

Não é de somenos importância a sua participação no deslindar do caso Alves dos Reis. Foi o empresário, através das páginas do "O Século", de que era proprietário, que despoletaria o caso do Angola Metrópole, ou "engole a metrópolole" como se dizia, jocosamente, na altura.

Como já referi, o facto de Alfredo da Silva ter uma estátua no Barreiro, um nome de avenida, estádio de futebol, escola, etc. constitui um paradoxo ao qual, como lisboeta, não consigo compreender na sua plenitude. Contudo, parece que os barreirenses nunca se importaram muito com esse paradoxo e homenagearam o homem que deixou uma marca indelével na então vila piscatória, local onde escolheu para sua última morada. Nos 100 anos do complexo do Barreiro, que se comemoram este ano, é justa a homenagem que o pais e o Barreiro em particular se preparam para lhe render.

publicado por Rui Romão às 16:15
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