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Segunda-feira, 11 de Janeiro de 2010

Os Sinos da Minha "Aldeia"

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Fernando Pessoa nasceu num prédio do Largo de São Carlos (onde hoje figura uma lápide evocativa), ou seja bem no centro de Lisboa, daí a curiosa alusão do poeta aos sinos da sua "aldeia", que não eram mais do que os do campanário da Igreja dos Mártires, ao Chiado. Desengane-se quem pensa que este tipo de referência contém algum saudosismo bucolismo pela ruralidade, que de resto o próprio nunca conheceu.

Que se conste, o poeta só saiu de Lisboa, ainda criança, para ir para a África do Sul com a Mãe e o padrasto. De regresso à capital, Pessoa nunca saiu da cidade que o viu nascer, como se temesse alguma espécie de claustrofobia fora das 7 colinas.

Esta referência a Pessoa vem a propósito do paralelismo que estabeleço com a minha própria experiência. Também eu nasci e cresci no centro de Lisboa, mas via aquele espaço como se uma aldeia se tratasse. A familiaridade com o espaço e o relacionamento com as pessoas com que nos cruzamos diariamente, conduziu-me à mesma abstração que nos fala o poeta. Eu não passei a minha infância no Largo de São Carlos, mas foi lá perto, mais concretamente em Santos- o-Velho. Este bairro nasceu à volta de uma antigo templo, que terá sido cristão no período visigótico, muçulmano após 711, e novamente cristão a partir da conquista de Lisboa, em 1147. Baptizado de Santos, por devoção aos santos mártires, sacrificados no período pré-cristão do império romano, foi acrescentado o denominativo "velho" por contraponto ao lugar de Santos, na zona oriental da cidade.

No entanto, a  "aldeia" de Fernando Pessoa, ou seja o Chiado, desempenhou para mim o papel que os modernos centros comerciais representam para as gerações mais novas. Ou seja, era o meu espaço de lazer, de compras, de passeio, pelo que aquelas ruas eram (e ainda são) o centro do meu mundo.

Contudo, os sinos da minha aldeia não dobravam na Igreja dos Mártires, mas em Santos-o-Velho. Se o Chiado era o espaço de lazer, aquela igreja era uma extensão da minha educação, pois era ali que passava os meus tempos extra-escolares, entre a catequese, a missa e as actividades paroquiais.

Santos-o-Velho é por isso a minha aldeia. Foi ali que eu nasci para o mundo, de modo que partilhava um sentimento de auto-suficiência, pois nada havia fora daquele triângulo - Santos, Estrela e Cais do Sodré que eu precisasse. Se queria ir a um jardim, tinha o Ramalho Ortigão - cuja cicatriz no meu joelho esquerdo me impede jamais de o esquecer -ou o Jardim da Estrela, onde lanchava aos Sábados, enquanto dava de comer aos patos. Fora do "meu mundo", havia o Parque do Monsanto, que para mim já ficava na "província".

O acto de ir à praça, para mim significava acompanhar a minha mãe ao Mercado da Ribeira, até há pouco tempo centro abastecedor de Lisboa. Nesse périplo, passavamos pela zona do Poço dos Negros, antigo cemitério para negros, onde nasceu nada mas nada menos que o Intendente Pina Manique (no Beco do Carrasco). Passando a Av. D. Carlos, antiga Avenida das Cortes, mas que a primeira República transformou em Presidente Wilson, havia uma paragem habitual na padaria para comer uma deliciosa carcaça cozida em pão de lenha. Ainda hoje, quando lá passo, cumpro o mesmo ritual. Subindo a Calçada Marquês de Abrantes, passavamos pela Embaixada da República Francesa, outrora Convento da Esperança, local onde se homiziou a Rainha Maria Francisca de Saboia, farta da insanidade de D. Afonso VI, e quiçá com o plano de casamento com o cunhado (futuro D. Pedro II) já gizado.

Chegado ao Largo de Santos, tínhamos à nossa frente a Rua das Janelas Verdes, onde aprendi as primeiras letras, na mesma rua onde Eça de Queiróz imaginou o mítico Ramalhete dos Maias. Não saindo do registo queiroziano, descíamos a rampa de Santos, re-baptizada de António Ribeiro dos Santos (resistente salazarista, que perdeu a vida no antigo ISCEF, ali bem perto), que é um local bem presente na bibliografia queiroziana, nomeadamente nos Maias, por dar acesso ao Aterro da Boavista, antigo local galante da Capital. No nosso périplo matinal, não chegávamos ao aterro (hoje em dia, corresponde ao já citado Jardim Ramalho Ortigão) pois descíamos as Escadinhas da Praia em direcção à Av. 24 de Julho, onde residíamos.

Esta avenida foi assim baptizada como homengem ao desembarque das tropas do Duque de Terceira, vindas do Algarve, no que foi o prenúncio da vitória na Guerra Civil.

A situação na guerra era difícil, perante o cerco imposto pelas tropas leais a D. Miguel à Cidade do Porto. Então, surgiu nas hostes liberais a ideia de furar o cerco através de uma expedição marítima até ao algarve, onde seguiriam, sem dar batalha, até Lisboa. Assim foi, e a guerra foi ganha.

Quem tinha Lisboa tinha Portugal, era assim no tempo da Guerra Civil, e não mudou muito nas décadas seguintes. Parafraseando João da Ega, no célebre jantar no Hotel Central (onde vislumbraria a estátua ao Duque de Terceira) " Fora de Lisboa não há nada. O Pais está todo entre a arcada e São Bento".    

Trata-se de um exagero que obviamente não partilho. Mas, no meu coração, só esta cidade me completa. Só me sinto plenamente feliz quando estou em Lisboa. É provavelmente este magnetismo à terra onde nasci e cresci a única coisa que sei que jamais mudará, por quantos anos viver.

publicado por Rui Romão às 10:09
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