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Domingo, 19 de Agosto de 2012

Alfredo da Silva e António Champalimaud - Os Empresários Portugueses

 

 

Alfredo da Silva e António Champalimuad são indiscutivelmente os maiores empresários da História de Portugal. Viveram em épocas diferentes, embora se tenham conhecido bem. António Champalimaud casou-se com Maria Cristina de Mello, neta de Alfredo da Silva e filha de Manuel de Mello, entrando assim para o seio da família Silva/Mello, embora cedo demonstrasse a sua vontade em erguer um império próprio. Na família conta-se uma história, que teve os dois como protagonistas. Num jantar de família, na casa de Alfredo da Silva no Estoril, Champalimaud pediu autorização para se ausentar, para ir a Alhandra, ver os lingotes produzidos segundo o método Basset, e que prometia revolucionar a produção siderurgica. Alfredo da Silva ter-lhe-á dito “o que é que você vai fazer a Alhandra? Aquilo só serve para fazer panelas!”. Diga-se de passagem que Alfredo da Silva tinha toda a razão.

A relação entre ambos também fica marcada por um cartão, escrito pelo sogro, D. Manuel de Mello, que Champalimaud mostrou no julgamento do caso Sommer (movido pelos irmãos, que o acusaram de apropriação indevida da herança do tio) onde se podia ler que a obra de Champalimaud era notável, apenas comparada à de meu sogro (Alfredo da Silva). Este cartão é a prova material da excelente relação que Champalimaud manteve com D. Manuel de Mello, que se traduziu mesmo na concessão de crédito para expansão das suas cimenteiras, bem diferente da relação conflituosa que manteve com os cunhados e que terão contribuído para o fim do seu casamento.

Analisando a obra destes dois capitalistas, vejamos o ponto de partida. Alfredo da Silva não era pobre. Filho de uma família de comerciantes na baixa lisboeta, perdeu muito cedo o pai, tendo começado a sua vida empresarial com as acções que herdou em algumas empresas, entre as quais (e principalmente) as do Banco Luisitano e Carris. Alfredo da Silva destacou-se pela sua impetuosidade nas Assembleias Gerais, liderando o combate à gerência do Banco Lusitano, chegando rapidamenta à sua administração. Por essa via chega à CAF (Companhia Aliança Fabril) que tinha dívidas ao banco, assumindo o banco a sua gestão, liderando a fusão com a CUF do Conde de Burnay.

Champalimaud também perdeu cedo o pai. Embora médico, este tinha uma pequena construtura, na qual o jovem António Champalimuad, filho mais velho, se ocupou. Não foi contudo por esta via que se notabilizou. Foi com a morte de Henrique Sommer, seu tio materno, que era um industrial do cimento, detentor da Cimenteira Tejo, que Champalimaud começou a mostrar a sua tenacidade. Sem filhos, Henrique Sommer, tinha por herdeiros os sobrinhos, com António Champalimaud, sobrinho mais velho, a ser o seu sucessor natural. Foi devido a esta herança que teve que enfrentar um processo judicial e um auto-exílio no México para evitar ser preso, sob a acusação de apropriação indevida. Veio a ser ilibado ainda antes de 1974, quando já tinha construído a siderurgia e já tinha comprado o Banco Pinto e Sotto Mayor e a Mundial Confiança. A entrada noutros negócios, não impediu de expandir as cimenteiras, naquilo que após as nacionalizações, veio a constituir a actual Cimpor.

A obra de Alfredo da Silva também começou na indústria, com a CUF, sendo o grande responsável pela sua expansão para o Barreiro e Alferrarede, sem contudo abandonar a infra-estrutura de Alcãntara. Seguindo a lógica de conglomerado, entrou para o negócio da marinha mercante, constituindo a Sociedade Geral (as iniciais ainda hoje constam nos maços de tabaco SG), e mais tarde para a banca, adquirindo a Casa Totta, que quase o levou à falência, na crise bancária do final dos anos 20. Teve também que se exilar, mas em Madrid, depois de ter escapado a vários atentados, o último dos quais, na Estação de Leiria, lhe deixou sequelas para a vida. Enfrentou o calvário da Casa Totta com o auxílio de Salazar, que lhe terá mais tarde aconselhado a apoiar, com a frota da SG, os nacionalistas espanhois, numa altura em que este tentava concorrer com a marinha mercante do Estado. Conseguiu ainda ganhar o concurso para explorar os estaleiros de construção naval de Lisboa, na Rocha do Conde de Óbidos, e já no final da vida fundou também a Tabaqueira, depois de um conturbado concurso em que perdeu para a Companhia Portuguesa de Tabacos.

A obra de Alfredo da Silva não foi feita à sombra do Estado, embora fosse um profissional do lobbiyng, imiscuindo-se no terreno da política por 3 vezes, curiosamente nos governos mais “à direita” que houve em Portugal: no franquismo, sidonismo e salazarismo. Debateu-se com uma primeira república hostil – que nunca lhe perdoou o apoio a João Franco - e embora tenha contado com a ajuda de Salazar para resolver o problema na casa Totta, não chegou a beneficiar com o condicionamento industrial, esboçado já no final da sua vida.

Não se poderá dizer o mesmo de Champalimaud. A Siderurgia Nacional foi um projecto complexo mas que contou com um forte apoio do Estado, a que se somou um proteccionismo exagerado, que não conseguiu disfarçar a inviabilidade do projecto. Segundo a análise de Filipe Fernandes e Isabel Canha, o projecto da Siderurgia nunca funcionou por vários motivos, desde logo a péssima localização (no Seixal) que obrigava ao transbordo de mercadorias, porque os navios de maior calado não podiam atracar no porto, aumentando os seus custos. No entanto, a razão principal era uma questão de escala. A fábrica do Seixal era uma grande unidade industrial nacional, mas era muito pequena à escala internacional, e por esse motivo, o ferro importado, mesmo com taxas aduaneiras penalizadoras, era mais barato do que o que era produzido em Portugal, saindo caro à nossa economia, porque tornava mais caras as matérias-primas para outras indústrias.

Se Alfredo da Silva partiu de uma posição muito mais desfavorável e teve uma obra como industrial muito mais meritória, não deixa de ser verdade que António Champalimaud relevou uma resistência e um espírito combativo notável, quando todas as suas empresas foram nacionalizadas, seja em Portugal seja nas ex-colónias, onde também tinha realizado importantes investimentos, nomeadamente em Moçambique.

Quando se deu o 25 de Abril, estava a construir uma cimenteira no Brasil, que conseguiu terminar com muita dificuldade, quando lhe escasseavam os meios de financiamento, tendo sido essa a base para a sua recuperação como empresário.

Teve esperança que o novo regime não hostilizasse os capitalistas, manifestando o seu apoio ao movimento logo nos primeiros dias. O Presidente da Junta de Salvação Nacional, a quem Marcelo Caetano entregou o poder na Quartel do Carmo, era um antigo administrador da Siderurgia, António de Spínola, mas apesar das constantes idas ao Palácio da Cova da Moura, sede da Junta, depressa se apercebeu que o exílio era o único caminho.

No Brasil aventurou-se por outros mundos, como a agricultura e a criação e gado, mas foi em portugal que reergueu o império. No final dos anos 80 chegou a um acordo com o Estado português, para compensar a nacionalização das suas empresas, que à data da Revolução dos Cravos, só em Portugal, incluia para além da Siderurgia, as Cimenteiras Tejo e de Leiria, o Banco Pinto e Sotto Mayor e a Companhia de Seguros Mundial Confiança. Foi o chamado acordo dos 10 milhões (de contos), montante que utilizou para investir nas privatizações das empresas nacionalizadas após a revolução. O valor pago pelo Estado foi modesto face aos valores que tinham sido exigidos no processo que moveu contra Portugal, que só em acções judiciais ganhas cifra-se nos 80 milhões de contos.O negócio acabou por ser vantajoso para Champalimaud, que contou com “facilidades” do governo para controlar a Mundial Confiança e o Banco Pinto e Sotto Mayor. Não conseguiu recuperar as cimenteiras, agrupadas na Cimpor e perdidas para o seu arqui-inimigo Queroz Pereira, e desinteressou-se pela Siderurgia, principalmente depois do alto-forno ter sido desmantelado. Para o empresário, uma siderurgia sem alto-forno, não pode ser chamada de siderurgia, mas, quanto muito, de sucataria. Em sucatarias, ele não estava interessado.

Regressado definitivamente a Porugal no princípio dos anos 90, não perdeu a sua combatividade, envolvendo-se na luta pelo controlo do Banco Totta & Açores. Salvaguardou sempre o pacto informal entre os expropriados pelas nacionalizações de Abril, de não concorrer ao património que tinha sido de outrém, pelo que só avançou para o negócio depois de saber que o seu ex cunhado não iria concorrer, ou pelo menos não seria nunca numa posição maioritária, uma vez que José Manuel de Mello, era accionista do BCP, liderado então por Jardim Gonçalves, que também quis controlar o Totta.

A autêntica novela começa quando em 1989 o Estado privatizou o Banco Totta e Açores. Os dois principais interessados foram o patrão da Sonae Belmiro de Azevedo e José Roquette, um dos fundadores do BCP e que tinha como aliado o Banesto, liderado por Mário Conde. A lei portuguesa na altura impedia que as instituições bancárias privatizadas fossem controladas por capital estrangeiro, mas a parceria com Roquette e manigâncias de vária ordem, permitiram que o Banesto se tornasse accionista maioritário. Gerou-se uma polémica que envolveu o governo português e que terminou com a venda da posição do Banesto a Champalimaud.

Se a aquisição foi polémica, a venda, que teve lugar em 1999, foi ainda pior. Champalimaud foi apelidado de Miguel de Vasconcelos, por ter vendido a sua participação no Banco Totta e Açores ao Santander, liderado por Emílio Botin. Depois de intensas negociações, chegou-se a um acordo:o Banco Pinto e Sotto Mayor seria comprado pelo BCP e a Mundial Confiança pelo grupo CGD. Tecnicamente, não se pode considerar propriamente uma venda, mas uma troca de posições accionistas. Champalimaud tornou-se no maior accionista privado do Santander, e livrava-se de uma dor de cabeça: o receio que os herdeiros disputassem nos tribunais o controlo do Banco. No final da sua vida o empresário privilegiou a liquidez, como forma de evitar conflitos familiares, que ele tão bem conhecia com o caso Sommer. Legou ao país uma fundação científica, com uma dotação de 500 milhões de euros, que se dedica hoje á investigação do tratamento de doenças oncológicas e da visão, precisamente os problemas de saúde que afectaram o industrial nos últimso anos de vida.   

 Em jeito de conclusão, entendo que a obra de Alfredo da Silva é mais grandiosa e meritória, mas Champalimaud conseguiu aquilo que nenhum outro empresário conseguiu: construir um império, perdê-lo por motivos políticos e reerguê-lo, com mais força ainda.

Dois grandes homens.

publicado por Rui Romão às 15:30
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Sábado, 3 de Maio de 2008

Alfredo da Silva - Da 1ª República até ao Regime Ideal

 

 

Para Alfredo da Silva, a primeira república foi vivida numa situação paradoxal. Por um lado, os negócios prosperavam, nomeadamente no período da Grande Guerra, onde a alta dos preços lhe permitiu lucros avultados. Por outro, passou a ser um alvo de ataques da demagógica imprensa republicana, que se referia ao industrial como o "rei dos açambarcadores".

Até Outubro de 1910, não obstante o clima contestatário que se vivia principalmente no Barreiro, face aos aumentos sucessivos de impostos indirectos, a CUF conseguia ficar à parte destes protestos. Talvez o reconhecimento pelo modelo social empreendido pela empresa, ou mesmo as acções de charme realizadas através dos seus delegados junto de potenciais consumidores, tenham deixado a empresa à margem da convulsão que varria o país.     

Com o golpe republicano, a Vila passou a viver num clima de pré-terrorismo, onde nem as linhas de caminho de ferro e as mangueiras dos bombeiros escapavam à revolta popular. A somar a este clima de contestação generalizada, viriam as greves e as exigências injustificadas que assolaram as fábricas da Cuf: Largo da Fontaìnhas, Fábrica Sol, Barreiro e Alferrarede.

A agitação social haveria de voltar com a Grande Guerra. Este foi um período sensivel, onde Alfredo da Silva para além de se confrontar com a crise internacional, teria que se defender das acusações de germanófilo, que lhe valeram a presença na black list do foreign office britânico. A imprensa foi implacável, com o empresário a ser o alvo predilecto dos periodistas, que o acusavam de enriquecer à custa da miséria alheia. Este clima crispado gerado em torno da sua figura, a somar ao seu apoio declarado ao Sidonismo,  haveria de ter como consequência lógica (nos parâmetros da 1ª república) a sua eliminação física.

A primeira das várias tentativas  teve lugar em 1919, quando descia a Avenida Presidente Wilson (actual Avenida D. Carlos I), o seu caro foi alvejado com 2 bombas de dinamite!, tendo o denodo do motorista evitado que elas atingissem fatalmente o empresário. Malogrado o plano inicial, os executores do atentado recorreram ao revolver, disparando convulsivamente contra o carro do industrial. Alfredo da Silva escapou miraculosamente a este atentado,  tendo o seu motorista sofrido diversos ferimentos, embora não fatais.

O segundo atentado à sua vida seria ainda neste annus horribilis de 1919. Desta vez, à porta de sua casa do Alto de Santa Catarina. Quando o empresário de preparava para entrar no automóvel que o aguardava, um sujeito aproximou-se e apontou-lhe uma arma à cabeça. Para sorte do industrial a arma encravou (o que não era tão habitual quanto isso). O motorista de Alfredo da Silva, munindo-se da manivela do carro, inicia uma perseguição ao indivíduo que só termina quando, com a ajuda de um cúmplice, é deflagrada uma bomba que deixou ferimentos no motorista, deixando o industrial, novamente, incólume.      

Na sequência destes ataques Alfredo da Silva abandonou o país, no seu auto-exílio de Madrid. No regresso, haveria de ter novamente que se haver com os fanáticos do regime. Em 19 de Outubro de 1921, o nome do empresário constava da "lista de passageiros" da camioneta fantasma que na célebre noite sangrenta roubou a vida ao primeiro ministro cessante, António Granjo, bem como aos "herois" da rotunda Carlos da Maia e Machado Santos. Escapou novamente, encoberto pelos seus empregados, o que lhe permitiu ganhar o tempo suficiente para fugir. No entanto a sua fuga haveria de se revelar infrutífera, porque acabaria por ser acometido na estação de Leiria, onde um atentado quase lhe rouba a vida, deixando-lhe sequelas que o acompanhariam até ao resto dos seus dias.

Após Leiria, parte para França onde se entrega aos cuidados de uma enfermeira francesa, que acabaria de tomar como companheira. No entanto, ese percalço não tirou nem combatividade nem a perseverança que caracterizaram a sua vida empresarial.

Entretanto adquire a Casa Totta, que quase o levou à ruína financeira, sendo obrigado a descapitalizar as suas restantes empresas, nomeadamente a Sociedade Geral e a CUF, para fazer face à situação calamitosa que a casa financeira viveu no final da década de vinte. Nesta altura, contou com o apoio do então ministro das Finanças, António de Oliveira Salazar, que desempenhou um papel fulcral na salvação da empresa. De resto Alfredo da Silva adere ao Estado Novo, tomando lugar na Câmara Corporativa, instituição que sempre idealizou como um vector fundamental da tomada de decisões políticas. Beneficiou da política de condicionamento industrial, o que não o impediu de perder o concurso da Companhia dos Tabacos. Ao seu estilo, em vez de baixar os braços, fundou uma empresa concorrente, a Tabaqueira, como o prova a sigla SG (Sociedade Geral) que ainda hoje figura nos maços de tabaco. No entanto esta empresa apenas se revelou lucrativa quando o empresário já se encontrava a viver os seus últimos anos de vida. 

Prova da sua visão, viu nas telecomunicações uma janela de oportunidades para o futuro. Tentou controlar a Marconi, mas os seus esforços revelar-se-iam infrutíferos.

Não é de somenos importância a sua participação no deslindar do caso Alves dos Reis. Foi o empresário, através das páginas do "O Século", de que era proprietário, que despoletaria o caso do Angola Metrópole, ou "engole a metrópolole" como se dizia, jocosamente, na altura.

Como já referi, o facto de Alfredo da Silva ter uma estátua no Barreiro, um nome de avenida, estádio de futebol, escola, etc. constitui um paradoxo ao qual, como lisboeta, não consigo compreender na sua plenitude. Contudo, parece que os barreirenses nunca se importaram muito com esse paradoxo e homenagearam o homem que deixou uma marca indelével na então vila piscatória, local onde escolheu para sua última morada. Nos 100 anos do complexo do Barreiro, que se comemoram este ano, é justa a homenagem que o pais e o Barreiro em particular se preparam para lhe render.

publicado por Rui Romão às 16:15
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Terça-feira, 25 de Março de 2008

Alfredo da Silva - Do Banco Lusitano à República



No post anterior considerei Alfredo da Silva o primeiro empresário português, no sentido moderno do termo. Não lhe chamo industrial por a sua vida empresarial ir muito para além da indústria, embora esta fosse a sua maior paixão. Paradoxalmente, pouco se conhece e menos conhecem a vida deste empreendedor que parece esquecido no imaginário dos portugueses. Avanço dois motivos:

-Por se considerar que a política de condicionamento industrial salazarista lhe retirou grande parte do mérito que lhe seria devido.

-Por ser uma figura longínqua no tempo, face aos "jovens" que lhe sucederam.

O primeiro motivo é desmentido pela sua biografia, pois ele criou o seu império muito antes da subida à chefia do governo de Oliveira Salazar. O segundo motivo talvez explique em parte a omissão, no entanto esta regra não se aplicou ao seu contemporâneo Alves dos Reis, famoso burlão que Alfredo da Silva desmascarou através das páginas do "Século".

Alfredo da Silva é oriundo de uma família pequeno-burguesa, com estabelecimentos comerciais na baixa pombalina. Muito cedo ficou orfão de pai, passando o seu tio paterno, Alexandre, a constituir a sua maior referência. No entanto, o jovem Alfredo desde cedo mostrou que iria quebrar essa regra de família. Tinha ambições que não cabiam nas “gaiolas” pombalinas e o facto de ter herdado algumas participações em empresas, constituiu a sua oportunidade de se emancipar. Ainda estudante, começou a participar nas assembleias gerais de accionistas das empresas onde detinha acções. O seu estilo desafiador, contestatário, polémico e por vezes de uma grande agressividade, veio contrastar com a solenidade habitual nestas reuniões, grangeando-lhe alguns ódios de estimação. Na sua primeira intervenção, após “arrasar” com os administradores do banco, ameaçou à bengalada quem o impedia de usar da palavra, tendo sido expulso da sala. Com esta postura, este jovem arrivista foi visto com grande desconfiança pelas elites estabelecidas. Não obstante, foi concitando apoios até chegar a director do banco. Para além do banco, Alfredo da Silva também desempenhou cargos de relevância na Carris, onde teve por missão estudar as formas alternativas à tracção animal . Seria Alfredo da Silva o director da Carris quando, em 1901, são introduzidos os eléctricos. Embora pereçam experiências diferentes, foi através da participação nestas duas empresas que a sua vida empresarial haveria de tomar forma. O Banco Lusitano abriu-lhe as portas da CAF – Companhia Aliança Fabril. A Carris, através de Henry Burnay , haveria de lhe abrir as portas do seu grande projecto – a CUF.

A CAF era uma empresa química situada no baluarte de Alcântara, com créditos malparados junto do Banco Lusitano. Depressa essa dívida se converteu numa participação no capital da empresa até ao seu controle, sob a égide de Alfredo da Silva. A empresa expandiu-se, através da construção de uma nova fábrica na Av. 24 de Julho (fábrica Sol), mas Alfredo da Silva sonhava com uma fusão com a arqui-rival CUF, de Henry Burnay, cuja fábrica também se situava em Alcântara. Burnay, que o conhecia na condição de accionista na Carris, mostrou receptividade à ideia de fusão, que se haveria de concretizar em 1898.

Depressa Alcântara começou a ser insuficiente para o volume de produção previsto com a entrada na indústria dos adubos, aproveitando os incentivo concedidos pelo ministério progressista de José Luciano de Castro – a chamada “Lei da Fome”. A aposta recaiu na construção de uma unidade de média dimensão em Alferrarede e a construção de um colosso industrial que haveria de mudar a face de uma pequena vila piscatória na margem direita do Tejo: o Barreiro.

Antes da inauguração do complexo do Barreiro, Alfredo da Silva teve a primeira das três participações políticas da sua vida. Foi em 1906 quando apoiou o “dissidente” João Franco no seu novo partido: o Regenerador Liberal.

Foi também o primeiro momento em que o industrial viu a sua vida em perigo. O episódio ocorreu na inauguração da sede do Partido Regenerador Liberal no “republicaníssimo” bairro de Alcântara. O Rei D. Carlos costumava contar, em jeito de blague, que “era o único monárquico na freguesia de Alcântara (o Rei residia no Palácio das Necessidades). A inauguração da sede foi ensombrada pelo protesto “organizado” e violento, que obrigou Alfredo da Silva a usar da sua arma para evitar o linchamento de João Franco e de si próprio. A segunda participação política foi durante o sidonismo e a terceira junto da câmara corporativa de Salazar (que o ajudou a salvar a Casa Totta da falência).

A actividade como político foi sempre subsidiária da sua condição de empresário.A sua participação política teve sempre por base o lobbyng, e na sua convicção da importância da participação das corporações industriais nas decisões estruturantes para o país. Foi esta mensagem que ele “bebeu” em João franco, que se propunha renovar um sistema partidário que ia apodrecendo no rotativismo entre regeneradores e progressistas. Na demagogia proto-fascista de Sidónio viu uma salvação para o descalabro da 1ªRepública. Em Salazar viu um regime com que sempre sonhou: proteccionista, defensor da ordem e facilitador da vida dos empresário (os benquistos evidentemente).

Quando chegou a República, o Barreiro funcionava em pleno. Alferrarede também se tinha mostrado uma boa aposta. Foi a primavera da sua vida empresarial.

publicado por Rui Romão às 12:26
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