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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2013

A Sardinha e o Salmonete

Quando Portugal escreveu a mais gloriosa página da sua História – a chegada à Índia por via marítima e a descoberta do Brasil – estava no trono o Rei D. Manuel I, cognominado de “O Venturoso”. No fundo este epíteto resume aquilo que ainda hoje se pensa que foi o seu reinado. Teve ventura, ou, numa linguagem mais corrente, muita sorte. Assim se explica que na Exposição Universal de 1998, os grandes homenageados tenham sido o Infante D. Henrique e D. João II, este último dando nome à principal avenida onde decorreu o certame.

Será justo este juízo? Confesso que já pensei que sim, mas hoje em dia tenho mais dúvidas. As minhas dúvidas fundam-se na análise do contexto em que D. Manuel recebe a coroa, muito a contragosto, diga-se, do seu antecessor – o implacável D. João II.  

Ao Príncipe Perfeito devemos um legado notável na construção de um projecto para Portugal. Sucedendo ao seu pai - o pusilânime D. Afonso V - viu na chegada marítima à Índia a chave para resolver o problema crónico da fazenda pública (este problema vem de longe).

Ao contrário do que por vezes se diz, as especiarias já chegavam à Europa muito antes dos portugueses abrirem a Rota do Cabo. Eram levadas pelo Mar Vermelho ou pelo Golfo Pérsico em navios turcos e depois o trajecto até as costas do Mediterrâneo era feito por terra em caravanas de mouros, que depois as vendiam a navegadores florentinos, genoveses ou venezianos que as transportavam para a Europa pelo Mediterrâneo. Com tantos intermediários, estes produtos - muito apreciados e valiosos – chegavam caríssimos à Europa.  

D. João II teve a ideia de aproveitar os avanços na exploração da costa Africana – obra do seu tio-avô, o Infante D. Henrique – para chegar à India, contornando África e assim dominando este lucrativo negócio. Sem intermediários nem portagens, estavam garantidas boas margens para o nosso país no comércio com os principais entrepostos da Europa.

Este plano efectivou-se e D. João II só não o pôde ver concretizado porque morreu, em circunstâncias muito estranhas, em 1495, quando contava apenas 40 anos. Desconfia-se que tenha sido envenenado, o que não admira pela brutalidade com que D. João II conduziu os negócios do Estado, movendo uma guerra sem quartel contra os fidalgos, muito prodigalizados no reinado do seu pai. Recordemo-nos que D. João II sentenciou o Duque de Bragança – confiscando-lhe o ducado – e matou (talvez pelas próprias mãos) o seu primo e cunhado – D. Diogo Duque de Beja. O rol não se fica por aqui, que o digam o Bispo de Évora, ou um pobre coitado que olhou em demasia para a sua irmã – a Princesa Santa Joana.

Foi neste ambiente crispado, de forte tensão, entre o povo que amava D. João II e os fidalgos que o apelidavam de tirano, que D. Manuel herda o trono.

Neste contexto o Rei podia escolher apoiar-se mais nos fidalgos, que foram os grandes “advogados” da sua realeza, em detrimento de um reinado mais popular. No entanto, não foi isso que fez. Teve antes, a atitude inteligente de promover o equilíbrio e a união entre os portugueses. Vários são os exemplos dessa política de bom senso.

Restaurou a Casa de Bragança mas recompensou D. Vasco Coutinho, a quem D. João II tinha dado a vila de Borba (que pertencera à casa brigantina) concedendo-lhe a Vila de Redondo. Com a agravante de ter sido este mesmo Vasco Coutinho o delator do plano de regicídio de D. João II, e como tal, responsável pela morte seu irmão, D. Diogo, Duque de Beja.

Dom Manuel tentou satisfazer o pedido de Vasco da Gama, de lhe ser dado o título de Conde de Sines, como recompensa pela chegada à Índia. Sucede que Sines pertencia à Ordem de Santiago, cujo Grão-Mestre era D. Jorge, filho bastardo de D. João II, e seu rival na sucessão de D. João II, que muito se esforçou para que fosse o filho a suceder-lhe. Acabou por lhe dar a Vila da Vidigueira, não hostilizando o bastardo.

A própria empreitada da armada da Índia, confiada a Vasco da Gama, poderá ter sido ainda uma escolha de D. João II, porque o Almirante era filho do alcaide-mor de Sines, que, por conseguinte, dependia da ordem de Santiago. Afonso de Albuquerque, o grande Vizo-Rei da Índia, era também próximo de D. João II, fazendo parte do seu grupo de Ginetes (Guarda-Costas, na linguagem actual). Isso não o impediu de prestar grandes serviços à coroa de D. Manuel.

D. João II usava como metáfora que as nações eram como os mares, onde existiam muitas espécies de peixes. A sardinha que abundava, era boa e barata. E o salmonete que era também bom, mas era escasso e caro. D. João II era pela sardinha. D. Manuel não foi nem pela sardinha nem pelo salmonete. Foi um Rei de todos os portugueses, e por conseguir essa união entre todos os estratos da sociedade é que nós fomos tão grandes.

Grande lição para o século XXI.  

publicado por Rui Romão às 08:25
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Quarta-feira, 18 de Julho de 2012

A Política Conciliadora de Dom Manuel I

 

 

Não conheço muitos detractores do Rei “Venturoso”. A bem dizer, só conheço um, ou melhor dizendo, uma: a historiadora Fina D’Armada, cuja obra obra é notável, sobretudo no estudo do papel das mulheres na epopeia dos descobrimentos, mas que aparentemente não consegue abordar as desgraças que sucederam ao Príncipe Perfeito sem culpar D. Manuel, inclusivamente o desastre de cavalo do Príncipe D. Afonso na Ribeira de Santarém!

Eu não me posso considerar um detractor de D. Manuel, mas também não me considero um deslumbrado pelo seu reinado. Já o escrevi que a este monarca bem se pode aplicar a máxima de Newton “se pude ver mais longe foi porque me pus aos ombros de gigantes”, sendo este gigante o Rei D. João II. Os gloriosos feitos do seu reinado foram todos projectados pelo seu antecessor. A chegada à Índia e ao Brasil foram obra do “Principe Perfeito” que apenas teve a infelicidade de morrer antes de ver o seu sonho concretizado. Vasco da Gama chega à Índia em 1498, apenas 3 anos depois da morte do monarca, não deixando de ser estranho que tenha sido um filho de um governador que estava ao serviço da Ordem de Santiago, cujo Grão-Mestre era o rival de D. Manuel a aceder ao trono, D. Jorge, a executar a façanha. A hipótese que defendo é que o nome terá sido escolhido ainda por D. João II, e que D. Manuel, inteligentemente, não alterou.

É este o mote para falar daquela que foi, na minha opinião, a grande proeza do “Venturoso”. Este Rei soube fazer a charneira entre duas facções que se confrontaram brutalmente nos dois anteriores reinados – as classes senhoriais e os concelhos; i.e. nobreza e clero por um lado e povo por outro.

Esta tensão social já existia desde o começo da nacionalidade, originando disputas violentas, como foram as guerras das infantas com D. Afonso II, a guerra civil entre D. Sancho II e D. Afonso III, e de certo modo entre D. Dinis e D. Afonso IV. D. Manuel chega ao trono, desafiando a teoria da probabilidade, tendo que lidar com um problema criado dois reinados antes, i.e. com D. Afonso V. O “Africano” foi completamente manietado pelas classes priviligiadas, numa onda prodigalizadora que varreu o reino, com claro prejuízo da nação. D. João II sucede a seu pai em 1481 e inicia imediatamente uma resposta brutal para pôr fim a esses abusos, que levou, por exemplo, à extinção da Casa de Bragança, cujo Duque era seu cunhado,à morte do Duque de Viseu (também seu cunhado) do Bispo de Évora, do Alcaíde-Mor de Sesimbra, entre outros.

Numa lógica sequencial, podíamos pensar que D. Manuel, que foi apoiado pelos grandes senhores, começando pela sua irmã, a rainha D.ª Leonor, na luta pela conquista do trono, opondo-se a D. Jorge, representasse o regresso à hegemonia dos nobres. Puro engano. O reinado de D. Manuel não foi uma revanche à política centralizadora de D. João II, mas também não foi um reinado “popular”. Foi uma síntese de ambos, numa atitude clarividente de tentar manter a unidade possível entre as várias classes sociais. Não faltam exemplos dessa política hábil. Para além da nomeação de Vasco da Gama para comandar a armada da Índia, o próprio Afonso de Albuquerque, que era um dos temíveis ginetes de D. João II, foi um grande Vizo-Rei da Índia, também nomeado pelo “Venturoso”.

D. Manuel restaurou a casa de Bragança mas teve a preocupação de manter intocáveis as doações feitas pelo seu antecessor. No caso da casa brigantina, com a sua extinção, D. João II deu Borba, que pertencia a esta casa, a D. Vasco Coutinho, irmão do Alcaide-Mor de Sesimbra e denunciante do atentado que estava em marcha contra D. João II. D. Manuel teve em conta esta doacção, mesmo sendo Vasco Coutinho o responsável pela morte do seu irmão, Dom Diogo, Duque de Viseu, num episódio que já referi em posts anteriores.

Como D. Manuel queria manter intacta a casa de Bragança, deu a D. Vasco a vila do Redondo, por troca com Borba, e assim nasceram os Condes de Redondo. Esta intervenção foi anos mais tarde retribuída pelo então Duque de Bragança, o desiquilibrado D. Jaime, 4º Duque de Bragança, que deu a D. Manuel a Vila da Vidigueira, para que ele pudesse pagar a Vasco da Gama os serviços prestados, depois de lhe ter prometido Sines, a sua terra natal, mas que não pôde concretizar porque esta era pertença da Ordem de Santiago.

Mais do que um rei de epopeia, D. Manuel foi um homem com um elevado sentido de justiça que conseguiu pacificar a sociedade portuguesa, ensaguentada por um confonto de classes que tinha recrudescido nos reinados anteriores, possibilitando a nossa grandeza. Quando os portugueses remam todos para o mesmo lado, mesmo sendo um povo pouco numeroso, até conseguem ser senhores do mundo. Se tivessemos aprendido esta lição de D. Manuel, hoje estaríamos numa situação bem diferente.

publicado por Rui Romão às 16:22
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Sexta-feira, 1 de Junho de 2012

Biografias

Almada Negreiros escreveu um dia que o ano mais feliz da sua vida seria 1993, ano em que o país inteiro comemoraria o centenário do seu nascimento. A previsão revelou-se pouco acertada, passando a efeméride bem despercebida na sociedade portuguesa. O mesmo não poderia dizer o seu amigo Fernando Pessoa, que embora nunca o tenha dito taxativamente, não terá duvidado da sua glória póstuma. Em 1986 foi transladado para os Jerónimos e em 1988, ano do seu centenário, o país rendeu-lhe uma enorme homenagem. Já um dia escrevi sobre este assunto, atrevendo-me a alvitrar que nem nos melhores sonhos Pessoa poderia antever a dimensão que atingiria a sua obra (apesar de este não ser modesto), e que essa glória, no seu zénite, pudesse ser testemunhada pela sua única amada, Ofélia Queiroz.

Estes dois exemplos ilustram bem a dificuldade em fazer projecções a longo prazo sobre a forma como a obra será valorizada pelas próximas gerações. Conhecem-se inclusivamente casos clássicos de obras que nos chegaram até hoje, porque não foi cumprida a vontade dos seus autores. Os casos clássicos são o de Virgílio, que pediu que destruíssem a sua “Eneida”, ou de Franz Kafka, que também quis que a sua obra, onde se destacam obras-primas como “O Processo”, não sobrevivessem à sua passagem pelo mundo. Em ambos os casos, a vontade dos autores não foi respeitada e a humanidade ficou a ganhar, embora também se tenha que avaliar esta questão no plano ético.

No caso português, Santa-Rita Pintor, na hora da morte (bastante prematura, diga-se) pediu para que destruíssem todos os seus quadros, porque entendia que o seu talento não tinha tido tradução na qualidade da sua obra. A vontade foi cumprida e hoje aquele que foi o introdutor do futurismo na pintura portuguesa está completamente esquecido.

Se não podemos fazer um balanço do que foi a nossa vida na hora da morte, também não podemos traçar o destino de ninguém na hora do seu nascimento. São inúmeros os exemplos que desafiam esta lógica. Na grande epopeia dos descobrimentos, os dois protagonistas desta empresa, Vasco da Gama e Dom Manuel, são heróis completamente improváveis.

Vasco da Gama era filho 2º do Alcaide Mor de Sines. Imagine-se, um filho segundo de um alcaide, que dependia da Ordem de Santiago, cujo mestre era o grande rival do Rei Dom Manuel - por ser filho do seu antecessor, embora a bastardia lhe tenha impedido de aceder ao trono. Como é que o filho cadete de um alcaide que estava na dependência da Ordem de Santiago, cujo Mestre era Dom Jorge, ostracizado por Dom Manuel, vai chefiar uma armada da Ordem de Cristo, cujo mestre era o próprio Rei? O facto de ter sido Vasco da Gama e não o seu irmão mais velho, Paulo da Gama, pode dever-se à saúde débil deste último – que viria, de resto, a falecer no regresso da viagem da Índia. No entanto, a resposta para a questão de fundo repousa, na minha opinião, no tacto político de Dom Manuel, de que deu inúmeras provas no seu reinado, ao não pôr de parte os homens de confiança de Dom João II . Afonso de Albuquerque, que era um dos Ginetes de Dom João II, veio a ser Vice- Rei da Índia, é outro bom exemplo desta política.

Dom Manuel foi Rei ao arrepio de todas as probabilidades. Ele era o 8º filho(!) de um infante. Como vigorava a lei sálica, poderia subir alguns lugares na linha de sucessão por ser homem. No entanto, ele tinha, nada mais, nada menos, do que cinco irmãos mais velhos.

Filho do infante Dom Fernando, sobrinho e herdeiro do Infante Dom Henrique, e de Dona Beatriz, também sobrinha do Infante, era cunhado de Dom João II, que casou com a sua irmã, Dona Leonor. Viu o seu irmão mais velho, Dom Diogo, ser morto às mãos do Rei, por estar a planear um golpe para o eliminar. Foi este facto, associado à morte do sobrinho, Dom Afonso, à não legitimação do Mestre de Santiago, e à morte natural dos seus irmãos mais velhos, que o levou ao trono.

Em suma, a História não se escreve nem quando nascemos nem quando morremos mas pelo que alcançamos neste hiato. Eça escreveu um dia que ele não tinha história, era como a República de Andorra. Enganou-se. Ele foi grande e por isso ficou na História. E neste grupo restrito só ficam os que conseguem deixar um legado importante para os vindouros. É esta a mensagem que eu gostaria de deixar ao Vasco, um dia que ele leia estas linhas.

publicado por Rui Romão às 08:40
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Terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012

Vasco da Gama e Sines

Por estes dias estive na Costa Vicentina. Assim designada por ter sido palco da transladação das relíquias de São Vicente para a Sé da Lisboa, para este mártir da cristandade se tornar padroeiro da cidade conquistada há pouco pelo nosso primeiro Rei. É evidente que é mais do que duvidoso que as relíquias efectivamente fossem as de São Vicente, mas mesmo assim foi um marco importante da nossa independência, como afirmação da nossa identidade, desligando-nos da tradição compostelense, que então era a sede espiritual da reconquista cristã. Desde então, este santo tornou-se padroeiro de Lisboa, e ainda hoje o é, embora tenha que conviver com a "sombra" de Santo António, muito mais entranhado na alma popular.

No entanto, este passeio pelo Alentejo atlântico trouxe-me à memória Vasco da Gama. Estava em Sines, sua terra Natal, quando imaginei as peripécias que rodearam a sua nobilitação à categoria de Conde. O capitão da armada da Índia nasceu em Sines, onde seu pai era Alcaide-mor desta Vila. Vasco da Gama era filho segundo, pelo que desde cedo se apercebeu que esta condição seria um entrave à sua ambição, que não deve ter sido pequena. Ainda hoje se discute o porquê de D.Manuel o ter nomeado para tão importante missão, tanto mais que ele não teria mais de 30 anos aquando da sua partida para a Índia e não tinha qualquer registo de méritos de armas. Evidentemente que não se coloca em questão o domínio de técnicas de navegação ou de leitura de mapas, uma vez que ele não era um navegador, no sentido que hoje atribuímos ao termo. Ele era um político, que tinha como missão manter a ordem a bordo e liderar uma tripulação bastante heteróclita que, diga-se, nunca foi missão fácil. Na sua armada iam homens muito mais experientes, como o próprio Bartolomeu Dias, para além de pilotos muito conhecedores da costa africana, como Nicolau Coelho.

Depois de ter descoberto o caminho marítimo para a Índia, D. Manuel prometeu faze-lo Conde de Sines. Sublinhe-se que, naquele tempo, os títulos não eram meramente honoríficos, como no século XIX em que os titulados eram condes, marqueses ou duques, mas não eram donos das terras. No século XVI essa situação era muito diferente. Ser conde de uma localidade significava ser dono da terra, com poder para cobrar impostos e com tal, quanto mais importante fosse o local, maior era a riqueza que se podia acumular. É por isso compreensível que ser Conde de Sines, então uma vila fortificada, era muito aliciante, tanto mais que o seu pai tinha sido alcaide da vila. Contudo, aconteceu a D. Manuel o mesmo que a Dom Afonso Henriques quando quis dar Santarém aos Templários: aperceberam-se que não podiam dar o que não era deles, ou seja o que já tinha dono. Se Santarém já era do Bispo de Lisboa (e por esse motivo os Templários foram parar a Tomar), Sines já era da Ordem de Santiago, cujo Mestre da Ordem era o célebre filho bastardo de D. João II - D. Jorge - que era o preferido do pai para lhe suceder, em vez de D. Manuel. 

Por este motivo o "Venturoso" teve que arranjar outra solução, que passou pela compra ao Duque de Bragança - D. Jaime - de uma pequena localidade - a Vidigueira -   para doa-la a Vasco da Gama. O processo não deve ter sido complicado, pelo facto de a Casa de Bragança ter sido extinta pelo "Príncipe Perfeito" e depois restaurada por D. Manuel. Essa dívida de gratidão que D. Jaime tinha por D. Manuel foi, certamente, importante para ceder essa localidade,  fazendo de Vasco da Gama, Conde da Vidigueira. 

Resumindo: D. Vasco foi feito Conde por D. Manuel, nas terras de D. Jaime. Foi este o pensamento que me surgiu quando estava tranquilamente a jantar no restaurante "Migas" em Sines. 

publicado por Rui Romão às 08:21
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Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009

Um Palmo de Terra Para Nascer, Um Mundo Inteiro Para Morrer

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Em 1998 celebraram-se os 500 anos da chegada da armada de Vasco da Gama à Índia. Acontecimento ímpar na História da humanidade, teve direito a uma magnífica exposição a que nenhum português ficou indiferente. No entanto, por paradoxal que seja, no meio do turbilhão que foi a Expo 98 pouco se falou desta epopeia e das suas implicações para a civilização que hoje conhecemos. Infelizmente, perdeu-se uma oportunidade ímpar para se dar a conhecer a missão civilizadora dos portugueses, que substitua de vez os tristes clichés que aprendemos na escola e sobre os quais não se discute, como se fossem vacas sagradas.

São esses dogmas que em vez de nos enriquecerem nos empobrecem, impedindo que vejamos para além das consequências materiais dos descobrimentos.

Comecemos pelo papel do Infante D. Henrique. Pessoalmente, considero que a sua figura está muito sobrevalorizada na historiografia actual, chegando ao ponto de se inventar uma escola (a famosa Escola de Sagres) que na realidade nunca existiu. O seu papel na exploração da costa africana só se verificou quando estas começaram a ser lucrativas, o que apenas sucede com a colonização da Madeira (e não descoberta como incorrectamente vem nos manuais) e o tráfico de escravos das costas africanas para trabalhar nas plantações de cana-de-açucar. Até então, o Infante dedicava-se à "gestão" da sua frota de corso, que equivale a dizer à pirataria de Estado. Não foi o único, o seu irmão, o Infante D. Pedro, cujo papel na exploração da costa africana é no mínimo tão importante como a do Infante de Sagres, também tinha a sua frota particular que se movimentava no Mediterrâneo.

Com isto não desvalorizo o papel das descobertas henriquinas, mas terão que ser relativizadas. Quando o Infante morreu, em 1460, o limite da exploração da costa africana estava na Serra Leoa (viagem de Pero de Sintra), ou seja ainda não tinha sido explorada metade da costa africana pelo lado do Atlântico.

O verdadeiro impulso foi dado pelo Príncipe Perfeito, homem superior, muito à frente do seu tempo, e cujo vigor foi decisivo para atingirmos o marco da passagem do antigo Cabo das Tormentas, baptizado da Boa Esperança por D. João II, com a viagem de Bartolomeu Dias de 1484.

A própria descoberta do Brasil, não a oficial mas a efectiva, ter-se-á realizado no reinado de D. João II. Provavelmente sob o comando de Duarte Pacheco Pereira, o "Aquiles Lusitano" nas palavras de Camões e um dos portugueses mais esquecidos e injustiçados pelos ventos da história,  chegámos à costa do novo mundo. Esta descoberta não foi porventura oficializada porque faltava assinar o tratado que consagrasse à luz do direito internacional este novo território como possessão portuguesa. Este acordo apenas foi conseguido através do tratado de Tordesilhas, que substitui o tratado de Alcáçovas, e no qual ficou acordada uma latitude que colocava o Brasil na esfera portuguesa. 

No entanto, mesmo não sabendo deste antecedente, seria plausível que a armada de Pedro Álvares Cabral percorresse aquela rota para chegar à Índia (mesmo sabendo que a navegação era feita longe da costa por questões de segurança e para aproveitar os ventos alíseos) e que depois de tamanha "descoberta" seguisse em direcção à Índia via rota do cabo, como se nada de significativo tivesse ocorrido? É óbvio que se tratou de uma viagem de soberania porque a descoberta estava feita, sendo apenas necessário chegar primeiro do que os Espanhois para que o Tratado de Tordesilhas não fosse obnubilado pelo poder normativo dos factos.

Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e sobretudo D. Manuel tiveram o seu mérito, mas sobretudo um legado imenso. Como disse Isaac Newton,  "If I have seen further it is by standing on the shoulders of giants". D. Manuel teve a ventura de suceder a este Homem e de colher os louros que lhe eram devidos em vida.

No entanto, na minha opinião, existe quem mereça mais do que D. João II a coroa de glória por esse marco indelével da civilização. Refiro-me ao Povo português, que foi quem suportando privações que vão para além da capacidade humana, deu novos mundos ao mundo, aventurou-se por caminhos que jamais alguém ousara, não vacilando perante os enormes obstáculos que teve de vencer. É este heroi colectivo que Fernão Lopes não se cansou de exaltar e a quem eu presto a minha homenagem e o meu orgulho confesso por descender de tão notável gente.

Foi este povo que deu sentido à célebre frase do padre António Vieira " um palmo de terra para nascer, um mundo inteiro para morrer".

Bem hajam

                                                                               

publicado por Rui Romão às 08:22
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