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A Espanha que hoje conhecemos nasceu da união de dois reinos desta velha península, Castela e Aragão, selada através do casamento de Isabel de Castela e Fernando II de Aragão. Ficaram conhecidos na história como os "Reis Católicos" e foram o pilar da construção da Grande Espanha, um projecto consciente e que incluia o então Reino de Portugal.
Entrando pelo terreno pantanoso da história alternativa, é lícito especular que o curso dos acontecimentos poderia ter sido bem diferente, até porque a Infanta Isabel não seria a herdeira do trono, mas sim a Princesa Joana, filha de Henrique IV e de Joana de Portugal.
Porque motivo o trono foi entregue à Infanta Isabel, em detrimento da Princesa, filha dos Reis? O motivo é simples. O Rei Henrique IV era conhecido como o "Impotente" e como tal, quando nasceu a Princesa Joana, depressa circulou o rumor que a criança não seria filha do Rei, mas sim de um fidalgo, supostamente o favorito da Raínha, de seu nome Beltrão de La Cueva. Foi com o epíteto de "Beltraneja" que a pobre menina passou à história.
Existem versões contraditórias quanto ao testamento de Henrique IV. Alguns historiadores defendem que ele designou a filha para lhe suceder, outras fontes referem que escolheu a irmã, contudo nenhuma é conclusiva.
Quando o Rei morre, os nobres castelhanos, com um golpe palaciano, colocam no trono a Infanta Isabel. D. Afonso V decide intervir em prol da defesa dos direitos de sua sobrinha.
Viúvo de D. Isabel, filha do seu tio, o Infante D. Pedro, o das "sete partidas do mundo", com o qual se confrontou e venceu em Alfarrobeira, o monarca português reclama os seus direitos ao trono de Castela, reforçado pelo casamento com a sua sobrinha (que nunca foi reconhecido pelo Papa, supostamente pelo grau de parentesco).
Não conseguindo vencer no campo diplomático, D. Afonso V escolheu a via militar, numa batalha de má memória para as hostes portuguesas. O combate dá-se na região de Toro, nome pelo qual ficou conhecida a batalha. No lado português encontrava-se o então Príncipe D. João, futuro D. João II, tendo inclusivamente surgido a lenda de que a "ala"entregue ao Príncipe teria sido inexpugnável, o que me parece bastante improvável.
Perdida a batalha no campo militar, D. Afonso V parte para França, em procura do apoio de Luis XI, tendo este, após tergiversar, recusado ajuda ao monarca português. Desiludido com o mundo, entrega o trono a seu fiho e decide ir em peregrinação para a Terra Santa, viagem que não chega a realizar. Regressado a Portugal, reassume o trono, pelo menos formalmente, uma vez que o Príncipe cada vez mais assumia a chefia dos destinos do país.
Esta tese de que Espanha nasceu da impotência de um Rei, não deixa de ser um pouco jocosa. Trata-se de uma pequena farpa, ao estilo de Eça e Ramalho, mas que não deixa de ser um motivo de reflexão acerca dos pequenos condicionalismos que, embora não parecendo à primeira vista, podem adquirir repercussões gigantescas.
Isto não significa que caso D. Joana fosse Raínha a Espanha não existiria hoje, ou mesmo, quem sabe, sob coroa portuguesa. Quis o destino que tal nunca se concretizasse. A primeira oportunidade sucede com a morte de D. Afonso, filho de D. João II, numa queda de cavalo. D. Afonso era casado com D. Isabel, filha dos Reis Católicos e sucessora do trono, pelo que o Príncipe se tornaria simultaneamente Rei de Portugal, Leão e Castela. Com a morte de D. Afonso, D. Isabel casa-se com D. Manuel, que sucedeu a D. João II, do qual daria à luz um menino, Miguel da Paz, jurado herdeiro de todas as coroas peninsulares. Quis novamente o infortúnio que o menino morresse quando contava apenas 2 anos de idade. Nova oportunidade viria três séculos mais tarde, quando D. Isabel II foi obrigada a abdicar e o trono foi "oferecido" a D. Fernando II, que não sendo português era Rei Consorte de Portugal. Diz a História que recusou em nome da independência de Portugal, teoria que não me convence. Embora acreditando na bondade e no amor genuíno que nutria pela sua pátria de adopção, creio que D. Fernando se apercebeu que a França nunca permitiria mais um alemão num trono europeu.
Termino, como se tem tornado hábito, com uma nota de humor, até porque a História não tem que ser entendida como algo de aborrecido. Voltando aos Reis católicos, conta-se que a Raínha não nutria uma grande simpatia pelo embaixador português, um janota, de traje elegante, conhecido pela sua valentia e pelo seu sucesso na arte de cortejar.
Numa corrida de touros, mandou dizer ao embaixador, que se encontrava num palanque, que fosse privar com os reis numa casa onde se encontravam alojados, do outro lado da praça. Com este recado manda outro, dando ordens para que soltassem o touro mais bravo que existisse quando o embaixador estivesse a atravessar a praça. As pessoas recolheram-se aos palanques, e D. João de Sousa ficou sozinho na praça para enfrentar a fera. Despindo o capuz, atirou-o ao touro e, desembainhando a espada, num só golpe cortou a cabeça do touro. Depois de limpar a espada no corpo prostrado do animal, tomou o capuz e sem perder a pose dirigiu-se calmamente a D. Isabel.
- "Boa sorte fizestes embaixador", disse-lhe a Raínha.
E ele repondeu-lhe:
-" Qualquer português faria o mesmo!"
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