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No dia em que escrevo este post, joga-se o primeiro jogo do europeu de futebol da Austria e Suiça de 2008. De dois em dois anos, as grandes competições de futebol conseguem anestesiar o cidadão comum dos seus problemas quotidianos, numa proporção que pode oscilar entre a catarse e a completa alienação.
Esses problemas, quando têm origem numa situação estrutural, são habitualmente apelidados de crises. Palavra malquista, as crises têm uma conotação negativa, como uma doença social que nos afecta e que ninguém consegue encontrar o caminho para uma saída rápida. Confesso que a minha opinião acerca das crises diverge muito do "mainstream". Não entendo a crise com algo negativo. Bem pelo contrário, creio que se não existissem crises a sociedade já não existiria. A justificação para esta ideia, que poderá parecer um pouco absurda, encontra-se nos motivos que dão origem às crises.
Socorrendo-me novamente da analogia com o corpo humano, tal como os seres humanos, em que os sintomas de doença levam o doente a agir para a debelar, nas sociedades humanas se não sentissemos as crises nunca iríamos, espontanemante, efectuar as correções estruturais que se impõem. As crises, nomeadamente as de cariz económico, resultam de um desajustamento estrutural da sociedade face a uma realidade emergente. A actual conjuntura económica fornece-nos um bom exemplo.Se não sentíssemos os efeitos do preço do petróleo, continuaríamos a negligenciar fontes de energia alternativas aos fosseis, e a prova disso é o parco investimento em energias renováveis quando o barril de brent, ainda há poucos anos, andava na casa dos 25 Dólares.
A crise cerealífera também é um reflexo do défice de produção, face ao aumento da procura nos paises emergentes. Como os efeitos macro-económicos só conseguem ser isolados nos manuais de economia (o mito do ceteris paribus), a eclosão asiática que teve como consequência positiva o aumento da oferta a mais baixo preço (que os consumidores ocidentais agradeceram) trouxe por outro lado uma pressão enorme sobre a procura de petróleo e de bens alimentares. Ou seja, o que poupamos com a compra de produtos chineses gastamos, com juros, na estação de serviço e no supermercado.
A situação do dólar, enfraquecido pelo chamado duplo défice (o orçamental e o da balança de transacções), coloca igualmente uma tónica inflaccionista sobre os mercados, porquanto que as trocas comerciais se efectuam na divisa americana e se esta se desvaloriza, os mercados reagem ao nível do preço para corrigir este desajustamento.
Relativamente ao petróleo, é um lugar comum acusar a OPEP, cartel constituído pelos maiores produtores, de inflaccionar os preços através do estrangulamento da oferta. No entanto, convém recordar que a OPEP nasceu da necessidade dos países produtores de fazerem valer os seus direitos face ao cartel constituído pelas maiores empresas petrolíferas, que dominavam o mercado e pagavam um preço muito abaixo do preço natural decorrente do "encontro" entre a oferta e a procura.
A consciencialização para a importância do petróleo como instrumento político ganhou outro significado após a II Guerra Mundial, com as diversas crises petrolíferas, todas elas originadas por problemas políticos em paises produtores, envolvendo luta armada.
Em 1956 foi a crise do canal do Suez envolvendo o Egipto por um lado e o Reino Unido e a França por outro. Com o embargo dos países árabes ao fornecimento de petróleo decorrente da intervenção militar Anglo-francesa, o mundo apercebeu-se do enorme poder que os produtores de petróleo tinham na economia mundial.
Em 1973, novo conflito neste caso o Israelo-palestiniano, na sequência da chamada "batalha de Outubro", com uma reacção muito semelhante por parte dos produtores árabes.
Em 1979 foi a revolução dos Ayatholas que gerou um situação de crise profunda, ou não fosse o Irão um dos paises mais ricos no chamado "ouro negro".
Outras crises poderiam ser identificadas: 1967 (Guerra dos seis Dias); 1991 (Guerra do Golfo); 2002 (greve geral venezuelana); 2003 (Invasão do Iraque); no entanto, à excepção do caso venezuelano, os contornos das crises e as suas consequências obedecem ao mesmo padrão.
Não deixa de ser um reflexo de uma das principais leis da economia: os recursos são limitados, e como tal sempre existiram e continuarão a existir disputas pelos mesmos bens. É por este motivo que as sociedades humanas, ao longo da História, sempre estiveram em guerra e o futuro não será decerto diferente. É uma matéria de Economia pura.
Como resolver todos estes problemas? A História mostra-nos que haveremos de superar todos os obstáculos, conquanto que nos saibamos adaptar aos novos condicionalismos que o ambiente social nos impõe. Recusemos então estas opiniões apocalípticas e tenhamos a proactividade de antecipar ou pelo menos superar esta desadequação conjuntural momentânea.
Nestes casos de crise, duas posições se extremam, correspondente à clássica divisão entre direita e esquerda. A esquerda geralmente têm uma posição mais intervencionista, com base no subsídio, ou seja no financiamento da ineficiência, como uma espécie de analgésico que nos aliena da real implicação dos seus efeitos.
Por seu turno, a direita aposta mais na velha máxima do "laissez faire", com muito menor tendênca para intervencionismo, e antes para que se sintam as "dores" de crescimento que nos levem a fazer algo para, por nós próprios, saírmos desta situação.
Qual destas posturas está correcta? Nenhuma, ou antes, estão as duas, consoante a tendência ideológica com a qual mais nos identificamos, no entanto eu prefiro a proactividade da direita e o assistencialismo (aos mais desfavorecidos, entenda-se) da esquerda.
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