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Quando falamos de Povo, podemos referir-nos a coisas bem diferentes, consoante a perspectiva que se perfilhe. Num sentido jurídico, enquanto elemento do Estado, em sentido político, enquanto Nação (e Portugal é dos poucos casos de Estado-Nação no mundo), em sentido cultural, enquanto comunidade histórica e, finalmente, numa perspectiva social referindo-se à divisão classista da sociedade, onde povo se situa num plano inferior.
Confesso que o Povo enquanto Nação, ou seja enquanto comunidade cultural, é aquela que mais aprecio, por se tratar de uma perspectiva inter-classista e baseada naquilo que nos une, ao invés daquilo que nos separa. Esta noção comporta, no entanto, uma dimensão jurídica e política, como elemento do Estado, para além do Território e do Poder Político. A diferença é que o Povo poderá não corresponder a uma Nação, existindo mesmo nações que estão divididas entre diversos Estados. A África, desenhada a régua e esquadro após a conferência de Berlim, é um exemplo paradigmático de ambas as situações.
Sendo Portugal um Estado-Nação, curiosamente isso não se sente no dia a dia. Quando nos referimos ao Estado, falamos "deles" não realizando que o Estado somos nós todos. O mesmo não se passa por exemplo nos cidadãos britânicos, que não precisam de Bilhete de Identidade nem sequer de Constituição (em sentido formal), para se referirem ao Estado como "nós". Porventura, esta diferença explica a nossa postura em coisas tão díspares como seja o cumprimentos das nossas obrigações fiscais ou mesmo na falta de valores patrióticos.
O Povo enquanto camada social de base foi descrito, por comparação com a Nobreza e o Clero, por D. João II de uma forma lapidar. Através de uma analogia, o Príncipe Perfeito dizia que os países eram como o mar, onde existem muitas espécies de peixes diferentes. O salmonete que era muito bom mas raro e caro, enquanto que a sardinha existe em abundância, é saborosa e muito barata... E acrescentava "Eu sou pela sardinha".
Ele bem sabia do que falava, pela luta que travou com as classes dominantes para atenuar os efeitos das doações de seu pai, que o levou a dizer que "o meu pai só me deixou as estradas do Reino para governar".
O Povo sempre foi o elemento dominante e mais preponderante nos momentos decisivos da nossa História, por absurdo que esta afirmação possa parecer. Quem esteve com o Povo sempre venceu. Assim foi em São Mamede, Ourique, Aljubarrota e guerras da restauração. É certo que o Povo esteve sempre numa situação subalterna, mas sempre que teve um desígnio em que acreditava, sempre levou de vencidas as dificuldades que por vezes não foram pequenas.
Os maiores cronistas portugueses como Fernão Lopes, Duarte Galvão, Rui de Pina, João de Barros, etc. tiveram sempre no Povo o seu elemento principal, apesar de não terem poupado na glória de quem os comandava.
Camões chama ao Povo "rude" e "néscio", o que não é de estranhar no seio dos poetas humanistas, que se dirigiam apenas a classes letradas. No entanto, a Nobreza também não é poupada, quando o Príncipe dos Poetas se refere à incultura das classes dominantes, que ainda não tinham "gerado" nenhum Homero ou Virgílio para contar as enormes façanhas da raça lusitana. Como Camões se enganou. Esse grande poeta foi ele próprio.
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