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Sendo Lisboeta até à última molécula, não cultivo qualquer espécie de rivalidade regional, nomeadamente com o Porto, como é apanágio dos meus conterrâneos. Mais, considero o Porto uma cidade fascinante e, que me perdoem os vimaranenses, o berço da nossa nacionalidade.
À parte dessas querelas, podemos orgulhar-nos de sermos a mais velha nação europeia e das poucas que não tem dissidências internas. Alguns partidos políticos, de quando em vez, lá tentam cria-las, através de propostas de regionalização. Felizmente que os portugueses tiveram o bom-senso de recusaram tal artifício em sede de referendo.
Se a unidade nacional não está em causa, isso não invalida que não tenhamos assimetrias internas. Parte dessas assimetrias são decorrentes da forma como o pais se organizou politica, economica e socialmente. A ocupação demográfica na faixa litoral, a desertificação do interior, o predomínio das actividades agrícolas a sul, etc.
No entanto, existem traços regionais que são muito mais ancestrais, urdidos pelos séculos de história de povoamento, que nalguns casos remontam à fase pré-romana. Desde logo a matriz celtica a norte, onde a presença de cultura castreja moldou indelevelmente o modo de vida dos povos. Com a invasão romana estes castros foram integrados numa unidade administrativa, denominada Galécia, situada a noroeste da península e tendo como sede a então Braccara Augusta (Braga) e que haveria de ser o gérmem da língua Galaico -portuguesa. A troca dos V's pelos B's, tipicamente nortenha, é uma reminiscência do Galaico- português e ainda hoje é um sinal distintivo da pronúncia nortenha.
A sul, a presença muçulmana foi mais marcante. A presença árabe após 711 havaria de introduzir um cunho próprio a esta região. Desde logo na língua (nomeadamente na toponímia), na arquitectura e na organização social. Uma questão que ainda hoje permanece em aberto é o facto de os serracenos terem conquistado quase toda a península num espaço de meses aos Visigodos, e terem sido expulsos apenas em 1492 com a tomada de Granada.
Em Portugal, apenas no reinado de D. Afonso III (século XIII) se consolidou o dominio cristão. Ou seja, a influencia serracena fez-se sentir ao longo de mais de seis séculos, o que não parece ter sido prejudicial às populações pois estes eram mais tolerantes e mais benévolos do que os senhores visigodos que os antecederam. O próprio culto cristão, as leis e costumes dos povos foram respeitados, ao ponto de se terem construído igrejas cristãs neste período.
Esta presença cristalizou-se neste estilo contemplativo que caracteriza o sul de Portugal. Pejorativamente associa-se este traço idiossincrático à perguiça, o que não poderia ser mais injusto. A influência a sul traduziu-se no aparecimento dos chamados moçarabes, ou seja autóctones que foram assimilando os valores e a cultura árabe. Hoje em dia, é este o traço cultural e mesmo físico que predomina nas províncias do Alentejo e Algarve, ao passo que a norte a influência visigótica é superior.
Este facto reflecte-se até no cariz mais cristão a norte, face a um maior agnosticismo a sul.
É evidente que esta divisão é artificial, até porque o nosso país goza de boa saúde em matéria de unidade territorial. Outros motivos poderiam ser enunciados, como sejam a maior extensão da propriedade a sul, face a um norte mais povoado e mais retalhado.
Esta característica latifundiária teve consequências dramáticas a sul após a revolução liberal. As populações tiravam o seu sustento das extensas propriedades que eram pertença das ordens religiosas, pagando uma contrapartida relativamente insignificante em géneros (geralmente ovos, e daí nasceu a doçaria conventual). Com o fim das ordens religiosas, após o célebre decreto do "mata-frades", as terras foram compradas por caciques locais que colocaram os trabalhadores na antiga condição de assalariados, ou na imposição de contrapartidas muito superiores às que se tinham habituado no antigo sistema de courelas. As consequências foram terríveis, com fomes e revoltas das populações. Penso que será esta a raíz da influência comunista no Alentejo. Uma região rural que, habitualmente, alinha pelo conservadorismo de direita, rendeu-se ao marxismo-leninismo pelo fim da propriedade privada, nomeadamente porque esta propriedade estava na mão de meia dúzia de latifundiários. Tivessem os trabalhadores tomado posse das propriedades em 1834 e o comunismo nunca teria tido expressão na região.
A Norte, com o predomínio da pequena propriedade (privada) as consequências foram insignificantes, não indo para além do deplorável abandono do património religioso.
Trata-se, evidentemente, de uma abordagem simplista, mas que nos faz reflectir sobre a ancestralidade onde radicam algumas características que ainda hoje são observáveis e que nos ajuda a explicar alguns estereótipos regionais
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