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Dia 14 de Dezembro assinalou-se o 90º aniversário do assassinato de Sidónio País nas imediações da Estação do Rossio, às mãos de um republicano fanático, José Júlio da Costa, que, à boa maneira estalinista, acabou os seus dias no Hospital Miguel Bombarda sem nunca ser julgado.
De Sidónio, guarda-se para a posterioridade as suas pretensas últimas palavras "morro bem, salvem a pátria", embora haja quem garanta que a última coisa que disse foi um bem mais prosaico "não me apertem, rapazes"...
Compreender o fenómeno Sidónio País, é lembrar-nos do manicómio colectivo em que se transformou Portugal com a república, da nossa entrada na Guerra, da fome e da contestação social. Sidónio foi um "outsider", gozando por isso da popularidade inerente a quem não tem que prestar contas do seu passado. A ele não eram associados os cadáveres que se amontoavam nas ruas imundas, nem aos sucessivos golpes e contra-golpes mais ou menos palacianos, nem aos confrontos armados a que não faltavam assassinatos indiscriminados. O terror da república fez emergir um professor catedrático de Matemática, com uma carreira militar modesta, que tinha sido ministro plenipotenciário (embaixador) na Alemanha de Guilherme II e que deu os primeiros passos na política apadrinhado por Brito Camacho. Chegou ao poder através de um golpe militar (provavelmente por esse motivo passou a usar sempre a farda militar) no entanto foi o primeiro e o único presidente da República a ser eleito até 1976. O período em que esteve na presidência não ultrapassou um ano, no entanto foi o suficiente para inspirar gerações e gerações pela sua aura de salvador. Fernando Pessoa chamou-lhe o "Presidente-Rei" pelo cariz presidencialista que incutiu à política potuguesa e pela pose magestática, não obstante a sua afabilidade com o povo e o fascínio que despertava nas mulheres.
De Sidónio dizia-se que seria uma germanófilo e, à posteriori, alguns afirmaram que seria um percursor dos "caudilhos" europeus, à boa maneira de Mussolini, Hitler ou Franco. Penso que sobrestimam Sidónio. Na minha opinião tratou-se de um epifenómeno, sem qualquer programa ou projecto de governação. Foi um improviso, que funcionou como uma lufada de ar fresco na podridão da politica repúblicana. Se não tivesse sido assassinado, teria sido deposto por um golpe, seja ele militar ou palaciano. Não teve tempo para sair da sua "primavera", ao contrário de Marcello Caetano que só conheceu o seu "inverno" porque não morreu em 1969.
O funeral de Sidónio foi uma manifestação como nunca se tinha visto em Lisboa. Desde gritos pungentes, desmaios e mortes, o envolvimento genuíno das massas supera tudo o que possamos imaginar. Digo-o não porque o tenha lido ou por sugestão minha, mas porque me contaram na primeira pessoa. Em 2000, no Estoril, tive oportunidade de falar com uma senhora amiga de família, entretanto já falecida, que contava então com quase 100 anos. O seu pai era um pequeno comerciante na Travessa dos Remolares, ao Cais-do-Sodré e esteve presente no cortejo fúnebre que levou o féretro do presidente assassinado até ao Mosteiro dos Jerónimos.
Não obstante a sua idade, a srª Maria Duarte deu-me a maior lição de História da minha vida.
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