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Os portugueses gostam particularmente de escrever o seu nome no livro dos recordes. O Guiness é um terreno fértil onde cabem os mais estranhos registos, desde a maior alheira do mundo, bolo Rei, etc.
Existe um que dificilmente será batido: o da maior falsificação de notas do mundo. Esse "mérito" cabe inteiramente a Alves Reis. Conhecido burlão, que aliava o denodo a uma inteligência rara, conseguiu emitir 200.000 notas de 500 escudos, num montante que o tornou, seguramente, um dos homens mais ricos de Portugal em 1925.
Mas Alves Reis não foi um simples falsificador, até porque as notas eram, imagine-se, verdadeiras. De resto, elas foram produzidas na gráfica oficial do Banco de Portugal, a Waterloo & Son's, com as mesmas chapas de emissões anteriores.
Este facto causa estupefação. Como foi possível que alguém sem qualquer tipo de familiaridade com o mundo financeiro conseguisse conceber e executar um plano deste género, sem o conhecimento do Banco de Portugal?
A resposta é simples: o proprio banco fazia emissões clandestinas com a finalidade de injectar massa monetária em circulação sem provocar a desvalorização da moeda, que seria inevitável se fosse dada publicidade a essas emissões. Embora já não estivesse em vigor a convertibilidade interna (o padrão ouro) ainda estava, como hoje, ao nível externo. Ou seja uma nota do Banco de Portugal representava um título convertível em ouro. Se houvesse um excesso de massa monetária, sem a devida correspondência em ouro, a moeda desvalorizava e a débil economia portuguesa sucumbiria. A escassez de massa monetária nos anos 20 com uma inflação galopante provocada pela Grande Guerra e pela balbúrdia da 1ª répública, fez praticamente desaparecer o dinheiro físico. Como resposta à ausência de moeda, criou-se espontaneamente um sistema de cédulas, que não eram mais do que a emissão de documentos substitutivos de moeda em estabelecimentos comerciais, por vezes até em tampas de latas de conservas...
Neste cenário, não restava outra opção do que lançar massa monetária em segredo, geralmente através de emissários, por forma a desresponsabilizar politicamente os governadores do Banco de Portugal.
Alves dos Reis começou a perceber da questão fiduciária quando esteve preso no Porto, por dívidas e por forjar um diploma de engenheiro. A diferença é que Alves Reis e o seu "gang" onde constavam os irmãos José e António Bandeira (este último ministro em Haia, Karel Marang (o negociador com a Waterloo & Sons) e Adolph Hennies, um presumível espião alemão, encomendaram estas notas para proveito próprio e sem mandato para tal.
Esta loucura teve como momento alto a fundação do Banco Angola e Metrópole (ou engole a metrópole como era satiricamente referido), com o qual Alves do Reis pretendia "lavar" o dinheiro emitido. A criação do banco foi, no entanto, a pedra de toque para o despoletar de uma campanha agressiva por parte de "O Século", em parte dirigida pelo industrial Alfredo da Silva, sob a acusação de financiamento alemão. Não deixa de ser uma irónico ver Alfredo da Silva acusar alguém de ser germanófilo, ele que sofreu na pele essa mesma acusação (a CUF chegou a estar na black list do governo britânico).
O mais caricato nessa história é que, com a inundação de notas de 500$, os feirantes deixaram de as aceitar por suspeitarem da sua autenticidade. O Banco de Portugal procedeu a uma rigorosa análise e concluiu que a mesmas eram verdadeiras (ou não fossem mesmo!).
A segunda parte do plano era o controlo do Banco de Portugal (para legalizar a emissão) e do "Diário de Notícias" (para contra-atacar a campanha de "O Século"). Na altura o Banco de Portugal era uma entidade privada embora o Estado tivesse aquilo que hoje se denomina de "Golden Share", ou seja, capital minoritário mas que lhe confere amplos poderes entre os quais a nomeação do governador. Ambos os projectos foram interrompidos com a prisão de Alves dos Reis e dos seus cúmplices portugueses.
A campanha na imprensa acabou por surtir os seus efeitos e o crime foi descoberto através da denúncia de um cambista no Porto, onde os "homens de mão" de Alves Reis convertiam essas notas em moeda estrangeira.
Burlão e criminoso mas ao mesmo tempo genial. Faço minhas as palavras de Teixeira da Mota, seu biógrafo, "Admiro-o muito e condeno-o muito pouco"
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