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"Primeiro estranha-se, depois entranha-se", este foi o slogan publicitário criado por Fernando Pessoa, em 1928, para o lançamento da Coca Cola em Portugal. Em plena ditadura militar, onde já pontificava a austeridade do ministro das finanças, Oliveira Salazar (que Pessoa abominava), o projecto foi recusado, com a justificação que criava "habituação".
O argumento não é completamente despropositado. A Coca Cola surgiu como resposta ao sucesso de um vinho de origem italiana, Vinho Marianni, produzido à base de cocaína. Vem-me à memória a frase de Frédéric Bartholdi, criador da Estátua da Liberdade, que referiu que se o vinho Marianni tivesse sido inventado mais cedo teria projectado uma estátua muito maior. Até 1929, a cocaina resistiu na composição quimica da Coca Cola, razão pela qual a resposta das autoridades portuguesas até pode ser considerada progressista.
Já em pleno Estado Novo, a empresa voltou à carga. O concessionário para a Península Ibérica, um russo de ascendência americana mas radicado em França, tentou por todas as vias convencer o senhor de "S. Bento" a autorizar a comercialização da popular bebida americana. A última das quais, oferecendo uma "comissão" ao presidente do Conselho. Parece que Salazar, cordialmente, disponibilizou os préstimos dos seus seguranças para o acompanharem imediatamente ao aeroporto...
A terceira démarche foi, imagine-se, através do financiamento de uma campanha eleitoral. A frase "obviamente demito-o", proferida por Humberto Delgado na campanha presidencial de 1958, não foi apenas um sinal de luta contra a ditadura, pois resultou de uma "exigência" da Coca Cola (com o envolvimento da CIA ), como justificativo para tão generosa oferta. Álvaro Cunhal, que detestava Delgado, chamou-lhe o General Coca Cola...
Esta tentativa foi tão frustrada com as restantes, não deixando de ser elucidativa da força que as grandes multinacionais detêm e as vias que utilizam para que prevaleçam os seus interesses.
A Coca Cola entraria legalmente em Portugal (nas colónias consumia-se através de contrabando com países vizinhos) em 1977, 49 anos após a primeira tentativa, sem que a sua entrada não tenha sido vista com desconfiança pelas hostes comunistas, agitando a conhecida bandeira da luta contra o imperialismo americano. Esta foi a única batalha ganha pela Coca Cola, numa altura em que o país se começava a recompor do agitado processo revolucionário, e em que era evidente a atitude de maior abertura ao exterior.
O Marquês da Bacalhoa não consta nos livros de linhagens da nobreza Portuguesa. Nunca existiu ninguém que tivesse ostentado esse título, nem tão pouco se conhecem pretendentes. No entanto,ele serviu de título ao livro mais polémico editado em todo o século XX em Portugal. Nenhum outro teve impacto semelhante nas esferas políticas do país, nem o célebre "Portugal e o Futuro" do General Spínola. O Marquês da Bacalhoa foi escrito por António de Albuquerque, escritor praticamente desconhecido nos dias que correm, e relata a vivência de uma família aristocrática, residente em Azeitão (Palácio da Bacalhoa). Na narrativa são relatados factos pouco abonatórios, onde se contam relações extra-conjugais, lesbianismo e outras pequenas intrigas palacianas. O livro não seria polémico, nem o impacto que viria a ter, não fosse esta obra um autêntico libelo difamatório em relação à família real portuguesa. O "Marquês" da Bacalhoa retratava, nem mais nem menos, que o Rei D. Carlos I (proprietário do palácio da Bacalhoa)e a "Marquesa" Raínha DªAmélia, sendo o livro especialmente cáustico em relação a esta última-acusada de manter uma relação amorosa com Mousinho de Albuquerque e com uma dama da corte. O propósito do livro era, evidentemente, desacreditar a família real, indo ao encontro dos desejos da turba republicana. António de Albuquerque, autor mediocre ao nível de um Guerra Junqueiro, apenas se notabilizou por esse romance supostamente "neo-queiroziano". Albuquerque foi um arrependido amargurado, chegando inclusivamente a depositar num notário uma declaração de arrependimento em relação à Rainha Dª Amélia e ao Rei D. Carlos (este último a título póstumo). A sua penitência de pouco serviu, numa altura em que já agonizava, pois os ventos da história já sopravam noutra direcção. O seu livro, tal como o célebre "Caçador Simão", apenas tiveram o impacto social (hoje diria-se mediático) pelo facto de irem ao encontro das pretensões republicanas. Quando António de Albuquerque se retratou, em 1921, já a burguesia se passeava pelos corredores do (tumultuoso) poder republicano, pelo que o impacto foi praticamente nulo. Ficou o gesto da Raínha Dª Amélia, que vivendo a sua viuvez no exílio, teve a atitude magnânime de perdoar quem a vilipendiou de uma forma perfeitamente arbitrária e injusta. António de Albuquerque também detém o seu quinhão nas balas do 1º de Fevereiro, mas, façamos-lhe justiça, foi o único que no seu leito de morte teve a lucidez de reconhecer as suas faltas, dando a devida publicidade ao acto .
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