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Ao longo da história, o meio físico representou sempre uma condicionante à actividade humana. Desde os tempos do nomadismo até à sua sedentarização, o Homem sempre procurou os locais mais propícios à sua sobrevivência, influenciando e transformando este meio mas também deixando-se influenciar. Portugal é exemplar nesta mútua relação Homem-Natureza. As nossas idiossincrasias influenciaram de uma forma determinante os povos com os quais nos relacionámos, desde a costa africana ao Brasil, de Macau a Timor. O conceito de Luso-Tropicalismo, definido por Gilberto Freire, reflecte esta forma de estar tipicamente portuguesa, que se traduz numa convivência pacífica com povos de outras culturas, passando pela miscegenação e pela receptividade em acolher no nosso código de valores influências externas.
Alvitro a hipótese de este fenómeno se dever à nossa posição geográfica no extremo ocidental da península. Os povos que chegavam à península ibérica, muitas vezes para escapar a conflitos noutros pontos da Europa, estavam condenados a viver com aqueles que já cá se encontravam, uma vez que o mar funcionava como uma fronteira inexpugnável. Foi assim que quando chegaram os Celtas rapidamente se miscegenaram com os Iberos e assim surgiram os Celtiberos. Os Lusitanos, nosso antepassados remotos, não eram mais do que Celtiberos que habitavam nesta faixa ocidental, numa localização relativamente próxima daquela que hoje se apresenta o território português.
O exemplo máximo deste luso-tropicalismo é o Brasil, apontando como um exemplo de convívio entre as diferentes raças, bem diferente da experiência norte-americana de colonização britânica ou mesmo espanhola.
Outro caso paradigmático da influência do meio natural no nosso país trata-se da localização das nossas principais cidades. Todas, sem excepção, se situam na margem norte do rio que banha as suas margens: Setúbal situa-se na margem norte do Sado, Lisboa do Tejo, Coimbra do Mondego, o Porto do Douro e Viana do Castelo do Lima. Não se trata de uma coincidência. O nosso país formou-se social e economicamente através das cruzadas para a Terra Santa. Os navios, vindos do norte da Europa, atracavam nos nossos portos para fazer a aguada, ou seja para se abastecerem de água e víveres para prosseguirem viagem. Só na região do Porto existiam, em meados do século XI, milhares de cabeças de gado destinadas aos cruzados que chegavam às margens do Douro. Vem daí a alcunha de tripeiros, porquanto que as vísceras, que não poderiam ser conservadas com sal, eram a única parte do animal que os habitantes guardavam para a sua própria subsistência.
As cidades desenvolveram-se na margem norte dos respectivos rios devido às condições de navegação mais propícias. O território Português é assolado, principalmente, por ventos que sopram em direcção a norte (a chamada nortada), daí que, para embarcações que tinham no vento a sua força motriz, seria muito mais fácil atracar na margem norte do que na margem sul. A única excepção a esta lógica é Caminha, mas tal deve-se ao facto de para lá do Rio Minho já não ser terra portuguesa.
O Terramoto de 1755, embora noutra dimensão, espelha a forma como a natureza pode mudar a configuração de uma grande cidade (como já era Lisboa na altura). A nova Lisboa já é uma cidade virada para o iluminismo, construída sobre os escombros de uma Lisboa de traça medieval.
Não me arrisco a especular sobre quem influencia mais quem: se o Homem a natureza ou se a natureza o Homem. Agora não tenho a menor dúvida que, por mais que seja a evolução científica e tecnológica, jamais o Homem diminuirá a sua dependência ao meio, nem o meio será completamente incontrolável para o Homem.
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