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Ao passar no Chiado, dois monumentos nos lembram o passado literário daquele local. A estátua, na praça central, do poeta António Ribeiro "Chiado", risonho e com o dedo em riste a apontar para Fernando Pessoa, sentado na sua Brasileira. Parece querer dizer: " eu que fui tão pequeno em vida, estou aqui no alto, enquanto tu, que foste tão grande, te vês confinado a um canto".
Não muito longe, para lá da antiga muralha fernandina, jaz a estátua de Camões, inaugurada em 1880 por ocasião do IV centenário da sua morte.
Para além do espaço que a posterioridade lhes reservou, estes três poetas têm em comum o facto de nenhum deles ter conhecido a glória em vida.
Para o poeta Chiado é bastante lisonjeiro ser colocado ao lado destes "monstros" da literatura portuguesa. Poeta mediocre, não fora ter sido associado ao local mais nobre da capital e estaria votado ao mais profundo anonimato. Pouco se saber da sua vida para além de ter sido um boémio incorrigível, amigo de Camões e viver no Chiado. No entanto hoje em dia coloca-se a questão de saber se foi o poeta que deu nome ao Chiado ou se o Chiado que deu o nome ao poeta. isto porque nos últimos anos foi vingando a tese que o topónimo Chiado seria originário do barulho, vulgo "chiadeira", da principal artéria do país, e como tal o poeta, que se chamava António Ribeiro (Chiado era alcunha), e vivia no Chiado ter ficado associado ao local.
Obviamente que Chiado não viu, nem poderia ver, os seus méritos literários reconhecidos em vida. Grandes vultos, como Pessoa e Camões, tiveram igual sorte. No entanto, o seu talento foi descoberto e apreciado pelas gerações vindouras.
Os méritos de Camões começaram a ser descobertos após a restauração da independência. Após 60 anos sob o jugo espanhol, Camões surge como uma referência nacional, em cujos versos se exaltava a valentia portuguesa. A segunda "vaga" camoniana teve lugar em meados do século XIX com o esplendor do romantismo e do orgulho imperial (que teve como consequência o célebre Mapa Côr-de- Rosa).
Fernando Pessoa, por seu turno, teve uma vida que apenas saiu do anonimato com a publicação da "Mensagem", única obra publicada em vida, e da sua actividade como técnico comercial. Quando morreu não poderia imaginar que décadas depois estivesse ao nível de um Camões. Estou convencido que Pessoa, quando morreu, pensaria que em 10 anos ninguém o conheceria. Mas foi preciso esperar por uma nova vaga imperialista, nas vésperas desse grande evento que foi a celebração do duplo centenário da fundação e restauração da nacionalidade, para que se começasse a reparar naquele grande talento. Por ironia, foi o evento organizado por António ferro e apadrinhado pelo regime, que acabariam por elevar a auto-estima nacional e "abrir terreno" para a consagração de Pessoa, este mesmo que um dia escreveu este poema "dedicado" a Oliveira Salazar:
António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António
Oliveira é uma árvore
Salazar é só apelido
Até aí está tudo bem
O que não faz sentido
É o sentido que tudo isso tem
(Fernando Pessoa, citado por Rui Romão)
Por falar em reconhecimento, não posso deixar de referir o paladino da mediocridade literária portuguesa, cuja roupagem de heroi carbonario-maçónico lhe garantiu a eternidade no Panteão Nacional, ao lado de algumas das mais importantes figuras portuguesas.
Falo de Guerra Junqueiro, cuja obra literária não mereceria mais do que o Alto de São João, como o comum dos mortais, e a obra cívica não menos que a Cadeia do Limoeiro.
Quando visito Stª Engrácia e vejo o túmulo do autor de "Os Simples", recordo-me, inevitavelmente, do comentário de Felipe II quando passou por Portalegre e vislumbrou um enorme túmulo na Igreja da Conceição (12 mt) que lhe informaram pertencer a um Bispo "Grande gaiola para tão pequeno pássaro".
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