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Muito já se escreveu sobre a obra-prima queirosiana e certamente muito faltará por dizer, não fosse esta ainda uma obra actual. Já foi por demais escalpelizada a crítica à sociedade burguesa do seu tempo, às instituições que a regem e sobretudo aos costumes, numa espécie de fórmula que nos mantinha teimosamente reféns da mediocridade.
No entanto, na minha opinião, a principal crítica que é feita pelo autor à sociedade do seu tempo é à educação. Esta será talvez a evidência mais credível da actualidade da obra de Eça.
O tema da educação está presente em todo o livro. Desde logo pelo percurso de vida do patriarca Afonso da Maia. Educado no seio de uma família conservadora, cedo aderiu aos ideais liberais, que haveriam de o conduzir ao exílio londrino após a subida ao trono de D. Miguel. Este percurso representa uma ruptura com a educação de matriz mais conservadora de seu pai, Caetano da Maia, e oferece ao leitor a visão da geração dos vintistas que fizeram a revolução liberal no nosso país.
Em Pedro da Maia, Eça colocou o estereótipo do português educado de uma forma beata, à "antiga portuguesa", às expensas de sua mãe e da qual não se consegue afastar na vida adulta. É esta educação, que o fez fraco, pusilânime e sem personalidade, a causa da sua tragédia.
Eça hiperbolizou ainda mais esta fraqueza moral gerada pela educação portuguesa na figura de Eusébio Silveira ou simplemente Eusebiozinho. Beato, cuja educação teve por base a memorização de orações, sem qualquer formação de natureza prática ou higiénica, é a antítese de Carlos da Maia, com o qual cresceu nas oliveiras de Santa Olávia.
Educado por um preceptor inglês ( o Mr. Brown), Carlos da Maia teve uma educação completamente oposta à de Eusebiozinho. Ciência, ginástica e ausência de religião (para escândalo da conservadora sociedade de Stª Olávia) formaram um jovem robusto física e intelectualmente, com uma personalidade forte e uma vocação para as ciências exactas.
No entanto, apesar desta educação à inglesa, Carlos da Maia haverai de se "enterrar" no "lodaçal" do Chiado. A sua vida foi a de um diletante, com muitos projectos mas sem a capacidade de os pôr em prática, em parte devido à típica letargia nacional, ausência de método e incapacidade organizativa. Para reforçar esta posição, Eça criou uma outra personagem que representa o cúmulo deste diletantismo estéril que corroi a sociedade do seu tempo (a começar pelas elites). Eis João da Ega, qui ça o alter-ego hipotético de um Eça de Queirós que não tinha enveredado pela carreira diplomática.
Tal como Carlos da Maia, embora se considerem muito modernos e naturalistas (no papel) na prática são tão ou mais românticos do que o ultra-romântico Tomás de Alencar (sem a genuinidade deste último). Alencar, personagem controversa porque Bulhão Pato se sentiu representado, era um poeta de um romântismo bacoco, um palrador mediocre, mas a quem Eça tira o chapeu pelo facto de ser genuíno, de fazer o que pensa, mesmo que o que pense seja algo de ultrapassado e de gosto duvidoso.
Ou seja, para Eça não nos devemos limitar à cópia de modelos que vêm de fora, porque não se adaptam à realidade portuguesa. No fundo é esta mensagem que sustenta a analogia ao deprimento espectáculo do hipódromo de Belém, onde se tenta transpôr uma tradição inglesa só pelo facto de ser "chic a valer", Dâmaso Salcede dixit.
É a originalidade, ou a fala dela, gerada por uma educação que não prepara os jovens para os problemas que vão ter que enfrentar na vida adulta, nem os estimula para a inovação, a que se junta uma incapacidade endémica ao nível da organização e planeamento, que nos mantém neste marasmo civilizacional.
É pelo menos assim leio aquela que considero a melhor prosa portuguesa de todos os tempos.
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