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A neutralidade portuguesa na II Guerra Mundial foi um terreno fértil para o desenrolar de actividades diplomáticas mais ou menos clandestinas,nomeadamente por parte dos principais países beligerantes. É por demais conhecido o ambiente vivido na linha do Estoril por essa altura, onde monarcas exilados, milionários e espiões de ambos os lados do conflito partilhavam o mesmo espaço. O Hotel Estoril Palácio era,por excelência, o local de reunião desta corte. Ian Fleming passou por lá, e aí se inspirou para criar a personagem de James Bond, o mais famoso agente secreto do planeta.
Um dos exilados que esteve em Portugal durante a guerra foi o ex Rei Eduardo VIII de Inglaterra. Forçado a abdicar do trono britânico em virtude do seu casamento morganático com uma americana - Wallis Simpson - era assumidamente um admirador de Hitler, com o qual se chegou a encontrar. Estava então na moda o casamento de americanas com aristocratas, fenómeno a que Portugal não foi alheio. D. Manuel II teve uma relação amorosa com a actriz Gaby Deslis, e o infante D. Afonso acabou mesmo por casar no exílio com uma americana - Nevada Hayes.
Foi a inclinação pró-alemã que o tornou apetecível aos olhos do III Reich. Instalado em casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo - que também não se livrou da fama de pró-germânico - esteve alguns meses em Portugal antes de ser nomeado por Winston Churchill Governador do remoto arquipélago das Bahamas.
É aqui que esta história ganha contornos de um filme policial. Durante a estadia de Eduardo VIII o governo português não deixou de manifestar a sua hospitalidade, que se traduziu na garantia da sua segurança, não perdendo a oportunidade para vigiar a actividade do príncipe.
Hitler tinha reservado para Eduardo VIII o papel de um "Petain Inglês". Ou seja, depois da esperada vitória militar (que como é sabido nunca veio a suceder)aproveitar a sua legitimidade como ex Rei(após a abdicação ou fuga de seu irmão - Jorge VI) para recoloca-lo no trono e cumprir o desígnio de ser o fantoche do regime hitleriano.
Na teia diplomática que se instalou em Portugal, através do encarregado de negócios alemão e com a intervenção de Ricardo Espírito Santo, Hitler propôs ao monarca não aceitar o "exílio" das Bahamas que lhe tinha sido imposto pelo governo inglês com o objectivo de afastá-lo das garras da águia alemã.
Depois de ponderar os prós e contras, Eduardo VIII acabou por se manter fiel à sua pátria, rumando para as Bahmas.
O que teria sucedido se não tivesse embarcado? Provavelmente o pós guerra ser-lhe-ia muito duro.No último post falei sobre as origens do vinho do Porto, com especial enfoque no nome. Na continuação do tema, tentarei lançar umas pistas sobre a origem da sua fama e reconhecimento internacional, que o tornaram um autêntico embaixador de Portugal no mundo.
Para começar, o que será que torna o Vinho do Porto especial? Não existe um consenso científico, no entanto acredito que o seu sucesso é explicado por um conjunto de razões naturais, históricas e políticas.

Quando evoco as razões naturais, obviamente que me refiro às vinhas que por esse Douro fora formam essa paisagem deslumbrante. Reconhecida pela Unesco como património da humanidade, o Alto Douro Vinhateiro é fruto não só das condições naturais, mas também do suor de quem diariamente enfrenta as agruras de uma faina nesses penhascos recortados por sucalcos de xisto. É precisamente essa configuração que lhe confere o seu carácter único, como singulares são também as uvas que saem dessas videiras. São vinhas que nunca sofrem grandes oscilações térmicas, porque o xisto funciona como uma espécie de pilha térmica que acumula calor durante o dia e que o liberta durante a noite. Arrisco-me a considerar o xisto a grande alma do Vinho do Porto.
Ao Marquês de Pombal deve o Porto e o país o reconhecimento por esse patrimonio único, que o defendeu de uma forma até então inovadora, ao demarcar os seus limites para poder preservar a qualidade da insígnia do seu vinho. Foi em 1756, e ficou para a história como a primeira região vinícola demarcada do mundo.
Dos sucalcos do Douro até ao cais de Gaia (e não do Porto como expliquei no post anterior), o vinho era transportado em barcos rabelos (chamavam-se rabelos por serem dirigidos pela ré), onde, a partir do século XVIII, uma grande parte partia nos navios para o Reino Unido.
É com a exportação para as ilhas britânicas que o Vinho do Porto ganha fama internacional. Para os britânicos, em constantes conflitos com a França, era importante encontrar uma alternativa aos vinhos franceses, o maior produtor de vinhos europeu. A essa dependência (indesejável) somou-se uma necessidade de conseguir escoar os produtos manufacturados, para fazer face ao problema do excesso de produção. Foi neste contexto que se firmou o acordo anglo-luso, que ficou conhecido pelo nome do ministro britânico que o negociou (John Methuen) e cujo grande responsável pelo lado português foi o Marquês de Alegrete, ministro de D. João V. Esse acordo, assinado no início do reinado do "Magnânimo" (1703), concedia facilidades à entrada de vinhos portugueses nas ilhas britânicas em troca da reciprocidade de tratamento para as suas manufacturas britânicas, nomeadamente panos. Com este tratado, estava aberta a porta do comércio externo ao vinho do Porto.
Ainda hoje os historiadores discutem quais foram as vantagens e desvantagens deste tratado. Não entro nessa discussão (até porque não sou historiador) no entanto parece-me indiscutível que sem este convénio o Vinho do Porto não teria a projecção que tem hoje. Se os britânicos beneficiaram da qualidade do nosso vinho, conseguiram diminuir a dependência para a sua arqui-inimiga França e ainda escoaram os seus lanifícios, os portugueses beneficiaram do prestígio que foi conferido ao vinho e, sobretudo, da descoberta da fórmula que o tornou célebre.
Para manterem o vinho em boas condições na longa viagem marítima, os britânicos adicionavam-lhe aguardente, e assim nasceu a fórmula do Vinho do Porto. Vinho licoroso, que se distingue do vinho de mesa - que também tem ganho terreno na região do Douro - e que se deve a esse tráfego marítimo e à necessidade de o conservar. Assim, da necessidade de conservação, obtivemos o vinho do Porto, da mesma forma que pelo mesmo imperativo ganhámos o gosto pelo bacalhau seco e salgado.
E como a história do vinho do Porto está ligada ao mar, nada melhor do que rematar com esta curiosidade. Esta era a bebida preferida do Almirante Horatio Nelson, que ficou célebre pela vitória na batalha naval de Trafalgar sobre a marinha Napoleónica, que teve como paliativo para esses dias difícieis no mar, a companhia de uma pipa de vinho do Porto.
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