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Pelos dias em que escrevo este post, não se ouve falar de outra coisa que não seja de mudança. Para além da conjuntura eleitoral que vivemos, e que sempre acarreta uma proposta de mudança (inclusivamente pelo partido(s) de governo, a política económico-financeira que nos conduziu a uma intervenção externa assim o obriga. Este aspecto levou-me a pensar, numa perspectiva histórica, quais foram os momentos em que efectivamente conseguimos executar uma mudança de paradigma. Lembro-me da fundação da nacionalidade com D. Afonso Henriques, o estabelecimento do Estado propriamente dito com D. Afonso II e depois aprofundado com D. Afonso III, da crise 1383-1385 de onde viria a sair a dinastia de Avis, grande obreira dos descobrimentos, a obra do Príncipe Perfeito no estabelecimento da dignidade do Estado e no impulso de um projecto ultramarino que nos permitiu explorar o comércio das especiarias, e mais recentemente as reformas pombalinas e a Revolução Liberal.
De todos estes marcos, existe um denominador comum. A luta contra as forças de bloqueio. Esses actores são sempre internos e provam a dificuldade que sempre existiu em Portugal para se levarem a cabo mudanças estruturais. Tal deve-se ao carácter profundamente conservador e avesso à mudança que faz parte do ADN do povo português. Camões também se apercebeu deste fenómeno, retratando-o na célebre figura do Velho do Restelo. Não é de agora!
D. Afonso II teve um conflito com as Infantas suas irmãs, excessivamente dotadas de recursos por seu pai (D. Sancho I) e que obtiveram respaldo por parte da Santa Sé. Essa dispersão de recursos fora do Estado era incompatível com o desenvolvimento do poder real. As inquirações e confirmações de doações a nobres e às obras religiosas, por forma a reverter para a coroa bens que foram doados e que tinham sido transmitidos indevidamente, também foram objecto de forte oposição por parte das classes privilegiadas.
D. João II queixou-se que o seu pai só lhe tinha deixado as estradas do reino poara governar, tal foi a prodigalidade junto de nobres. D. João II empreendeu uma política de fortalecimento do poder da coroa, que incomodou a nobreza. Esta não deixou os seus créditos por mãos alheias e levou a cabo várias tentativas para o assassinar. O Príncipe Perfeito pagou na mesma moeda e mandou matar o Duque de Bragança (confiscando-lhe os bens e abolindo o ducado) e o próprio cunhado (D. Diogo) segundo na linha de sucessão. Provavelmente perdeu esta batalha porque se desconfia que morreu envenenado, praticamente sozinho sem a mulher nem o sucessor - D. Manuel, que por conselho da Rainha,sua irmã, não foi ao seu encontro.
O Marquês de Pombal aprendeu na escola que existiam 3 classes: Clero, Nobreza e Povo. Na cartilha do despotismo iluminado era do soberano que emanava todo o poder pelo que ele tinha que se livrar deste empecinho. Diminuiu a influência do Clero com a expulsão dos jesuítas. Os Nobres foram chacinado no patíbulo de Belém na sequência do célebre processo dos Távoras. O Povo - como se o povo tivesse poder - foi brutalizado na sequência de uma revolta nas tabernas do Porto após a proibição da venda de vinho a copo (para evitar a adulteração do vinho, as chamadas "mixórdias"). Ainda teve, no final da sua governação, a atitude lamentável de mandar atear fogo a umas cabanas na Trafaria por aí se terem refugiado alguns mancebos que fugiam à conscrição militar. Essa tarefa foi executada pelo sempre solícito Pina Manique.
A Revolução Liberal foi um período de grande instabilidade, que decorreu desde o fim das invasões francesas até ao Golpe da Regeneração 1851. Ou seja, enquanto a Europa avançava ao sabor da revolução industrial nós andámos mais de 30 anos numa luta fraticida entre os que defendiam o liberalismo e o absolutismo e depois entre os apoiantes liberalismo jacobino e o liberalismo moderado.
Ou seja, em Portugal as grande mudanças, com excepção dos descobrimentos porque aí as vantagens eram transversais a todas as classes mesmo no curto prazo, foram feitas por imposição e não raras vezes com a aplicação de meios de repressão brutais. É evidente que ninguém preconiza que mudemos com recurso a esses métodos, mas talvez não seja possível uma alteração estrutural sem afrontar as forças de bloqueio. Refiro-me a quem, ao abrigo da defesa legítima dos seus direitos adquiridos, não está disponível para abdicar de uma parte em favor do bem comum. Se o fizessem, a prazo ganharíamos todos.
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