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Se fosse vivo, D. carlos completaria hoje 148 anos. Pode parecer estranho esta introdução, uma vez que nunca nenhum ser humano chegou a esta provecta idade, mas parece que esta meta poderá ser alcançada a médio prazo, pelo menos é esta a opinião de George Church, o pai da descoberta do genoma humano.
Não é necessário chegar à idade de um Matusalém para se ser notável, e se existe alguém que foi excepcional em tudo o que fez foi D. Carlos. Elencar os seus méritos deixa-nos quase sem fôlego, tamanhas foram as sua inciativas culturais, cientificas, desportistas e políticas. No campo da cultura, era um pintor de excelência. Mestre na arte de pintar aguarelas, deixou uma obra de craveira internacional, que hoje pode ser observada no Paço de Vila Viçosa. São inúmeros os motivos que o atrairam, mas sem dúvida que foi o mar a sua maior fonte de inspiração.
O mar não foi apenas cenário dos seus quadros, foi também onde desenvolveu uma profícua actividade de investigação científica em várias campanhas oceanográficas na costa portuguesa onde procedeu à inventariação das espécies sub-aquáticas que vivem nas nossas águas. Podemos conhecer o seu labor científico no Áquário Vasco da Gama, no Dafundo, que foi criado por sua inciativa no ano de 1898 para celebrar os 400 anos da chegada dos portugueses à Índia. Correspondeu-se com Alberto I do Mónaco, também ele um grande amante da oceaonografia, ficando ligados por uma estreita amizade.
Não se ficou por aqui o trabalho científico de D. Carlos. Empreendeu estudos de ornitologia, descrevendo e analisando diversas espécies de aves, no doce remanso da sua Tapada de Vila Viçosa. Nessa mesma tapada costumava promover caçadas, sendo de uma pontaria inigualável. Ainda hoje se conserva um alvo na armaria de Vila Viçosa onde se vê apenas um buraco, mas que foi atravessado por 10 balas....
Foi também um grande incentivador do desenvolvimento do desporto em Portugal, como o ténis (de que era praticante apesar de o seu físico não se assemelhar muito a de um desportista), Futebol e foi ainda o criador do Real Automóvel Clube de Portugal (actual ACP, o maior clube português), tendo desenhado o seu primeiro logotipo. Nas façanhas automobilistas, ficou mais conhecido o seu irmão, D. Afonso, o célebre "arreda", assim conhecido porque insistia em andar nas ruas, ainda não preparadas para a circulação automóvel, a uma velocidade considerável, avisando da sua presença com o "arreda".
No entanto a sua vida política foi difícil e não foi coroada com a mesma glória, principalmente porque não teve tempo de reformar um sistema letárgico e caduco, marcado pela rotação de progressistas e regeneradores e pelo intriguismo, baixa política e pela luta desbragada pelo poder. Era este edifício podre que D. Carlos tentou modificar, mas o contexto político em que viveu não era de feição para tão ciclópica missão. Subiu ao trono em Outubro em 1889, após a morte de seu pai, D. Luis I, na Cidadela de Cascais, e passados alguns meses teve que ceder às pretensões britânicas no célebre ultimatum. Este acontecimento deu novo fôlego ao movimento republicano e levou à primeira tentativa de revolta no Porto em 31 de janeiro de 1891. O Rei apercebeu-se de que este sistema não podia ser regenerado, e apoiado na Ideia Nova de Oliveira Martins tentou mudar por dentro o regime, acabando com aquele rotativismo caduco. Apoiou a dissidência de João Franco dando-lhe plenos poderes para transformar Portugal numa Democracia avançada, mas este sangue novo assustou os republicanos que se aperceberam que com este Rei no trono nunca conseguiam derrubar a monarquia. O edifício podia estar podre mas este Rei chegava para tudo e se ele conseguisse mudar definitivamente o sistema político no seio da monarquia constitucional, isso significaria o fim do sonho da República Portuguesa.
Foi este o leitmotiv do regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, onde os republicanos assassinaram, pelas costas, o Rei e o seu sucessor, o promissor D. Luis Filipe. Assim terminou a vida de um Homem notável.
Neste dia gostaria também de recordar a grande figura de sua mulher e Rainha, D. Amélia de Orleães, que completaria hoje 146 anos.
Camões no seu monumental poema épico não poupa encómios aos reis de Portugal, mesmo a alguns que não seria de esperar semelhante tratamento. Recordo-me de D. Sancho II, afastado do trono pela Santa Sé depois da guerra civil que travou (e perdeu) com o seu irmão (futuro D. Afonso III), que Camões não chama mau Rei mas apenas "mediano", i.e. os portugueses estavam habituados a grandes reis e aquele não era suficientemente bom. A excepção à regra, foi D. Fernando. O autor dos Lusíadas não deixou passar em claro a sua inaptidão, sendo sobejamente conhecido o verso " um fraco Rei faz fraca a a forte gente" que dedica a este monarca.
Se tenho mais dúvidas na benovolência de Camões por outros monarca- para além do já citado D. Sancho II - nomeadamente D. Afonso V e D. João III, concordo inteiramente com o balanço do reinado deste Rei que ficou conhecido como o "Formoso". O título do post é um pouco provocatório mas resume no essencial o seu reinado.
Pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita e o seu início de vida, marcado pela morte de sua mãe e os devaneios de seu pai (D. Pedro I, o tal da inês de Castro), devem ter tido influência no espírito fraco do Rei. Subiu ao trono em 1367 e não demorou 3 anos a envolver-se numa guerra com Castela, em aliança com o Reino de Aragão e com o Emir de Granada, contra Henrique de Trastâmara, que tinha subido ao trono depois de assassinar o seu meio-irmão Pedro "o Cruel". Para fimar a aliança foi acertado o seu casamento com a filha do Rei de Aragão: D. Leonor de Aragão...
No entanto a guerra esteve longe de nos correr de feição e como tal o Rei foi obrigado a assinar a paz com Castela, selado por um novo acordo nupcial que fazia letra-morta o anterior. Assim, D. Fernando tornou-se noivo de D. Leonor... de Castela.
A saga das "Leonores", não ficava por aqui porque entretanto o Rei enamora-se de D. Leonor Teles, fidalga que frequentava a corte mas que era casada... O povo de Lisboa revoltou-se contra esta atitude pecaminosa, mas o rei furtou-se e conseguiu casar com a sua amada. É compreensível que o Rei de Castela se tenha sentido enganado e decidiu invadir Portugal. D. Fernando foi buscar auxílio ao Reino de Inglaterra (vem deste acontecimento a célebre alianca luso-britânica que ainda hoje está em vigor) porque o segundo filho de Eduardo III, genro do falecido Pedro "o Cruel" constitui-se como pretendente do trono. A ajuda britânica não chegou a vir e o resultado foi mais uma derrota para as hostes portuguesas, em termos ainda mais duros com D. Fernando a ser cercado em Santarém e obrigado a rasgar o acordo com Inglaterra e a entrar uma vez mais na órbitra de Castela.
As guerras com Castela não se ficaram por aqui. Após a morte de Henrique de Trâstamara e a subida ao trono de D. João I, o iluminado D. Fernando achou que o reino vizinho estava numa posição de fragilidade que importava aproveitar com o "ressuscitar" da aliança com os britânicos. Enganou-se (uma vez mais) e esta aliança só foi prejudicial. Os ingleses enviaram uma esquadra para o Tejo para nos auxiliar na guerra com os castelhanos mas o mais próximo que estiveram da actividade bélica foi exercida contra os portuguesses numa canalha pilhagem a que se dedicaram durante a sua estadia. O Rei de Castela atacou bem no coração do Reino, com Palmela, Lisboa e Sintra a não serem poupadas. O tratado de Salvaterra acabou por ser benevolente para os britânicos. Foram-lhes concedidas facilidades de transporte para poderem regressar ao seu pais. O mesmo não se pode dizer das consequências para Portugal, que ficou com o seu futuro em perigo depois da aliança de casamento de D. João I com a filha única de D. Fernando (Dª Beatriz) e herdeira do trono.
Foi este triste tratado que deu origem à crise de 1383-85, mas também nos deu o pretexto para nos vingarmos em Aljubarrota de todas as humilhações frente ao exército deste mesmo D. João I de Castela. A diferença é que desta vez, em lugar do titubeante D. Fernando, havia um D. João I, Mestre de Aviz, e o seu condestável D. Nuno Álvares Pereira. Mais importante ainda, havia um povo unido em torno do seu Rei. O tal da Boa-Memória...
No final do século XIX estava na moda o revivalismo. Existem várias explicações para o sucedido mas a principal foi a necessidade de afirmação de uma burguesia que tinha feito fortuna com a política de fomento de Fontes P. Melo. Foram estes novos-ricos que iniciaram a moda de construir palácios inspirados nos antigos exemplares de arquitectura gótica e barroca - vulgarmente designado por pastich - com o objectivo de transmitir uma imagem de prestígio e de nobreza. No fundo, queriam livra-se do rótulo de novo-rico e do preconceito social que lhe estava associado e pensavam que ao construir um palácio em estilo antigo trasmitiriam uma imagem de nobreza antiga e abastada. O Palácio da Regaleira, projectado pelo arquitecto italiano Luis Manini por encomeda de Carvalho Monteiro - o chamado Monteiro dos Milhões - é um exemplo flagrante desta moda de então. Esta tendência não se ficou pela arquitectura civil. Com este advento inventou-se um novo estilo romântico tardio, inspirado no tardo-gótico manuelino, que ficou conhecido como Neo-Manuelino e cujos exemplares mais conhecidos são a Estação do Rossio e o Palácio do Buçaco. Para o ressurgimento do manuelino contribuiram outros factores, sendo o principal a perda do Brasil e a tentativa de construir em África um novo Brasil, cujo primeiro impulsionador fora o Marquês de Sá da Bandeira. Criou-se genuinamente na sociedade portuguesa a ideia de reerguer a pátria e a Conferência de Berlim de 1884/5 (onde as grandes potências europeias dividiram a esfera de influência no continente negro) tornou ainda mais urgente essa tarefa. Perante a cobiça dos nossos territórios, lançou-se uma autêntica corrida ao povoamento para o sertão africano, ficando célebres as campanhas de exploradores como Roberto Ivens, Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo, etc (os seus nomes estão todos nas Ruas do Chiado). Esta quimera caiu por terra com o Mapa Cor- de-Rosa e o Ultimato de 1890, contribuindo para a queda da Monarquia. Esta corrida africana deu um novo alento ao mito Sebastiânico do V Império - de que Fernando Pessoa viria a ser ma o mais ilustre intérprete - buscando inspiração no período mais glorioso da História de Portugal : o reinado do "Venturoso".
A Estação do Rossio reune todos estes elementos. Em estilo Neo-Manuelino, não faltam as cordas dos navios e as esferas armilares, tem omnipresente o mito Sebastiânico e a Ideia do V Império. Provavelmente passa despecebido, mas as portas da Estação estão desenhadas em forma de ferradura, aludindo ao cavalo Branco de D. Sebastião a galope do qual ele regressará numa manhã de nevoeiro para reinar sobre todos nós e devolver à Pátria a grandeza pretérita. Entre as portas encontra-se uma estátua com o próprio D. Sebastião, segurando um escudo com 7 castelos, mas cujas mãos ocultam dois deles. Será mais uma referência ao V Império? Vitor Manuel Adrião na sua obra "Lisboa Insólita e Secreta" acredita de sim.
Como Deus escreve direito por linhas tortas quis o destino que esta estação ligasse a capital do Império (Lisboa) à capital do Romantismo em Portugal (Sintra). Já dizia Fernando Pessoa que o V Império seria um império espiritual, de poetas, e que nasceria um novo Camões para o imortalizar (Pessoa não duvidava que seria ele próprio). Não podia ser essa a intenção de José luis Monteiro, arquitecto que a projectou para ser a estação central de Lisboa ainda no século XIX, porque esta rota é já da década de 80 do século passado (a linha de Sintra tinha o seu terminal em Alcântara Terra), mas não deixa de ser mais um sinal do Destino Manifesto que Lima de freitas ilustra nos seus paineis nesta mesma gare.
Outra curiosidade: foi em Sintra que D. Sebastião presidiu à última audiência do seu reinado...
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