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D. João II será certamente um dos reis mais controversos da nossa História. Ninguém questiona que foi um grande Homem, e como todos os grandes, consegue despertar amores e ódios, sendo este efeito polarizador o que os distingue da mediania, palco dos que nunca saíram da sua zona de conforto. Neste post não me vou debruçar sobre as grandes conquistas de D. João II, até porque elas são sobejamente conhecidas, nomeadamente o impulso que deu à expansão ultramarina através do plano, por si gizado, de chegar a oriente através da circum navegação do continente africano. Assistiu em vida à dobragem do Cabo das Tormentas por Bartolomeu Dias (1488), que baptizou de Boa Esperança, e que representava a esperança de chegar à Índia e às sua riquezas por via maritima e combater o monopólio dos turcos que então forneciam a Europa das especiarias indianas por via terrestre.
Os "podres" de D. João II estão ligados à sua luta sem quartel pelo fortalecimento do poder real, desbaratado pelo seu pai - D. Afonso V. Terá dito que o pai só lhe deixara as estradas do reino para governar, e na realidade não terá exagerado nessa sua análise. Quando assumiu o trono teve que restabelecer o prestígio da coroa e mudar velhos hábitos que já estavam enraizados e assumidos pela nobreza portuguesa. A pergunta a que ainda ninguém conseguiu responder foi esta: terá D. João II perseguido os nobres para reverter para a coroa os bens que o seu pai tinha doado ou, pelo contrário, foram os nobres que tentaram desde o primeiro momento afastar do trono este Rei austero?
Não sei qual das duas teses é a mais correcta, e pode suceder que a verdade não seja nenhuma das duas, mas um intrincado jogo de interesses opostos que coexistiram desde a primeira hora.
Os casos mais celebres foram a execução do Duque de Bragança e a conspiração do seu primo e cunhado D. Diogo. Comecemos pelo Duque de Bragança, que acabou os seus dias enforcado na Praça do Giraldo em Évora. A suspeita de que o Duque estaria a atentar contra a vida do monarca terá sido fundamentada em correspondência que este trocara com o Reis católicos e que chegaram às mãos de D. João II. Após um julgamento foi sentenciado à forca à vista de toda a gente em 1483, para mostrar que os tempos tinham mudado e que o novo Rei (reinava há dois anos) não hesitaria em sentenciar quem quer que fosse para fazer cumprir a sua vontade.
Este episódio terá sido um sério aviso para a restante aristocracia e ao mesmo tempo permitiu ao monarca aceder aos extensos bens da Casa de Bragança, que provinham desde os tempos do Condestável Nuno Alvares Pereira, e que reverteram para a coroa através da extinção da casa brigantina, restabelecida mais tarde por D. Manuel. Houvesse ou não anteriormente um plano da nobreza portuguesa para matar o Rei, este acontecimento tê-los-á levado a definir uma estratégia para o eliminar antes que semelhante sorte lhes batesse à porta.
Assim, dois anos mais tarde, houve uma nova tentativa de regicídio. O estratagema era o seguinte: o Rei gostava muito de ir caçar a Alcácer e os nobres portugueses conceberam o plano de esperá-lo na praia em Setúbal e aí, onde não teria hipótese de recorrer a outra ajuda que não o dos seus homens de confiança, não teria hipótese de se salvar. Nessa conspiração estavam envolvidos, entre outros, o Duque de Viseu (irmão da Rainha), o Bispo de Évora (D. Garcia de Meneses) e D. Guterre Coutinho que era Alcaide-Mor de Sesimbra. Terá sido por uma inconfidência do Alcaide de Sesimbra a seu irmão - D. Vasco Coutinho - que o plano não vingou. D. Vasco informou o Rei da cilada, mas pediu-lhe que poupasse a vida do irmão. Sabendo de antemão desta conspiração, D. João II regressou por via terrestre a Setúbal e assim que chegou mandou chamar o seu cunhado ao Paço, onde o apunhalou (ou mandou apunhalar...). Conta-se que D. João II lhe terá perguntado "O que farias se soubesses que alguém te quer matar? Matava-o primeiro, respondeu-lhe D. Diogo" e assim o Rei fez justiça. Quanto aos restantes conspiradores, o Bispo de Évora foi encerrado numa cisterna do Castelo de Palmela, onde morreu envenenado. D. Guterre Coutinho, ao contrário do que o monarca prometera a seu irmão, acabou os seus dias no Castelo de Aviz, onde também terá morrido envenenado.
Diga-se, no entanto, que D. João II perdeu esta guerra porque acabou os seus dias num estado de saúde muito frágil, tendo sido, muito provavelmente, também ele envenenado. Viria a falecer em Alvor, para onde se deslocou para fazer um tratamento termal. Curiosamente não terá ído para as Caldas, onde a sua mulher tinha mandado construir uma termas. Este facto não será alheio ao distanciamento que a morte do seu irmão terá causado no seio do casal. O próprio Duque de Beja, futuro D. Manuel I, terá sido chamado pelo Rei, mas este, supostamente por conselho de D. Leonor, não cumpriu esta ordem, talvez por temer pela sua vida. Recorde-se que D. João II tinha um filho bastardo, D. Jorge de Lencastre, mestre da Ordem de Santiago, e que este tentou que lhe sucedesse.
Perfeito ou Imperfeito? Eu acho que, como todos os homens, foi perfeito e imperfeito. Todos nós, por mais modesto que seja o nosso contributo, temos coisas de que nos orgulhamos e outras que nem por isso. O que importa e fazer um balanço entre estas duas vertentes e ficar com a convicção de que o saldo é positivo. Foi este o caso de D. João II. Perfeito não será mas foi, sem dúvida, um grande Rei.
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