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Aqui foram arrasadas e salgadas as casas de José Mascarenhas, exautorado das honras de Duque de Aveiro e outras, condemnado por sentença proferida na suprema juncta de inconfidência em 12 de Janeiro de 1759. Justiçado como um dos chefes do bárbaro e execrando desacato que na noite de 3 de Setembro de 1758 se havia cometido contra a real e sagrada pessoa de D. José I. Neste terreno infâme se não poderá edificar em tempo algum.
Este texto está inscrito na face sul da coluna do Beco do Chão Salgado. O facto de se encontrar num beco esconso, rodeado por casas onde, entre outras, se situa a famosa Confeitaria de Belém é a prova de que o propósito do monumento não foi cumprido. A legenda desta coluna dispensa grandes explicações. No local encontrava-se um dos palácios do Duque de Aveiro, que foi demolido na sequência do processo de tentativa de regicídio em que o titular e proprietário foi um dos sentenciados. A execução até nem ficou longe dali, num patíbulo construído para o efeito. Este foi o culminar do que ficou conhecido como o processo dos Távoras, onde foram implicados e sentenciados os Marqueses de Távora e seus filhos e o Duque de Aveiro, com uma violência que impressionou os coevos, pela brutalidade com que foi aplicada a sentença.
O início da história conta-se em poucas linhas. No dia 3 de Setembro de 1758 o Rei Dom José regressava à real barraca da Ajuda (depois do terramoto nunca mais o Rei quis viver em paços de alvenaria), e foi atingido a tiro na Calçada do Galvão, sendo o local assinalado pela Igreja da Memória, mandada contruir pouco tempo depois. O Rei sobreviveu ao atentado e Sebastião José (que hoje repousa na dita Igreja da Memória) não perdeu o ensejo para conduzir um processo que, dizem os juristas, é bastante frágil.
Não me alongarei sobre o processo em si até porque não sou jurista (embora também não seja historiador e escreva sobre História) mas não é dificl imaginar que este processo tenha tido uma motivação fortemente política. O futuro Marquês de Pombal tinha uma concepção política que bebera na Austria onde desempenhou uma missão diplomática ainda no reinado de D. João V e que pode ser simplificada na expressão feliz de Despotismo Iluminado. Ou seja, entrava-se na Idade Moderna, privilegiava-se o saber e a divulgação do conhecimento livre de preconceitos religiosos, mas baseado no controlo do processo pela real figura. Por este motivo Pombal perseguiu (e expulsou) os jesuítas, que eram os grandes mestres do ensino em Portugal, e a alta nobreza - grandes opositores desta política de fortalecimento do poder real nas mãos do homem de confiança de D. José. Pombal também aprendeu que a terceira classe era o Povo e nesta ânsia de tudo controlar puniu severamente um desacato provocado nas tabernas portuenses, provocado pela proibição da venda de vinho a copo.
Regressando ao monumento de Belém, a primeira ideia que me vem à memória é aquele velho ditado "pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita". Para ser uma fiel representação do que foi a História da Casa de Aveiro, a coluna devia ter uma certa inclinação para cumprir com este adágio. Foi uma casa que começou mal e acabou ainda pior.
A origem do Ducado vem da descendência bastarda do Príncipe Perfeito, D. João II. Ele tinha apenas um filho legítimo, D. Afonso, que morreu numa queda de cavalo em Santarém. Com a morte do seu único herdeiro, D. João II tentou que lhe sucedesse um outo filho, mas este bastardo, que era D. Jorge, que viria a ser mestre da Ordem de Santiago. Não conseguiu tal intento, ao qual se opôs a rainha e irmã do seu sucessor - o Venturoso D. Manuel. Este facto foi suficiente para ostracizar o infante da corte no reinado mais glorioso da História portuguesa.
O primeiro Duque de Aveiro foi um filho de D. Jorge e teve ainda um destino mais cruel. A sua desventura foi contada por Camilo Castelo Branco no seu romance "O Marquês de Torres Novas" (título de que também era titular). O drama do primeiro duque resultou do facto de o Infante D. Fernando (filho de D. Manuel) pretender casar com Dª Guiomar Coutinho, herdeira da casa de Loulé e Marialva e, pela grande fortuna, muito cobiçada. Sucedeu que o então Marquês de Torres Novas afirmou que já se tinha casado com a senhora e como tal ela não podia desposar o infante. Essa sua pretetensão levou-o até ao cárcere do Castelo de São Jorge, onde ficou quase uma década. O título de Duque de Aveiro foi-lhe concedido depois deste episódio, por D. João III, quem sabe se para desagravar os tormentos que lhe infligiram.
O 2º Duque, D. Jorge, morreu na batalha de Alcácer Quibir, ao lado de D. Sebastião. Menos glorioso foi o legado do 4º Duque, Dom Raimundo, que foi condenado em estátua por traição à pátria, por passar-se para o lado espanhol na Guerra da Restauração, depois da regente Dª Luisa de Gusmão lhe confiado altas responsabilidades na Guerra da Restauração.
Por fim, o 8º e último duque morreu no patíbulo de Belém, depois de lhe terem sido quebrados os ossos de braços e pernas, numa cena de violência que apenas tem comparação com a célebre execução dos carrascos de Inês de Castro por parte de D. Pedro.
Hoje resta o monumento a assinalar este pedaço de História.
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