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Se existe um denominador comum aos dois maiores poetas portugueses, para além do seu talento indiscutível, são os versos encomiásticos que dirigiram a D. Sebastião. Se no caso de Camões isso seria praticamente obrigatório, no caso de Pessoa essa devoção sempre foi um mistério para mim. Os Lusíadas são publicados em 1572, em pleno reinado de D. Sebastião, pelo que é normal que Camões dedicasse a obra ao ilustre descendente daquela gesta ilustre de que nos fala a sua obra-prima. Mas Camões não se ficou pelo elogio, na última estrofe incentiva-o a continuar os feitos notáveis de seu avós, que era, diga-se, voz corrente na altura para fazer face às dificuldades crescentes, que nem sequer poupavam as classes mais privilegiadas. O país estava sedento de um projecto mobilizador e achava-se que a porta de saída do marasmo em que tínhamos mergulhado era a conquista de Marrocos. Para Pessoa, o rei “Encoberto” talvez tenha sido mais uma charneira entre o Império Manuelino do século XVI e o seu imaginário “V Império”, em pleno século XX, forjado nos versos dos poetas. Voltaríamos a ser grandes, a ter o mundo nas mãos, mas num Império espiritual, místico, que começaria com o regresso de D. Sebastião, ponto de inversão desta trajectória descendente que seguíamos desde o seu desaparecimento nas praias marroquinas.
O mito do regresso de D. Sebastião é talvez o fenómeno mais conhecido da História de Portugal, embora por vezes não seja compreendido em toda a sua plenitude. Em primeiro lugar, estaríamos a ser desonestos se atribuíssemos a D. Sebastião a excusiva responsabilidade pela decadência portuguesa, que ninguém discute que teve lugar no final da Iª metade do século XVI, mas que é anterior ao seu reinado. Com D. João III, seu avô, já nos debatíamos com a concorrência que nos moviam os holandeses nos mares da Índia, e faltava um plano estratégico que nos permitisse gerir um Império espalhado por quatro continentes. O único facto positivo, foi o abandono das praças do norte de África, que nunca serviram para nada, para além de ser um sorvedouro de recursos do reino.
Para este cenario sombrio, contribuiu ainda a expulsão dos judeus, grandes senhores da finança, que dominavam o comércio das Índias, e que se acentuou com o estabelecimento da inquisição em 1536. Não é por acaso que ainda hoje dizemos a alguém, quando não queremos que faça algo, para ter cuidado que se pode queimar…
Ao contrário do que se possa pensar, D. Sebastião não foi só “o desejado” depois da sua inglória partida para Alcácer Quibir. Ainda não tinha nascido e já o era, não estivesse o Reino a suspirar por um varão que pudesse suceder ao seu avô, D. João III. Isto porque o seu pai, príncipe D. João, era o único filho homem que podia suceder ao “Piedoso”. Parece que teve sempre uma saúde muito frágil. Ainda o conseguiram casar com uma filha do Imperador Carlos V, mas morreu quando a sua mulher estava grávida deste menino. Deste menino, digo eu agora. Na altura, ninguém sabia se era menino ou menina, até que a criança efectivamente nascesse. Começou aí o epíteto de “O Desejado”, porque o Reino rezava por um varão que pudesse chegar a Rei. As preces divinas foram atendidas e em 1554 nasceu um menino, única vergôntea real. Três anos depois, morre D. João III, e essa criança é o novo Rei de Portugal. A regência é ocupada primeiro pela sua avó, D. Catarina, e mais tarde pelo Cardeal D. Henrique, seu tio-avô, que na altura era Inquisidor Mor e viria a ser o último monarca da Casa de Aviz.
A saúde do novo rei era uma preocupação constante, porque era aquela criança o penhor da independência portuguesa, e era crucial que pudesse chegar à idade adulta e casar, para dar ao reino descendentes. Voltou a cumprir-se o desejo da nação. O jovem Rei completou 14 anos, idade em que se atingia a maioridade, e começou o seu reinado pessoal. A partir daqui é que a situação se complicou. Não tanto pelos devaneios que lhe povoavam a mente, que outros monarcas não tiveram em menor grau, e que tinham ressonância na sociedade de então, mas pela sua completa aversão a mulheres. Não faltaram tentativas para o casar, mas o Rei nunca manifestou o mais leve indício de querer contrair matrimónio para dar um herdeiro à já velha monarquia fundada por D. Afonso Henriques. E foi sem casar, nem perspectivas disso, que se meteu naquela aventura pelo norte de África que nos colocou praticamente debaixo do jugo espanhol. Não discuto sequer a batalha em si, porque não existem relatos conclusivos sobre o que terá sucedido ao Rei nesse dia 4 de Agosto de 1578. O que relevo, é que esta data, que podia ser a certdão de óbito do Sebastianismo, acabou por ser um passaporte para a eternidade, com maior populariade em períodos de dificuldade, ou não vivessemos nós também em dias sombrios.
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