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Raramente um só homem consegue ter tanta influência no seu tempo como teve Bonaparte. Estadista, general, líder de um país que pretendia dominar a Europa, é ainda hoje idolatrado por muitos, como é disso prova a romaria ao seu túmulo no cemitério dos “Invalides” em Paris.
Mas quem foi afinal este homem? Para começar ele não era propriamente francês. Nascido na Córsega, ilha meio francesa meio italiana que tinha sido ocupada em 1768 pela França um ano antes do seu nascimento (1769), nasceu no seio de uma família importante na “noblesse” local. Bem cedo se apercebeu que a sua ambição desmedida tinha terreno mais fértil na França revolucionária do que na pequena Córsega, o que o levou a abandonar as suas origens e ir para França.
Foi um militar com uma folha de serviço distinta na guerra Italiana, no contexto da guerra europeia contra as coligações de paises europeus que pretendiam estancar a hemorragia revolucionária francesa.
A sua fama rapidamente conquistou o Directório, embora a chegada ao poder tenha sido feita pela via de um golpe militar, o 18 de Brumário de 1799, que instaura em França o período a que se designa de Consulado, sendo Bonaparte o Iº Consul. Daí até à sua auto-coroação como Imperadore, perante o próprio Papa, num sinal impressionante de força e grandeza, foi um passo.
As vitórias militares que ascenderam a mais de 60, conseguindo moldar a Europa aos seus desígnios, numa espécie de monarquia de família, que constituia na deposição dos antigos monarcas e na coroação de membros da sua família. Assim fez, por exemplo, na Holanda, com o seu irmão Luis (pai do futuro Napoleão III) ou em Espanha com o seu irmão José. A sua dinâmica parecia imparável, sendo a Inglaterra o único empecilho para conseguir uma vitória total.
O palco desta luta anglo-francesa foi numa fase inicial travada no mar, onde a Inglaterra mostrou a sua superioridade em Trafalgar (1805). Depois de Napoleão se aperceber que pelo mar nunca venceria os ingleses, a luta passou sobretudo para terra, decretando o Bloqueio Continental, no qual fomos implicados pela histórica aliança luso-britânica
A Península Ibérica tornou-se a partir de 1807 o principal palco de luta entre as duas principais potências europeia de então, embora Napoleão nunca tenha combatido pessoalmente com o exército de Wellesley. Os mais prestigiados marechais franceses de então passaram pela península, como Soult, Massena ou Junot, ficando o embate entre Napoleão e o futuro Duque de Wellington reservado para Waterloo onde o (regressado) Imperador dos franceses foi batido em toda a linha.
Se o papel de Napoleão na História é incontestável, a glória de que se alcandorou é mais discutível. Seria Napoleão um génio militar? Se tivesse que responder dicotomicamente a esta questão, diria claramente que não o era. A sua vida militar não revela nem grandes dotes estratégicos nem tácticos, mas mesmo assim é incontestável que conseguiu vencer a maioria das batalhas onde participou. Porquê?
A minha opinião, que é aquela defendida pela maioria dos especialistas militares, é que a enorme superioridade francesa em termos militares se deve acima de tudo a uma questão demográfica. A enorme superioridade em termos de efectivos da França face aos restantes paises europeus era considerável, numa altura em que a guerra de infantaria costumava decidir a sorte das armas.
A somar à superioridade em termos de número de militares soma-se o carisma de Napoleão e a sede de conquista de um povo que tinha operado uma revolução que mudara completamente a sociedade francesa e europeia. O carisma do líder, a vontade de combater e a superioridade númérica, formam o trinómico vencedor da França napoleónica.
Se analisarmos as campanhas miliateres de Bonaparte vemos as suas limitações como comandante operacional. Tendo a vantagem de não ter que responder perante instituições representativas como era o caso de Wellignton – que tinha que responder perante a Câmara dos Comuns – manifestou um grande desprezo pela vida dos seus militares. Nunca se preocupou com questões como o abastecimento (de homens e animais), linhas de comunicação ou de planos de contingência. Essas lacunas foram evidentes na campanha da Rússia. Apenas se preocupou em chegar rapidamente a Moscovo, nas campanhas rápidas que o caracterizavam, a “mata-cavalos”, sem se preocupar com o dia seguinte. O resultado foi uma ctástrofe. Kutuzov, general russo, abandonou Moscovo, deixando a cidade deserta e sem qualquer abastecimento, numa política rigorosa de “terra queimada” e os franceses tiveram que regressar a casa, por não disporem de meios de subsistência.
Esta batalha ditou a queda de Napoleão e o exílio na Ilha de Elba, mas depressa o Imperador dos Franceses conseguiu fugir e regressou à Europa para uma última batalha – Waterloo.
Mas uma vez, Napoleão não se preparou para este embate contra o meticuloso Wellington, que o venceu claramente com o auxílio dos Prussianos. Napoleão seguiu a estratégia do costume. A formação de um enorme corpo de infantaria, que se desdobrava em leque numa frente considerável, avançando em seguida para a vanguarda do inimigo. É uma táctica básica perante um exército comandado pelo astuto Wellington.
O general Inglês costumava esconder largas dezenas de milhares de efectivos em encostas (a táctica da encosta invertida), atacando no momento decisivo, sendo rigoroso na definição de planos de fuga em caso de derrota e no abastecimento de homens e animais.
Diz-se que na véspera da batalha de Waterloo Napoleão estava mais azafamado na escolha da farda com que entraria triunfalmente em Bruxelas do que na batalha propriamente dita. O resultado foi que teve que levar os galões para Santa Helena, contando com a benevolência dos ingleses que o podiam ter prendido em Inglaterra ou enviado directamente para a Prússia, onde seria certamente fusilado.
Não consigo encontrar uma melhor definição para o suposto génio militar de Bonaparte do que aquela que foi feita por um general Inglês – Napoleão não passa de uma martelo-pilão.
É essa a minha opinião. Carismático, denodado, ambicioso e possuindo um povo numeroso que o seguia religiosamente. Com todas estas condições, fosse Napoleão um grande General e hoje, provavelmente, todos os europeus falariam francês.
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