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A chamada reconquista cristã, que teve no nosso primeiro Rei o seu mais conhecido protagonista, foi um processo que teve lugar pouco depois da invasão islâmica de 711, que num espaço de meses ocupa a quase totalidade do território da península (à excepção de uma pequena parcela montanhosa nas Astúrias) e que apenas teve o seu epílogo em 1492, ano em que Colombo chega às Antilhas, com a queda de Granada.
O ponto de partida deste processo moroso costuma situar-se na Batalha de Covadonga, onde Pelágio I, designado líder da facção de Visigodos que se refugia nas Astúrias, à frente de um pequeno contingente consegue vencer os islâmicos numa batalha.
Não deixa de ser curioso que a invasão islâmica se tenha processado em meses, e que a reconquista tenha demorado quase 800 anos. Para termos uma ordem de grandeza, 800 anos é praticamente a idade de Portugal, que é o país mais antigo da Europa! A que se deve esta lentidão?
A resposta não é directa, mas os factores estão bem identificados. A própria invasão foi motivada por uma dissensão entre o Rei Agila e o chamado “usurpador” Rei Rodrigo, último Rei visigótico da península. O Rei Agila, sendo destronado, pediu auxílio às tribos berberes do Norte de África, que por uma questão de simplificação costumamos designar por árabes, mas que seriam na sua maioria constituída por berberes. O líder da invasão foi Tariq Ziad, que efectuou a invasão por Gibraltar (nome em sua homenagem Gebal Tarik, i.e. Porto de Tarik, que deu Gibraltar) e que depois de derrotar o Rei Rodrigo na batalha de Guadalete, progrediu rapidamente para Norte. A existência de um foco de resistência nas Astúrias nunca foi motivo de grande preocupação, pelo que foi tolerado.
A rápida progressão islâmica para norte, aparentemente sem resistência, deve-se à complacência das povoações autóctones. Por um lado, estes nativos, descendentes das civilizações castrejas, não estavam autorizados pelos senhores Visigodos a possuir armas. Estes receavam uma revolta, pelo que apenas eles possuíam armas. Como eram em pequeno número, foram facilmente batidos em retirada pela chusma islâmica proveniente do norte de África.
Por outro lado, apesar de hoje estar envolto de algum romantismo o processo de reconquista-glorificando os feitos dos descendentes dos visigodos que foram conquistando palmos de terra para a cristandade - o que se verificou foi precisamente o contrário. A conquista islâmica foi antes uma libertação, muito mais do que propriamente uma submissão. Os conquistadores eram muito mais tolerantes do que os Visigodos. Tanto cristãos como judeus sefarditas puderam manter a sua religião e os seus costumes, tendo apenas que pagar um imposto. Evidentemente, ao longo destes oito séculos houve momentos em que essa tolerância foi maior e noutros em que foi muito menor, não esquecendo que também existiram perseguições, principalmente aos judeus.
A reconquista cristã beneficiou muito da divisão, a partir do século XI, do antigo califado em pequenos reinos, que costumamos designar por taifas. Estas divisões nem sempre foram marcadas pela animosidade. Era comum estabelecerem-se alianças entre os cristãos e as taifas mouras, que se traduziam no pagamento de um tributo pelos príncipes berberes em troca de tréguas. Este regime de alianças vigorou até tarde. Quando o nosso rei D. Afonso III conquistou as últimas praças algarvias teve que negociar com Afonso X, o Sábio, que era aliado do príncipe berbere. A situação resolveu-se com o casamento do Rei de Portugal com uma filha sua, mãe do Rei D. Dinis, tendo esta aliança a particularidade de configurar um caso de bigamia, porque o Rei era casado com a Condessa de Bolonha, que ainda era viva.
Este regime de tréguas apenas foi com a divisão do Império de Fernando Magno na figura dos seus 3 filhos, Garcia, Sancho e Afonso, que viria a culminar com a hegemonia deste último, pai da Condessa Dona Teresa, coroado imperador como Afonso VI.
Foi com o Imperador que a reconquista assumiu um caracter mais vigoroso, não sendo alheio ao contributo que obteve nobres estrangeiros, que o auxiliaram nas batalhas com as taifas islâmicas. Foi o caso de Dom Raimundo, que casou com a sua filha (legítima) Dª Urraca, e a quem deu o condado da Galiza, e D. Henrique, que casou com Dª Teresa, outra filha sua (esta nascida fora do matrimónio), mãe de D. Afonso Henriques, a quem deu o Condado Portucalense.
Esta política acabou por não surtir o efeito desejado, não fossem as suas pretensões hegemónicas esbarrar com os desejos autonomistas de famílias poderosas que não se queriam pôr debaixo do manto imperial. Este fenómeno foi particularmente intenso na região entre Douro e Minho, autêntico berço da independência portuguesa, que viria a escolher como seu líder um príncipe, neto do imperador, mas já nascido num ambiente fortemente marcado pelo desejo de independência.
Esse percurso foi difícil. Ao problema militar (conquista de território) somou-se a questão do reconhecimento da autonomia face a Leão e Castela, naquilo que foi uma tarefa ciclópica mas concretizada ao longo do reinado do fundador da nacionalidade.
A reconquista na península apenas termina com a queda de Granada em 1492, testa-de-ponte da fé islâmica na península, que se aguentou durante tantos séculos pela facilidade de abastecimento que dispunha através de Gibraltar, á vista do continente africano.
A reconquista cristã não foi, nem nunca será, completa. Ficou a herança cultural, muito mais forte do que por vezes supomos.
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