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Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2012

O Enigmático Cristóvão Colombo

Na História da Humanidade, o protagonismo de Colombo só é superado por, imagine-se, Jesus Cristo. É uma figura incontornável, que abriu ao mundo um novo continente, que é hoje a América, mudando completamente o paradigma eurocêntrico, vigente até então.

O facto de ser muito discutido não o torna mais conhecido. Paradoxalmente, a sua biografia está repleta de omissões e contradições que não permitem chegar a uma conclusão aceitável, pelo menos de uma forma abrangente, na comunidade científica. Começando pelo próprio nome - Cólon ou Colombo? Não existem dúvidas quanto à existência de um Colombo genovês. Da mesma forma que ninguém contesta a presença na Península Ibérica de um Cólon. O problema é determinar se se trata da mesma pessoa ou não. Tem sido este o ponto de partida para as teorias mais ou menos especulativas sobre a sua naturalidade. Há muito que é aceite a tese genovesa, mas a sua nacionalidade também é reivindicada por franceses, espanhóis e, mais recentemente, por nós próprios portugueses.

Comecemos pela História mais aceite. Colombo era um tecelão genovês, filho de um cardador de lãs, que embarcou num navio genovês mas que foi atacado pelos corsários ao largo da costa portuguesa, conseguindo o pobre tecelão chegar a nado a Lisboa em 1476. Aqui, na cidade do conhecimento, autêntico Silicon Valley do século XV, onde gravitavam os principais especialistas de tudo o que diz respeito a navegações, este tecelão analfabeto, aprendeu português, astronomia, cartografia e geografia, sendo rapidamente admitido na corte de D. João II. Em 3 anos consegue inclusivamente obter permissão deste monarca para casar com uma fidalga portuguesa, Filipa Moniz Perestrelo, Comendadeira da Ordem de Santiago, e filha do capitão donatário da Ilha de Porto Santo, Bartolomeu Perestrelo.

Do estudo que efectuou, teve a brilhante ideia de propor a D. João II a navegação para ocidente, sabendo que o monarca acalentava o sonho de chegar à Índia por via marítima, para assim controlar o negócio das especiarias. Como o Príncipe Perfeito não aceitou o seu projecto, mudou-se em 1484 para Espanha, ano em que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, apresentando a mesma proposta aos Reis Católicos, que a patrocinaram. Assim, Cristóvão Colombo chega em 1492 às Antilhas, pensando que tinha chegado à Índia, território que foi reclamado imediatamente pela corte portuguesa e que, por conseguinte, obrigou a um novo acordo, firmado em 1494, que ficou conhecido por Tratado de Tordesilhas. Aceita-se também uma variante desta História, principalmente a partir de um documento que foi descoberto em 1904 por um coronel italiano, Hugo Asseretto, que nos indica que Colombo partiu de Génova para negociar Açúcar na Ilha da Madeira, sendo que, por essa via, estabelece-se em Lisboa.

Esta teoria do Colombo Genovês, humilde tecelão ou mercador, tem por base 3 documentos que o sustentam: A crónica de D. João II de Rui de Pina, que o menciona como genovês, o testamento - lido 72 anos após a sua morte - e o documento (só) encontrado por Asseretto em 1904 nos (muito) vasculhados arquivos de Génova.

Das 3 provas, apenas uma merece total credibilidade por parte dos investigadores. Rui de Pina é contemporâneo de Colombo e certamente o conheceu pessoalmente, pelo que é um obstáculo difícil de transpor do ponto de vista de atribuição de uma nacionalidade diferente da genovesa.

O testamento foi encontrado apenas 72 anos após a morte, com alguns erros de forma que levantam suspeitas de se tratar de uma falsificação. O principal é o facto de Colombo se dirigir ao filho e herdeiro dos Reis Católicos, que à data já tinha falecido. Por outro lado, o documento foi apresentado pelos genoveses que reclamavam a sua herança, pela mão de um falsário, anteriormente condenado por forjar documentos.

O documento Asseretto foi  apresentado em 1904 em Génova e também é contestado por se tratar de um documento que apenas foi encontrado no século XX nos arquivos de Génova, que serão, a seguir ao vaticano, os mais pesquisados do mundo. Porque motivo este documento não foi encontrado antes? Permanece a dúvida. Não será o documento uma arma do nacionalismo italiano, na ressaca da reunificação operada no último quartel do século XIX?

Independentemente dos documentos que sustentam a tese do Colombo genovês, existem factos que, no mínimo, tornam este caso bastante estranho. Segundo esta teoria, o plebeu Colombo (tecelão ou mercador, pouco importa) chega em 1476 a Lisboa, e logo em 1479 casa-se com uma fidalga portuguesa, da Ordem de Santiago, Filipa Moniz Perestrelo, filha do Capitão Donatário de Porto Santo (e um dos suposto descobridores do Arquipélago da Madeira) Bartolomeu Perestrelo, que carecia de permissão real para se casar. O mesmo plebeu tem logo acesso à corte do austero Dom João II. Não é muito crível que um plebeu, em tão pouco tempo, conseguisse tamanha ascensão social.

A teoria italiana também é rebatida por cronistas espanhóis que mencionam que Colombo (ou Colón) quando chegou à corte dos Reis católicos em 1484, informou-os que há 14 anos que tentava convencer o Rei D. João II a aceitar o projecto de chegar à Índia por ocidente. Ou seja, segundo esta tese, Colombo não chegou a Portugal em 1476, mas sim em 1470! De resto, esta ideia de Colombo não era propriamente original. Um italiano, mas este comprovadamente florentino, Paolo Toscanelli, já o tinha proposto a D. Afonso V, que não lhe deu grande importância. Na realidade, o “Africano”, apenas se preocupou com as conquistas norte-africanas e com a coroa de Castela. No seu reinado, a exploração da costa africana foi concedida a um mercador de nome Fernão Gomes, que não se poder considerar à altura do período henriquino que lhe antecedeu.

A somar a estes dados deduzidos do conhecimento da sociedade portuguesa de quinhentos, surgem novas pesquisas que não corroboram da tese da nacionalidade genovesa de Colombo. O corpo do Almirante, sepultado na Catedral de Sevilha, foi já no nosso século exumado, retirando-se amostras de ADN que foram analisadas nos EUA pela mesma equipa que esteve responsável pelos testes às vítimas do 11 de Setembro. Estas amostras de ADN foram comparadas com as das famílias que reclamam a sua descendência, nomeadamente genoveses, franceses e catalães, e o resultado das quase 500 amostras, foram todas negativas.

Por outro lado, foram analisados os textos que Colombo escreveu do seu punho, concluindo-se que não sabia falar (ou pelo menos escrever) em Italiano, e que o seu castelhano estava cheio de lusismos (ou na linguagem corrente, “portunhol”). Não deixa de ser estranho que um genovês não fale a sua própria língua, e que se exprima na língua da pátria de adopção de forma aportuguesada (e não italianizada). Infelizmente, não temos nenhum documento escrito por Colombo em Português.

O próprio sempre ocultou o seu passado. Poderá dizer-se que seria Judeu, o que seria um grande handicap, principalmente na Corte dos Reis católicos (os mesmos que obrigaram D. Manuel a expulsar os judeus de Portugal, caso quisesse casar com a sua filha Isabel), ou que queria esconder as suas origens humildes, quando já estava cheio de prestígio, depois da sua viagem de 1492/93. Não é pouco conhecida a tese de que seria um agente secreto de D. João II, que sabia perfeitamente que não tinha chegado à Índia, que tinha feito esta viagem com o intuito de afastar os castelhanos da rota do Cabo, a única que podia garantir a chegada por via marítima à Índia. É uma tese puramente especulativa, como especulativa é a tese do Colombo português. Não existe nenhum documento que nos diga que Colombo seria filho bastardo do Duque de Beja, Dom Fernando, filho de Dom Duarte adoptado pelo Infante Dom Henrique, e de Isabel Gonçalves Zarco. É uma teoria sedutora. Neste caso, seria irmão do Rei Dom Manuel I, e da Rainha Dona Leonor (criadora das Misericórdias) e primo e cunhado de D. João II e sobrinho de D. Afonso V.

Esta tese tem uma contrariedade, que na minha óptica é insuperável. Se Colombo fosse filho do Duque de Beja era um grande Fidalgo e jamais nenhum grande fidalgo enveredou pelas conquistas marítimas. Ir para uma viagem deste tipo significava passar por privações terríveis, desde fome, frio e o risco da própria vida, o que seria impensável para um fidalgo, mesmo por via bastarda. Os grandes descobridores, como Vasco da Gama, são geralmente escudeiros ou filhos segundos (no caso de Vasco da Gama ambas as situações), que viam nesta empresa a possibilidade de ascensão social. Não me parece verosímil que alguém tão fidalgo fosse embarcar nesta aventura.

Não tenho uma tese para defender, por muito que isso possa chatear os meus compatriotas. Acho que a tese genovesa e espanhola são frágeis, mas também não encontro sustentação para a portuguesa. O facto de Colombo ter atribuído nomes de terras alentejanas às ilhas das Antilhas, por si só não justifica nada.

Se calhar, o ideal é mesmo não atribuírem uma naturalidade ao Almirante. Colombo não tem nacionalidade, é um cidadão do mundo.      

publicado por Rui Romão às 08:39
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