O Conde de Castelo Melhor faz parte deste grupo exclusivo de homens de confiança dos monarcas pós-restauração. Os tempos já não se compadeciam com a acumulação nas mãos do rei de todos os poderes do Estado, pelo que a governação foi sendo entregue a pessoas da sua confiança. Podemos falar do Conde de Castelo Melhor (D. Afonso VI), do Conde da Ericeira (D. Pedro II) ou de Pombal (D. José I), não esquecendo os homens que instalaram o regime liberal em Portugal e que estiveram sempre muito próximos da coroa, como é o caso do Duque de Palmela, o Duque de Terceira ou o Duque de Saldanha (este último teve o seu canto do cisne na Saldanhada de 1870). Outros houve no período liberal que reservaram sempre uma distância "higiénica" para com o poder moderador, principalmente porque pertenciam à ala mais radical que esteve na base da constituição de 1822 (os chamados vintistas) como era o caso de Rodrigo da Fonseca, Silva Carvalho ou Manuel Fernandes Tomás.
No entanto, ao contrário dos nomes que citei, o 3º Conde de Castelo Melhor teve uma ascensão política que não dá azo a grandes elogios nem a sua obra se pode comparar aos homens que se seguiram, nomeadamente à do Conde da Ericeira e, evidentemente, à de Pombal porque estes tinham um plano para o país. Ericeira é considerado o "Colbert" Português por defender que a chave para o progresso era investir na produção interna para atenuar a nossa dependência face ao exterior. Pombal tinha um plano ainda mais lato, que não se restringia apenas ao campo económico, naquilo que ele entendia que deveria ser a construção de uma nova sociedade portuguesa.
Castelo Melhor foi um homem astuto soube ver uma oportunidade para assumir os destinos do pais junto do diminuido D. Afonso VI. Este monarca era um deficiente profundo, cuja doença nunca foi muito tida em conta porque o sucessor era o seu irmão mais velho D. Teodósio. No entanto o príncipe faleceu precocemente e quando morre D. João IV em 1656 é D. Afonso o legítimo herdeiro. D. Luisa de Gusmão assume a regência, seja porque o herdeiro contava apenas 13 anos e também porque era manifesta a sua incapacidade para assumir a coroa.
D. Afonso VI era muito diminuido e facilmente seduzível por gente de condição mais baixa que se colocava nas imediações do palácio para captar a sua atenção. Eram bandos de marginais que procuravam tirar benefícios da situação do rei. O mais conhecido desses marginais foi um tal de António Conti, genovês que o Rei chegou a instalar no próprio paço e lhe concedeu muitas mercês, gerando um grande escândalo. D. Luisa de Gusmão não podia tolerar uma situação dessas e deu ordens para o governo punir os prevaricadores que acompanhavam o filho nas saídas nocturnas, onde provocavam grandes desacatos. O Rei não gostou que a António Conti tenha sido aplicada a pena de degredo para o Brasil e instigado pelo 3º Conde de Castelo Melhor afasta a mãe da regência e assume os destinos do reino, num despotismo iluminado avant la lettre pela mão do Conde. No entanto a actuação de Castelo Melhor acabou por ser bastante positiva, tendo sido sob o seu governo que conseguimos importantes vitórias militares que nos garantiram a independência que conservamos ainda hoje, embora não se possa dizer que tivesse uma ideia para o futuro de Portugal. Contudo, é preciso perceber que todas as energias do país eram canalizadas para a guerra e nestas circunstâncias esta prioridade sobrepunha-se a todas as outras, com a curiosidade de ele ter sido apeado do governo em 1667, ou seja apenas um ano antes da Paz com Espanha que foi, em grande medida, obra sua. Foi responsável pelo casamento de D. Afonso VI com Maria Francisca de Saboia, sendo a sua preocupação a aliança francesa, mas foi precisamente este facto que motivou a sua queda. Provavelmente ninguém deu conhecimento à raínha do atraso mental do Rei e esta sentindo-se defraudada na ambição de ser raínha, interviu activamente na conjura que viria a afastá-lo do poder. Não existem provas de adultério entre Maria Francisca de Saboia e o futuro D. Pedro II, mas certamente que comungavam do interesse comum: afastar Castelo Melhor, que era, de facto, quem reinava em Portugal. As relações entre a Rainha e Castelo Melhor foram sempre tensas e foi numa resposta mais desagradável de um próximo do Conde - António de Sousa Macedo - que se despoletou uma crise que viria a dar origem à queda de Castelo Melhor. A Rainha terá exigido o afastamento do Conde mas o Rei resistiu até ao limite, sendo contudo impossível manter o Conde no cargo. Mais tarde voltou a chamar para o governo António Sousa Macedo (o seu antigo secretário de Estado) e perante este facto o futuro D. Pedro II, para zelar os interesses da Rainha, cercou o paço e exigiu a sua exoneração. Até à queda do próprio Afonso VI foi um passo, com o célebre episódio da entrada da Rainha no Convento da Esperança e a exposição epistolar do pedido de anulação do casamento por o mesmo não ter sido consumado.
Com a regência de D. Pedro II (que apenas assumiu a coroa após a morte do irmão que ocorreu em 1683) firmámos a paz com Espanha e a partir desta altura entra em cena o Conde da Ericeira, de certa forma sucessor de Castelo Melhor. Se este último foi o homem que garantiu a independência, o Conde da Ericeira era o homem certo para garantir o progresso. Era o homem certo mas no reino errado, e a sua governação resume-se numa enorme frustração que o conduziram à morte. O Conde morreu sem réstia de esperança de tornar este país algum dia próspero. Tivesse vivido mais um par de anos e saberia que se tinha equivocado, porque começavam a aparecer no Brasil umas pepitas de ouro que haveriam de marcar o opulento reinado de D. João V. Infelizmente não aproveitámos este ouro para desenvolver verdadeiramente o país, tal como não o conseguimos fazer recentemente com os fundos comunitários. Parece ser o nosso fado.
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