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Quarta-feira, 3 de Abril de 2013

A Maldição dos Primogénitos

Dom Pedro V, que era um homem brilhante mas muito dado a períodos de melancolia e de desânimo, dizia, enquanto príncipe, que não acreditava chegar a Rei. O seu argumento era válido: nunca um primogénito dos Bragança tinha chegado a Rei. Começou logo com o fundador da dinastia, cujo varão, Dom Teodósio, morreu de tuberculose aos 18 anos de idade, deixando o reino numa enorme consternação. Este Dom Teodósio destacou-se por ser um príncipe muito culto mas com uma grande dose de rebeldia, como prova o episódio em que se deslocou, sem autorização do monarca, para a frente de batalha nas campanhas da Restauração. Ficou para a História também por ter esbofeteado o Inquisidor-Mor por discordar de uma condenação sua. Morreu numa profunda agonia, mas de uma forma serena, em 1653, com a única preocupação de não agravar o sofrimento dos pais, principalmente de sua mãe. A sua morte acabou por ser uma catástrofe, porque volvidos três anos espirou o Rei sem um herdeiro à altura, prolongando-se a regência de Dª Luísa de Gusmão.

A subida ao trono de Dom Afonso VI, que era um deficiente profundo, em 1663, depois de afastar a sua mãe da regência, manietado pelo hábil Luís Vasconcelos de Sousa, Conde de Castelo Melhor, foi um drama nacional, com um epílogo a condizer. Na política de alianças que a diplomacia portuguesa se empenhou para legitimar a nova dinastia, conseguiu-se casar o Rei com uma princesa francesa, vagamente parente de Luis XIV, Rei de França. O empenho foi tanto, que se esqueceram de informar Dª Maria Francisca de Sabóia que o Rei era hemiplégico e impotente. A rainha não esteve para os ajustes e entrou em conflito com o Conde de Castelo Melhor e o seu secretário de Estado, António de Sousa Macedo, que dominavam completamente D. Afonso VI. Não suportando mais a sua situação, dá entrada no Convento da Esperança, escrevendo aos cónegos da Sé uma carta onde pedia a anulação do seu casamento por não ter sido consumado. Este episódio desencadeia um golpe palaciano que leva o futuro D. Pedro II para a regência, ao afastamento de Castelo Melhor e ao exílio do Rei nos Açores. D. Pedro seria Rei apenas em 1683, casando-se com a ex-cunhada, embora este casamento não tenha tido descendência varonil.

Do segundo casamento de D. Pedro II, com Maria Sofia de Neuburgo, após a morte de Dª Maria Francisca, nasceria finalmente um varão, que receberia o nome de João, em homenagem ao avô. Não viveria mais do que um par de semanas, mantendo a tradição brigantina de morte prematura dos herdeiros. Nasceria um novo varão, que recebeu o mesmo nome do irmão mais velho, mas que vingou, sendo em 1707 aclamado como D. João V, ficando para a História como o “magnânimo”, por ter sido o grande beneficiário da descoberta das areias auríferas na colónia brasileira.

Dom João V casou-se com uma princesa austríaca, Dª Mariana da Áustria, da qual viria a ter seis filhos, quase tantos como os bastardos nascidos da sua relação com a Madre Paula do Convento de Odivelas.          

Apesar da extensa prole, o primeiro filho (por sinal uma menina) nasceu somente três anos após o matrimónio. Esta infanta, a quem deram o nome de Maria Bárbara, viria a ser Rainha de Espanha, e está intimamente ligada à construção do convento de Mafra. Segundo a tradição, a construção daquele magnífico monumento está relacionada com uma promessa de D. João V, pelo nascimento de um herdeiro. O primeiro varão nasceria no ano seguinte, i.e. em 1712, e receberia o nome de Pedro, mais uma vez em homenagem ao avô. Uma vez mais, este herdeiro morreu na infância, recaindo a coroa sobre outro filho de D. João V, que viria a ser D. José I. Curiosamente, outro filho do “magnânimo” receberia o nome de Pedro, e viria a ser D. Pedro III pelo casamento com a sua sobrinha, a futura Dona Maria I.

D. José não teve varões, recaindo a coroa na sua filha mais velha, Dª Maria I. No entanto, parece que o poderoso ministro de D. José, Sebastião José de Carvalho e Melo, primeiro conde de Oeiras e Marquês de Pombal, nunca foi muito apologista desta sucessão, tentando influir junto do Rei para que a coroa fosse herdada pelo filho varão da Princesa do Brasil, D. José. O nome era, uma vez mais, uma homenagem ao avô e, para não variar, este rapaz não chegaria a Rei, apesar de ter casado (com a sua tia) matrimónio do qual não houve descendência. Sucede-lhe o Príncipe D. João, futuro D. João VI, que seria regente do reino, pela incapacidade psíquica que se foi manifestando na sua mãe.

A biografia de D. João VI é bem conhecida, ou não fosse o Rei que, confrontado com a invasão francesa, se exilou no Brasil para manter a soberania portuguesa (ou fugiu, segundo os relatos mais acintosos). Os filhos varões, D. Pedro e D. Miguel, não o são mesmo, ou não fossem os responsáveis pela guerra civil portuguesa, cenário do qual não existia memória desde o século XIII – conflito entre D. Sancho e o futuro D. Afonso III. No entanto D. Pedro, que viria a ser o primeiro imperador do Brasil e Rei de Portugal, não era o primogénito. Esse estatuto era de D. Francisco António, primeiro varão nascido do casamento de D. João com D. Carlota Joaquina, a mais malquista Rainha de Portugal, mas que morreu com apenas 6 anos de idade.

Dom Pedro teve um filho legítimo varão, que viria a ser D. Pedro II, Imperador do Brasil, mas abdicou da coroa portuguesa na sua filha mais velha, Dª Maria da Glória, futura Dº Maria II e mãe de D. Pedro V, o tal que, com este histórico, não acreditava que chegaria a Rei.

No entanto chegou, na sequência da morte de sua mãe em 1853, quando contava apenas 34 anos, a dar á luz o 11º filho. Após uma regência de 2 anos do seu pai, D. Fernando de Saxe Coburgo Gotha, o (re) construtor do Palácio da Pena, Dom Pedro chega a Rei. Casou-se com uma princesa alemã, Dª Estefânia, que ficou no coração do povo, mas que morreu passados poucos meses em Portugal, sucumbindo a uma engina diftérica, provocada pela intensidade da exposição solar, a que não estaria habituada na sua Alemanha natal.

O Rei morreria pouco depois, em 1861, nunca refeito do desgosto pela morte da sua consorte (terá sido o único Rei de Portugal a amar a Raínha), sucedendo-lhe o irmão, D. Luis I.

Dom Luis, que fou cognominado de “O Popular” teve dois filhos e ambos vingaram, mas helás, não receberia o nome do avô, mas do bisavô (e do lado materno) o popular (em Portugal) Carlos Alberto, Rei da Sardenha, e que morreu no Porto, local onde se exilou. Dom Carlos reinou de 1889 até 1908, ano em que foi assassinado no Terreiro do Paço. Não foi a única vítima desse execrando atentado. Com ele morreu o príncipe, o também promissor D. Luís Filipe, também ele primogénito, também ele recebendo o nome do avô Bragança (que era também o nome do Conde de Paris, seu avô materno), e também ele não chegaria a reinar.

Dos príncipes que referi muitos deles chegaram a adultos e foram vistos como esperanças na regeneração do Reino. No entanto, parece que caía sempre um anátema nas esperanças do país, mal que já vinha desde os tempos do príncipe Dom Afonso (filho de D. João II) e de Dom Miguel da Paz (filho de D. Manuel). No entanto, diga

-se em abono da verdade, que devemos sempre relativizar e distinguir as expectativas daquilo que são os resultados. Quem sabe se alguns desses príncipes não teriam o nome na lama se tivessem assumido as rédeas do poder? Quem sabe se essa aura não era mais relativa ao chamado “estado de graça” que ocorre sempre nos primeiros tempos da governação (ontem como hoje)? Quem sabe se Dom Pedro V, que era um Rei pouco dado à pose de monarca constitucional e apagado (como foi o seu irmão), não teria tido o mesmo destino do seu sobrinho Dom Carlos? Também o penúltimo Rei de Portugal foi visto como a esperança da nação. Era o Príncipe da ideia nova, que concitou em seu torno vultos de monta no nosso país como foi o caso de Oliveira Martins. Também ele acabou menos popular do que começou, apesar de ter sido um grande Rei.

 

publicado por Rui Romão às 08:46
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Quarta-feira, 11 de Abril de 2012

A Popularidade das Ultimas Rainhas de Portugal

As das rainhas a que me refiro no título são nem mais nem menos do que a última e a penúltima rainha de Portugal. Uma Italiana, outra francesa, mas ambas deixaram uma marca indelével na sociedade portuguesa da segunda metade do Século XIX e no início do século XX. No entanto, não podiam ser mais diferentes.

Dona Maria Pia era uma rainha perdulária, que não se coibia a gastos exacerbados na toilette, de pose senhorial, muito segura de si, mas com um temperamento impulsivo, que chegava a parecer mais uma cezarina do que uma rainha consorte. São históricas as palavras que dirigiu ao velho Duque de Saldanha, quando este cercou o Paço da Ajuda para intimar o Rei a demitir o ministério do seu arqui-rival Duque de Loulé, num golpe que ficou conhecido como a “Saldanhada”. Quando o velho lobo do Liberalismo foi apresentar, como era costume, os cumprimentos à Rainha, esta disse-lhe que se fosse ela o Rei, tê-lo-ia mandado fuzilar…

A prodigalidade da rainha foi sempre sustentada pela “boa vontade” de alguns argentários que então já prosperavam com o fomento do fontismo, com destaque para o Conde de Burnay, fundador, entre muitas outras empresas, da CUF, e cujo título se fica a dever aos sucessivos empréstimos que fazia à Rainha, nomeadamente para pagar os vestidos que usava uma única vez e depois doava ao Teatro São Carlos, para fazer parte do guarda-roupa dos espectáculos. Seria injusto não mencionar também a obra de caridade de Dona Maria Pia, na fundação de creches e no auxílio às vítimas de catástrofes.

Dona Amélia de Orleães, Princesa de França, Rainha de Portugal, bem podia ser caracterizada como o oposto da sua antecessora, não fosse ter sido também uma autêntica matriarca da caridade. Do seu legado fica a fundação das cozinhas económicas, o Instituto de Socorros a náufragos, o dispensário de Alcântara, entre outras obras de cariz cultural, como por exemplo a fundação do Museu dos Coches, que é ainda hoje, por larga margem, o mais visitado museu português.

A História de Dona Amélia não foi feliz. Casou-se em 1886 com D. Carlos, então Duque de Bragança, mas desse casamento só guarda más memórias. O Rei era conhecido pela fama de mulherengo, o que encheu de amargura o coração desta rainha que era, por influência literária, uma romântica, e que via os seus sonhos de um casamento feliz esbarrarem na frieza de um marido que via no consórcio um acto meramente político. Também D. Maria Pia sabia das aventuras do seu marido, D. Luís, reagindo com alguma virulência, mas que aparentemente não a mergulhavam na melancolia.

Este drama de Dª Amélia foi só o primeiro, e quem sabe o menos dramático enfrentou na sua vida. Assim que casou, a cidade de Paris quis homenageá-la, oferecendo-lhe uma réplica de prata de uma caravela portuguesa. Essa onda de entusiasmo que se fez sentir em França, levou ao exílio do seu pai, D. Luís Filipe, Conde de Paris, então pretendente ao trono pela linha da casa de Orleães.

Um ano depois, em 1887, deu à luz uma menina, Dona Mariana, que não resistiu muito tempo fora do ventre materno. Tinha então já um menino, D. Luís Filipe, nascido nesse mesmo ano, e D. Manuel, que viria a ser o último rei de Portugal, e que nasceu em Novembro de 1889, quando o seu pai era Rei há cerca de 1 mês.

De todos os dramas que viveu, o maior foi sem dúvida o que teve lugar no dia 1 de Fevereiro de 1908, quando o seu marido e o filho primogénito são assassinados em pleno Terreiro do Paço, sendo épica a sua atitude ao enfrentar os criminosos com um ramo de flores que lhe tinham dado quando desembarcou no Cais das Colunas. Esse drama marcou-a para sempre, embora lhe tenha dado a oportunidade, que talvez gostasse de ter noutras circunstâncias, para ser praticamente uma regente e ter o protagonismo político que o seu marido sempre lhe negou. Em Fevereiro de 1908 D. Manuel II era um jovem de 18 anos que se preparava para entrar para o curso de oficiais de Marinha, pelo que não tinha qualquer noção do trabalho que o esperava. Nessa situação difícil, a rainha mostrou a sua coragem e assumiu praticamente a condução dos destinos do país, o que lhe grangeou ódios de estimação, já antigos no seio dos republicanos.

Em 1910 veio o exílio, que ela conhecia tão bem, não fosse ela filha de um pretendente ao trono, que teve que sair de França porque a filha seria um dia rainha.

Mas porque motivo D. Maria Pia, perdulária, esbanjadora, de feitio sanguíneo, que terá dito um dia “que quem quer rainhas paga-as”, era imensamente popular até pelos republicanos (só ultrapassada pelo seu filho, Infante D. Afonso, que tinha fama de tonto) ao passo que a discreta Dª Amélia, que nunca manifestou qualquer sinal exterior de riqueza ou ostentação e que se dedicou à caridade toda a vida, era vilipendiada e odiada, principalmente pelas forças mais progressistas. A exacerbação era tanta que Eça de Queiroz foi imensamente criticado por ter escrito umas linhas elogiosas para com a Rainha…

É este o mote que justifica o título do post. Na minha opinião, a resposta está, nem mais nem menos, na História europeia do século XIX, nomeadamente na fase pós revolução francesa. Esquisito? Talvez. Mas vejamos a ascendência de ambas as soberanas, porque creio que foram estas famílias, com um papel relevantíssimo na França e na Itália pós napoleónica, que se encontra a chave para esse enigma neste nosso burgo lusitano.

Comecemos por Dª Maria Pia. Filha de Vítor Emanuel II, Rei da Sardenha e do Piemonte, foi o primeiro Rei de Itália. A Península Italiana no século XIX era um conjunto de Estados relativamente Independentes sem qualquer unidade política, dos quais se destacavam a Sardenha (a norte), os Estados Pontifícios (ao centro), e o Reino das Duas Sicilias (a sul), para além dos pequenos ducados. Digo que alguns apenas eram relativamente independentes, porque desde há muito que a influência austríaca, por força da política de consórcios, se fazia sentir. Foi precisamente por ai que se trilhou o caminho da Independência, começando por combater os Austríacos que ainda dominavam largas parcelas do território a norte, como Veneza e a Lombardia. Nos primórdios, essa guerra não correu bem, levando ao exílio do Rei Carlos Alberto, avô da Rainha Dª Maria Pia, que veio morrer no Porto, depois da derrota na batalha de Novara.

O seu filho, Vítor Emanuel II, aliando-se à França de Napoleão III (de que falaremos mais adiante), e apoiado por um grande valido, Cavour, haveria de retormar esta guerra saindo desta feita trinfante. A Sul, era outro heroi da independência que haveria de conquistar o Reino das Duas Sicilias, o famoso Garibaldi, dando um passo decisivo para a unidade Italiana. Mas para se completar este ramalhete faltavam os Estados Pontifícios, que era uma imensa parcela de território no centro de Itália, que estavam na posse da Santa Sé. E é aqui que, na minha opinião, reside a popularidade da Rainha Maria Pia. O exército de Victor Emanuel II invadiu militarmente estes territórios que se encontravam na soberania de Roma em 1870, levando o papa Pio IX, confinado ao Vaticano, a declarar-se prisioneiro. Este momento foi uma autêntica certidão de nascimento do Estado de Itália, e foi visto pelas forças progressistas como a vitória do mundo secular  sobre o clero, atingindo o seu máximo representante. Por isso Vitor Emanuel II, que era um monarca, sempre teve neste Portugal Liberal onde já se trilhavam os caminhos da República, uma imensa aura de prestígio que foi transferida para a sua filha, aquela menina que chegaria com apenas 14 anos a Portugal no dia 5 de Outubro de 1862 e que por cá ficaria precisamente 48 anos.

No caso de Dª Amélia, a história muda completamente de figura. A última raínha era filha do Conde de Paris, Luís Filipe de Orleães, pretendente do trono de França e neto do Rei seu homónimo, que reinou em França entre 1830 e 1848. A casa de Orleães era um ramo menor da Dinastia Borbon, que assumiu o trono após o desastrado reinado de Carlos X.

 Após a decapitação de Luís XVI  e do processo revolucionário liderado por Robespierre, que permitiu a ascensão de Napoleão Bonaparte, a França que se apresentou no Congresso de Viena de 1814/1815, após o fugaz regresso de Napoleão da Ilha de Santa Helena, restaurou a monarquia dos Borbons na figura de um irmão do rei decapitado, que reinou com o nome de Luís XVIII. Era um rei liberal, que percebeu que, apesar da restauração, os tempos tinham mudado e os poderes do Rei seriam necessariamente mais limitados. Foi um reinado relativamente pacífico, que não teve continuidade com o seu irmão e sucessor, Carlos X, que se comportou como um autêntico Rei Absoluto. Numa França ainda a fervilhar, houve um levantamento popular em 1830 e este este Rei foi obrigado a abdicar do trono. Abdicou num seu filho, mas que não foi reconhecido, passando a coroa para a casa de Orleães, na figura de Luís Filipe, Conde de Paris. Este monarca era de uma grande lucidez política, que se traduziu em algo que parece à primeira vista apenas uma questão de semântica, mas que foi determinante para se manter 18 anos no poder, apesar das constante revoltas das diferentes facções que se digladiavam no poder, desde legitimistas borbónicos, a napoleónicos e republicanos. Ele não se intitulou Rei de França, mas simplesmente Rei dos franceses. Ou seja, ele reconhecia que o poder emanava do Povo, de quem a Coroa dependia. No meio destes tumultos, a que se associou a burguesia que ia robustecendo o seu poder, foi afastado do trono em 1848, com a proclamação da República, que mais tarde degeneraria, por via plebiscitária, no Império de Napoleão III, abdicando o Conde de Paris no seu neto, também Luís Filipe, e que foi o pai da nossa Rainha Dona Amélia.

Ou seja, os republicanos portugueses viam D.Luís Filipe como um empecilho para as forças progressistas e republicanas, que tentavam tornar a França num estado avançado, e cuja luta os fascinava. Convém recordar que naquela altura a França era o farol do mundo. A intelectualidade portuguesa bebia avidamente tudo o que vinha de França, desde livros a jornais (com muitos dias de atraso), pelo que as revoltas francesas tinham uma repercussão enorme em Portugal, e seriam de certa forma inspiradoras para as lutas domésticas que travavam..

Com a República, após a queda de Luís Filipe, um sobrinho do antigo Imperador Napoleão Bonaparte apresentou-se a votos, ganhando a eleição por larga margem. Ao futuro Napoleão III, bem se podia aplicar aquela estrofe que Camões, jocosamente, dedica a Braz de Albuquerque, filho de Afonso de Albuquerque, Vice Rei da Índia, chamando-lhe avarento lisonjeiro, que apenas “doce sombras apresenta”. Ou seja, o seu único mérito era ser filho de um grande Homem, tal como Napoleão III.

No entanto, este sobrinho de Napoleão foi eleito presidente da República e mais tarde, por via plebiscitária, Imperador. Manteve o título até à Guerra Franco-prussiana de 1870, onde saiu derrotado e que culminou com a Comuna de Paris, no que foi o último sopro de chefia hereditária da História Francesa até à data.

A este processo assistiu o pai da Rainha Dª Amélia como um dos pretendentes ao trono, posição sempre ingrata, seja em república, seja em monarquia, mas ainda mais numa mescla de ambos os sistemas.

Evidentemente que a filha do Conde de Paris trazia consigo essa impopularidade, a quem os republicanos não poupavam nos epítetos, tentando passar a imagem de uma rainha beata, conservadora, saudosista do antigo regime, sem que nada se possa provar, a partir da sua conduta, do que lhe imputavam.

A simpatia que Dona Maria Pia granjeava, pela afronta do seu pai ao papa, antagonizava com a antipatia de Dª Amélia, filha do pretendente monárquico ao trono de França, país que se tornou definitivamente uma república em 1870, período em que o Partido Republicano Português começou a ganhar protagonismo político em Portugal.

No entanto, a dívida de gratidão que o país devia a Dª Amélia foi ainda paga em vida, com o apoio que o país lhe deu na França ocupada, mas sobretudo pela viagem que realizou ao nosso país no pós-guerra, onde visitou os locais que frequentou na sua juventude, e em que foi sempre acompanhada por banhos de multidão, cuja manifestação de afecto muito a sensibilizara.

No caso de Dª Maria Pia, que tal como a sua nora embarcou na Ericeira no dia 5 de Outubro de 1910, nunca chegou a regressar à sua pátria. Talvez um dia possam os seus despojos ocupar o lugar que lhe pertence em São Vicente de Fora.

Apesar de tudo o que referi sobre estas 2 mulheres, hoje ninguém discute que foram 2 grandes rainhas, a quem Portugal muito deve.

publicado por Rui Romão às 18:18
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Sábado, 31 de Março de 2012

A Caminho da República

A primeira república, nos 16 anos da sua vigência, debateu-se com um problema comum a todos os movimentos revolucionários. Por mais paradoxal que possa parecer, o cimento que une as várias facções dentro de um grupo é, quase sempre, o regime que combatem. Foi assim no 5 de Outubro, mas também no 28 de Maio ou no 25 de Abril. E é normal que assim seja. Só se pode construir algo de novo quando se derruba o poder que está instituído, pelo que é compreensível que a convergência se faça nesse plano, esquecendo as divergências quanto ao projecto político que se pretende implantar. O movimento republicano em Portugal não foi diferente. A Ideia de República começa a surgir em Portugal com a Revolução de 1820, levando à Constituição de 1822, que retirava praticamente o poder ao Rei. Durou pouco tempo esta constituição, sendo mais tarde substituída pela Carta Constitucional, outorgada por D. Pedro IV, que era muito mais moderada e atribuía muito mais poder ao Rei. No entanto o gérmen da revolução republicana ficou enraizado, principalmente nas hostes dos vintistas, responsáveis pela Revolução de Setembro, que mais tarde engrossariam as fileiras do partido de esquerda do rotativismo monárquico: o Partido Progressista.

Contudo, nem o Partido Progressistas, nem o Regenerador (moderado) conseguiram cativar todos aqueles que não se reviam no sistema político nascido da Revolução Liberal e assim começou a nascer a ideia de República. Não foi um processo rápido, muito por culpa da política de fomento de Fontes Pereira de Melo, que transformou completamente a face do país. No entanto, depois de Fontes, não surgiu nenhum Estadista à sua altura, e o regime cristalizou num parlamentarismo bacoco, que não ia muito além da luta de poder, sem um único projecto político no horizonte. O Conde de Abranhos, personagem de Eça de Queiroz, é uma caricatura sublime da figura-tipo dos políticos da segunda metade do século XIX. Nem as campanhas dos africanistas nos sertões africanos, que empolgaram verdadeiramente os portugueses, conseguiram obnubilar a ausência de ideias. Foi neste marasmo que os republicanos conseguiram encontrar terreno fértil para crescer. A sua implementação foi significativa sobretudo nos bairros operários, com destaque para Alcântara, primeiro baluarte industrial de Lisboa, e junto de uma burguesia citadina, constituída por funcionário públicos, professores, advogados, jornalistas e intelectuais (ou aspirantes ao estatuto).

Este movimento não teve a força que se podia supor. Socorro-me novamente de Eça, que pôs, na sua obra póstuma, “A Capital”, a sua personagem principal, Artur Corvelo, numa reunião de Republicanos, para percebermos a insipiência do movimento na década de 70 do século XIX. Contudo, existiram dois momentos marcantes, que alteraram completamente a face do republicanismo em Portugal num par de anos. O primeiro foi o IV centenário da morte de Camões, cujas celebrações foram completamente dominadas pelos republicanos (o regime não caiu no mesmo erro, dois anos depois, no centenário da morte de Sebastião José Carvalho e Mello) e o segundo foi o ultimato britânico, após a ocupação do território reivindicado pela Velha Albion, para aquele megalómano projecto de ligar o Cabo ao Cairo por caminho-de-ferro.

Logo em 1891, reinava D. Carlos há pouco mais de 1 ano, rebenta a revolução do 31 de Janeiro no Porto, que não conseguiu derrubar o multisecular regime monárquico em Portugal. Mas os republicanos fortaleceram-se e daí até ao regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, numa intensa campanha de terror, devidamente coadjuvada pela actividade parlamentar do sempre exaltado Afonso Costa, foi apenas uma questão de tempo.

Morto o Rei e o Príncipe, estava aberto o caminho para os republicanos conseguirem nas armas aquilo que nunca lograram nas urnas. Em 1910, Portugal era uma democracia, com as imperfeições e virtudes das demais congéneres europeias. Havia caciquismo como no Reino Unido ou em Espanha, o colégio eleitoral era restrito (no tempo da Iª República foi ainda mais) mas existia liberdade total, inclusivamente na imprensa, num formato que hoje seria completamente inaceitável, pela facilidade com que se caluniavam os políticos e a Família Real sem qualquer espécie de fundamento ou prova. A base de apoio dos republicanos estava sobretudo na pequena burguesia urbana, muito concentrada em Lisboa, ao ponto de terem conseguido ganhar as eleições na Câmara de Lisboa em 1908 (por esse motivo a instauração da República foi proclamada na varanda do Paço do Município). Existiram também dissidências e traições no seio dos partidos do rotativismo, nomeadamente no partido mais à esquerda, o Progressista, sendo o caso mais conhecido o de José Maria Alpoim, que fundou a Dissidência Progressista, e cujo envolvimento no regicídio ainda não foi completamente esclarecido.

Instaurado o novo regime, o antigo Partido Republicano dissolveu-se em 3 partidos: O Democrático, Evolucionista e Unionista. Não tinham uma grande clivagem ideológica. A maior diferença era ao nível do perfil de liderança. Entre os Democráticos pontificava o radicalismo de Afonso Costa. Este político tinha, enquanto ministro da Justiça do Iº Governo provisório, cometido diversas atrocidades, movendo uma perseguição feroz à Igreja. Teve sempre uma milícia (a Formiga Branca), pronta a combater nas ruas por aquilo que não conseguia alcançar pela via política, e cuja maior façanha foi o derrube de um governo, de Nunes da Costa, por parte de dois rufias: o Chico Fadista e o Ai Oh Linda!

Contra este radicalismo ergueu-se o Partido de António José de Almeida, o Evolucionista. Liderado por uma pessoa cordata, séria, arreigada a valores morais inabaláveis, tentou situar-se mais ao centro no espectro político, para procurar consensos no meio daquela constante agitação política, social, económica e militar. Debalde.

Surgiu ainda um terceiro partido, mas que nunca teve a relevância dos anteriores: o Evolucionista. Liderado por Brito Camacho, era um partido mais conservador, mas também por esse facto apresentava um programa político mais pragmático, mais orientado para o progresso e menos para o debate ideológico.

O resultado de tudo isto não foi brilhante. A República prometeu um país diferentes, a andar para a frente, que significasse uma ruptura com o passado monárquico, mas chegámos a 1926 muito pior do que em 1910, perdendo quase 2 décadas em atentados, no derrube de governos, enquanto o povo morria à fome e via os sonhos esfumarem-se. A culpa não foi dos políticos republicanos, até porque a maioria eram pessoas íntegras (não incluo Afonso Costa neste rol). O problema foi terem prometido o que nunca conseguiram cumprir, devido a um postulado básico que não souberam interpretar: pensar que todos os males estavam associados ao regime monárquico, o que estava longe de ser verdade. O regime parlamentar manteve-se com a República, mas as lutas de poder eram muito mais violentas, porque o sentimento de impunidade era total, e os políticos digladiavam-se pela procura de um espaço vital, que lhes conferisse protagonismo no novo regime. É sempre assim, senão vejamos que os actuais quatro grandes partidos portugueses também definiram o seu peso eleitoral entre 1974 e 1976. Em 1910, pensava-se que apenas bastava expulsar o Rei para ter um país melhor. Erro crasso. Não são os reis que fazem um povo. É precisamente o contrário.

publicado por Rui Romão às 08:33
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