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Quarta-feira, 23 de Janeiro de 2013

A Sardinha e o Salmonete

Quando Portugal escreveu a mais gloriosa página da sua História – a chegada à Índia por via marítima e a descoberta do Brasil – estava no trono o Rei D. Manuel I, cognominado de “O Venturoso”. No fundo este epíteto resume aquilo que ainda hoje se pensa que foi o seu reinado. Teve ventura, ou, numa linguagem mais corrente, muita sorte. Assim se explica que na Exposição Universal de 1998, os grandes homenageados tenham sido o Infante D. Henrique e D. João II, este último dando nome à principal avenida onde decorreu o certame.

Será justo este juízo? Confesso que já pensei que sim, mas hoje em dia tenho mais dúvidas. As minhas dúvidas fundam-se na análise do contexto em que D. Manuel recebe a coroa, muito a contragosto, diga-se, do seu antecessor – o implacável D. João II.  

Ao Príncipe Perfeito devemos um legado notável na construção de um projecto para Portugal. Sucedendo ao seu pai - o pusilânime D. Afonso V - viu na chegada marítima à Índia a chave para resolver o problema crónico da fazenda pública (este problema vem de longe).

Ao contrário do que por vezes se diz, as especiarias já chegavam à Europa muito antes dos portugueses abrirem a Rota do Cabo. Eram levadas pelo Mar Vermelho ou pelo Golfo Pérsico em navios turcos e depois o trajecto até as costas do Mediterrâneo era feito por terra em caravanas de mouros, que depois as vendiam a navegadores florentinos, genoveses ou venezianos que as transportavam para a Europa pelo Mediterrâneo. Com tantos intermediários, estes produtos - muito apreciados e valiosos – chegavam caríssimos à Europa.  

D. João II teve a ideia de aproveitar os avanços na exploração da costa Africana – obra do seu tio-avô, o Infante D. Henrique – para chegar à India, contornando África e assim dominando este lucrativo negócio. Sem intermediários nem portagens, estavam garantidas boas margens para o nosso país no comércio com os principais entrepostos da Europa.

Este plano efectivou-se e D. João II só não o pôde ver concretizado porque morreu, em circunstâncias muito estranhas, em 1495, quando contava apenas 40 anos. Desconfia-se que tenha sido envenenado, o que não admira pela brutalidade com que D. João II conduziu os negócios do Estado, movendo uma guerra sem quartel contra os fidalgos, muito prodigalizados no reinado do seu pai. Recordemo-nos que D. João II sentenciou o Duque de Bragança – confiscando-lhe o ducado – e matou (talvez pelas próprias mãos) o seu primo e cunhado – D. Diogo Duque de Beja. O rol não se fica por aqui, que o digam o Bispo de Évora, ou um pobre coitado que olhou em demasia para a sua irmã – a Princesa Santa Joana.

Foi neste ambiente crispado, de forte tensão, entre o povo que amava D. João II e os fidalgos que o apelidavam de tirano, que D. Manuel herda o trono.

Neste contexto o Rei podia escolher apoiar-se mais nos fidalgos, que foram os grandes “advogados” da sua realeza, em detrimento de um reinado mais popular. No entanto, não foi isso que fez. Teve antes, a atitude inteligente de promover o equilíbrio e a união entre os portugueses. Vários são os exemplos dessa política de bom senso.

Restaurou a Casa de Bragança mas recompensou D. Vasco Coutinho, a quem D. João II tinha dado a vila de Borba (que pertencera à casa brigantina) concedendo-lhe a Vila de Redondo. Com a agravante de ter sido este mesmo Vasco Coutinho o delator do plano de regicídio de D. João II, e como tal, responsável pela morte seu irmão, D. Diogo, Duque de Beja.

Dom Manuel tentou satisfazer o pedido de Vasco da Gama, de lhe ser dado o título de Conde de Sines, como recompensa pela chegada à Índia. Sucede que Sines pertencia à Ordem de Santiago, cujo Grão-Mestre era D. Jorge, filho bastardo de D. João II, e seu rival na sucessão de D. João II, que muito se esforçou para que fosse o filho a suceder-lhe. Acabou por lhe dar a Vila da Vidigueira, não hostilizando o bastardo.

A própria empreitada da armada da Índia, confiada a Vasco da Gama, poderá ter sido ainda uma escolha de D. João II, porque o Almirante era filho do alcaide-mor de Sines, que, por conseguinte, dependia da ordem de Santiago. Afonso de Albuquerque, o grande Vizo-Rei da Índia, era também próximo de D. João II, fazendo parte do seu grupo de Ginetes (Guarda-Costas, na linguagem actual). Isso não o impediu de prestar grandes serviços à coroa de D. Manuel.

D. João II usava como metáfora que as nações eram como os mares, onde existiam muitas espécies de peixes. A sardinha que abundava, era boa e barata. E o salmonete que era também bom, mas era escasso e caro. D. João II era pela sardinha. D. Manuel não foi nem pela sardinha nem pelo salmonete. Foi um Rei de todos os portugueses, e por conseguir essa união entre todos os estratos da sociedade é que nós fomos tão grandes.

Grande lição para o século XXI.  

publicado por Rui Romão às 08:25
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Quinta-feira, 27 de Dezembro de 2012

O Enigmático Cristóvão Colombo

Na História da Humanidade, o protagonismo de Colombo só é superado por, imagine-se, Jesus Cristo. É uma figura incontornável, que abriu ao mundo um novo continente, que é hoje a América, mudando completamente o paradigma eurocêntrico, vigente até então.

O facto de ser muito discutido não o torna mais conhecido. Paradoxalmente, a sua biografia está repleta de omissões e contradições que não permitem chegar a uma conclusão aceitável, pelo menos de uma forma abrangente, na comunidade científica. Começando pelo próprio nome - Cólon ou Colombo? Não existem dúvidas quanto à existência de um Colombo genovês. Da mesma forma que ninguém contesta a presença na Península Ibérica de um Cólon. O problema é determinar se se trata da mesma pessoa ou não. Tem sido este o ponto de partida para as teorias mais ou menos especulativas sobre a sua naturalidade. Há muito que é aceite a tese genovesa, mas a sua nacionalidade também é reivindicada por franceses, espanhóis e, mais recentemente, por nós próprios portugueses.

Comecemos pela História mais aceite. Colombo era um tecelão genovês, filho de um cardador de lãs, que embarcou num navio genovês mas que foi atacado pelos corsários ao largo da costa portuguesa, conseguindo o pobre tecelão chegar a nado a Lisboa em 1476. Aqui, na cidade do conhecimento, autêntico Silicon Valley do século XV, onde gravitavam os principais especialistas de tudo o que diz respeito a navegações, este tecelão analfabeto, aprendeu português, astronomia, cartografia e geografia, sendo rapidamente admitido na corte de D. João II. Em 3 anos consegue inclusivamente obter permissão deste monarca para casar com uma fidalga portuguesa, Filipa Moniz Perestrelo, Comendadeira da Ordem de Santiago, e filha do capitão donatário da Ilha de Porto Santo, Bartolomeu Perestrelo.

Do estudo que efectuou, teve a brilhante ideia de propor a D. João II a navegação para ocidente, sabendo que o monarca acalentava o sonho de chegar à Índia por via marítima, para assim controlar o negócio das especiarias. Como o Príncipe Perfeito não aceitou o seu projecto, mudou-se em 1484 para Espanha, ano em que Bartolomeu Dias dobrou o Cabo da Boa Esperança, apresentando a mesma proposta aos Reis Católicos, que a patrocinaram. Assim, Cristóvão Colombo chega em 1492 às Antilhas, pensando que tinha chegado à Índia, território que foi reclamado imediatamente pela corte portuguesa e que, por conseguinte, obrigou a um novo acordo, firmado em 1494, que ficou conhecido por Tratado de Tordesilhas. Aceita-se também uma variante desta História, principalmente a partir de um documento que foi descoberto em 1904 por um coronel italiano, Hugo Asseretto, que nos indica que Colombo partiu de Génova para negociar Açúcar na Ilha da Madeira, sendo que, por essa via, estabelece-se em Lisboa.

Esta teoria do Colombo Genovês, humilde tecelão ou mercador, tem por base 3 documentos que o sustentam: A crónica de D. João II de Rui de Pina, que o menciona como genovês, o testamento - lido 72 anos após a sua morte - e o documento (só) encontrado por Asseretto em 1904 nos (muito) vasculhados arquivos de Génova.

Das 3 provas, apenas uma merece total credibilidade por parte dos investigadores. Rui de Pina é contemporâneo de Colombo e certamente o conheceu pessoalmente, pelo que é um obstáculo difícil de transpor do ponto de vista de atribuição de uma nacionalidade diferente da genovesa.

O testamento foi encontrado apenas 72 anos após a morte, com alguns erros de forma que levantam suspeitas de se tratar de uma falsificação. O principal é o facto de Colombo se dirigir ao filho e herdeiro dos Reis Católicos, que à data já tinha falecido. Por outro lado, o documento foi apresentado pelos genoveses que reclamavam a sua herança, pela mão de um falsário, anteriormente condenado por forjar documentos.

O documento Asseretto foi  apresentado em 1904 em Génova e também é contestado por se tratar de um documento que apenas foi encontrado no século XX nos arquivos de Génova, que serão, a seguir ao vaticano, os mais pesquisados do mundo. Porque motivo este documento não foi encontrado antes? Permanece a dúvida. Não será o documento uma arma do nacionalismo italiano, na ressaca da reunificação operada no último quartel do século XIX?

Independentemente dos documentos que sustentam a tese do Colombo genovês, existem factos que, no mínimo, tornam este caso bastante estranho. Segundo esta teoria, o plebeu Colombo (tecelão ou mercador, pouco importa) chega em 1476 a Lisboa, e logo em 1479 casa-se com uma fidalga portuguesa, da Ordem de Santiago, Filipa Moniz Perestrelo, filha do Capitão Donatário de Porto Santo (e um dos suposto descobridores do Arquipélago da Madeira) Bartolomeu Perestrelo, que carecia de permissão real para se casar. O mesmo plebeu tem logo acesso à corte do austero Dom João II. Não é muito crível que um plebeu, em tão pouco tempo, conseguisse tamanha ascensão social.

A teoria italiana também é rebatida por cronistas espanhóis que mencionam que Colombo (ou Colón) quando chegou à corte dos Reis católicos em 1484, informou-os que há 14 anos que tentava convencer o Rei D. João II a aceitar o projecto de chegar à Índia por ocidente. Ou seja, segundo esta tese, Colombo não chegou a Portugal em 1476, mas sim em 1470! De resto, esta ideia de Colombo não era propriamente original. Um italiano, mas este comprovadamente florentino, Paolo Toscanelli, já o tinha proposto a D. Afonso V, que não lhe deu grande importância. Na realidade, o “Africano”, apenas se preocupou com as conquistas norte-africanas e com a coroa de Castela. No seu reinado, a exploração da costa africana foi concedida a um mercador de nome Fernão Gomes, que não se poder considerar à altura do período henriquino que lhe antecedeu.

A somar a estes dados deduzidos do conhecimento da sociedade portuguesa de quinhentos, surgem novas pesquisas que não corroboram da tese da nacionalidade genovesa de Colombo. O corpo do Almirante, sepultado na Catedral de Sevilha, foi já no nosso século exumado, retirando-se amostras de ADN que foram analisadas nos EUA pela mesma equipa que esteve responsável pelos testes às vítimas do 11 de Setembro. Estas amostras de ADN foram comparadas com as das famílias que reclamam a sua descendência, nomeadamente genoveses, franceses e catalães, e o resultado das quase 500 amostras, foram todas negativas.

Por outro lado, foram analisados os textos que Colombo escreveu do seu punho, concluindo-se que não sabia falar (ou pelo menos escrever) em Italiano, e que o seu castelhano estava cheio de lusismos (ou na linguagem corrente, “portunhol”). Não deixa de ser estranho que um genovês não fale a sua própria língua, e que se exprima na língua da pátria de adopção de forma aportuguesada (e não italianizada). Infelizmente, não temos nenhum documento escrito por Colombo em Português.

O próprio sempre ocultou o seu passado. Poderá dizer-se que seria Judeu, o que seria um grande handicap, principalmente na Corte dos Reis católicos (os mesmos que obrigaram D. Manuel a expulsar os judeus de Portugal, caso quisesse casar com a sua filha Isabel), ou que queria esconder as suas origens humildes, quando já estava cheio de prestígio, depois da sua viagem de 1492/93. Não é pouco conhecida a tese de que seria um agente secreto de D. João II, que sabia perfeitamente que não tinha chegado à Índia, que tinha feito esta viagem com o intuito de afastar os castelhanos da rota do Cabo, a única que podia garantir a chegada por via marítima à Índia. É uma tese puramente especulativa, como especulativa é a tese do Colombo português. Não existe nenhum documento que nos diga que Colombo seria filho bastardo do Duque de Beja, Dom Fernando, filho de Dom Duarte adoptado pelo Infante Dom Henrique, e de Isabel Gonçalves Zarco. É uma teoria sedutora. Neste caso, seria irmão do Rei Dom Manuel I, e da Rainha Dona Leonor (criadora das Misericórdias) e primo e cunhado de D. João II e sobrinho de D. Afonso V.

Esta tese tem uma contrariedade, que na minha óptica é insuperável. Se Colombo fosse filho do Duque de Beja era um grande Fidalgo e jamais nenhum grande fidalgo enveredou pelas conquistas marítimas. Ir para uma viagem deste tipo significava passar por privações terríveis, desde fome, frio e o risco da própria vida, o que seria impensável para um fidalgo, mesmo por via bastarda. Os grandes descobridores, como Vasco da Gama, são geralmente escudeiros ou filhos segundos (no caso de Vasco da Gama ambas as situações), que viam nesta empresa a possibilidade de ascensão social. Não me parece verosímil que alguém tão fidalgo fosse embarcar nesta aventura.

Não tenho uma tese para defender, por muito que isso possa chatear os meus compatriotas. Acho que a tese genovesa e espanhola são frágeis, mas também não encontro sustentação para a portuguesa. O facto de Colombo ter atribuído nomes de terras alentejanas às ilhas das Antilhas, por si só não justifica nada.

Se calhar, o ideal é mesmo não atribuírem uma naturalidade ao Almirante. Colombo não tem nacionalidade, é um cidadão do mundo.      

publicado por Rui Romão às 08:39
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Quarta-feira, 3 de Outubro de 2012

Tanta História nas Alcáçovas

 

 Por estes dias estive nas Alcáçovas, uma pequena e pitoresca vila alentejana, onde me demorei um par dias. Na vila, a antiguidade transborda em cada canto, mas nem por isso se tem valorizado esse património. O principal monumento deste passado ilustre e afidalgado, o Paço das Alcáçovas, está numa triste ruína. Na vila comemora-se neste ano os 500 anos do foral manuelino, mas fora isso, nada ali nos remete para os acontecimentos que marcaram a História Universal, e que tiveram lugar nesta vila. Não me enganei, nem me deixei arrebatar pela revolta que sinto por ver o nosso património mais valioso ao abandono, aqui passaram-se eventos que mudaram a face do mundo. Cita-se sempre como acontecimento de grande importância o Tratado de Alcaçovas, firmado em 1479 entre a coroa de Castela e Portugal, onde se põe fim à guerra da Beltraneja e se esboça pela primeira vez a divisão do mundo em 2 áreas de influência. Este facto é verdadeiro e de grande relevância, mas existem outros dois eventos, passados na mesma vila das Alcaçovas, que parecem não estar relacionados entre si, mas que em conjunto contribuíram para a configuração actual do continente europeu e americano. Por ordem cronológica, comecemos por 1457, nesse ano nas Alcáçovas celebrava-se um duplo casamento. A infanta Dona Beatriz, filha do infante D. João, casava com D. Fernando, filho de D. Duarte e Dona Isabel, também filha de D. João, casava com D. João II, rei de Castela. O primeiro casamento gerou prole tão ilustre como o Rei D. Manuel e a Rainha Dona Leonor e o segundo o do Rei D. Henrique IV e de Isabel a Católica. Não sei se foi pela ligação sentimental que tinha a esta vila, mas foi neste mesmo local que Isabel a Católica celebrou com o Rei de Portugal D. Afonso V o tratado que haveria de selar definitivamente a sua realeza, colocando um ponto final à guerra da Beltraneja, tão nefasta para as nossas hostes, estabelecendo também uma definição de áreas de influência numa altura em que a Índia já andava na mente do Príncipe perfeito. O tratado tem a mão de D. João II, porque o Rei seu pai já se encontrava entregue à melancolia que o acompanhou nos últimos anos de vida, estabelecendo também um acordo de casamento entre o príncipe D. Afonso, filho de D. João II, e a Princesa Isabel, filha dos Reis Católicos. Como os nubentes ainda eram crianças estabeleceram-se a célebres terçarias de Moura. As terçarias consistiam na custódia dos príncipes até atingirem a maioridade, à guarda da Infanta Dona Beatriz. Os príncipes vieram a casar, mas as terçarias foram desfeitas pouco depois da coroação de D. João II, talvez por não confiar na Infanta, que era também sua sogra. Esta desconfiança era recíproca e perfeitamente compreensível. Recorde-se que Dom João II enviou para o cadafalso o Duque de Bragança, que era genro de Dona Beatriz – obrigando a mulher a homiziar-se em Espanha – e matou outro seu filho, D. Diogo, Duque de Viseu, ambos sob a acusação de atentarem contra a sua própria vida. Com a morte do Infante D. Afonso numa queda de cavalo na Ribeira de Santarém, colocou-se o problema da sucessão. O Rei tinha um filho bastardo, D. Jorge, Mestre da Ordem de santiago, que não conseguiu legitimação pelo Papa, onde não faltou a pressão de Dona Leonor, sua mulher e filha da Infanta Dona Beatriz, que tinham em Roma um seu fiel servidor, Dom Jorge da Costa, cardeal de Alpedrinha, que terá tido um papel importante neste desfecho. Sem herdeiro legítimo, o Príncioe Perfeito acabou por designar como sucessor o familiar mais próximo, que viria a ser Dom Manuel I, seu cunhado e também filho da Infanta Dona Beatriz. Foi neste Paço das Alcáçovas que D. João II mandou lavrar o seu testamento, designando o sucessor quando se encontrava a caminho das Termas de Monchique, onde procurava alívio para as dores que o apoquentavam. Ainda tentou encontrar-se com D. Manuel, que na altura era Duque de Beja, mas Dona Leonor conseguiu demover o irmão, talvez por receio que lhe acontecesse o mesmo que ao irmão mais velho, assassinado em Setúbal, às mãos dos algozes do Rei. Destes três acontecimentos passados nesta vila: o casamento das infantas, o tratado de Alcáçovas e a designação de Dom Manuel como Rei estão relacionados e alteraram profundamente a História da Humanidade. Foi aqui que se legitimou a realeza de Dona Isabel a “Católica”, que casou com Fernando de Aragão e deu origem ao país que hoje se chama Espanha. Foi aqui que se dividiu o mundo, tratado que só foi alterado em 1494, na sequência da descoberta do continente americano por Colombo, ao serviço destes mesmos reis católicos, mudando a face de todo o continente americano. E foi também aqui que casaram os pais de Dom Manuel I e onde este foi designado rei de Portugal, no reinado do qual descobrimos o caminho marítimo para a Índia e o potentado que é hoje o Brasil. Tudo isto nesta pacata e serena vila alentejana.

publicado por Rui Romão às 08:37
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Quarta-feira, 18 de Julho de 2012

A Política Conciliadora de Dom Manuel I

 

 

Não conheço muitos detractores do Rei “Venturoso”. A bem dizer, só conheço um, ou melhor dizendo, uma: a historiadora Fina D’Armada, cuja obra obra é notável, sobretudo no estudo do papel das mulheres na epopeia dos descobrimentos, mas que aparentemente não consegue abordar as desgraças que sucederam ao Príncipe Perfeito sem culpar D. Manuel, inclusivamente o desastre de cavalo do Príncipe D. Afonso na Ribeira de Santarém!

Eu não me posso considerar um detractor de D. Manuel, mas também não me considero um deslumbrado pelo seu reinado. Já o escrevi que a este monarca bem se pode aplicar a máxima de Newton “se pude ver mais longe foi porque me pus aos ombros de gigantes”, sendo este gigante o Rei D. João II. Os gloriosos feitos do seu reinado foram todos projectados pelo seu antecessor. A chegada à Índia e ao Brasil foram obra do “Principe Perfeito” que apenas teve a infelicidade de morrer antes de ver o seu sonho concretizado. Vasco da Gama chega à Índia em 1498, apenas 3 anos depois da morte do monarca, não deixando de ser estranho que tenha sido um filho de um governador que estava ao serviço da Ordem de Santiago, cujo Grão-Mestre era o rival de D. Manuel a aceder ao trono, D. Jorge, a executar a façanha. A hipótese que defendo é que o nome terá sido escolhido ainda por D. João II, e que D. Manuel, inteligentemente, não alterou.

É este o mote para falar daquela que foi, na minha opinião, a grande proeza do “Venturoso”. Este Rei soube fazer a charneira entre duas facções que se confrontaram brutalmente nos dois anteriores reinados – as classes senhoriais e os concelhos; i.e. nobreza e clero por um lado e povo por outro.

Esta tensão social já existia desde o começo da nacionalidade, originando disputas violentas, como foram as guerras das infantas com D. Afonso II, a guerra civil entre D. Sancho II e D. Afonso III, e de certo modo entre D. Dinis e D. Afonso IV. D. Manuel chega ao trono, desafiando a teoria da probabilidade, tendo que lidar com um problema criado dois reinados antes, i.e. com D. Afonso V. O “Africano” foi completamente manietado pelas classes priviligiadas, numa onda prodigalizadora que varreu o reino, com claro prejuízo da nação. D. João II sucede a seu pai em 1481 e inicia imediatamente uma resposta brutal para pôr fim a esses abusos, que levou, por exemplo, à extinção da Casa de Bragança, cujo Duque era seu cunhado,à morte do Duque de Viseu (também seu cunhado) do Bispo de Évora, do Alcaíde-Mor de Sesimbra, entre outros.

Numa lógica sequencial, podíamos pensar que D. Manuel, que foi apoiado pelos grandes senhores, começando pela sua irmã, a rainha D.ª Leonor, na luta pela conquista do trono, opondo-se a D. Jorge, representasse o regresso à hegemonia dos nobres. Puro engano. O reinado de D. Manuel não foi uma revanche à política centralizadora de D. João II, mas também não foi um reinado “popular”. Foi uma síntese de ambos, numa atitude clarividente de tentar manter a unidade possível entre as várias classes sociais. Não faltam exemplos dessa política hábil. Para além da nomeação de Vasco da Gama para comandar a armada da Índia, o próprio Afonso de Albuquerque, que era um dos temíveis ginetes de D. João II, foi um grande Vizo-Rei da Índia, também nomeado pelo “Venturoso”.

D. Manuel restaurou a casa de Bragança mas teve a preocupação de manter intocáveis as doações feitas pelo seu antecessor. No caso da casa brigantina, com a sua extinção, D. João II deu Borba, que pertencia a esta casa, a D. Vasco Coutinho, irmão do Alcaide-Mor de Sesimbra e denunciante do atentado que estava em marcha contra D. João II. D. Manuel teve em conta esta doacção, mesmo sendo Vasco Coutinho o responsável pela morte do seu irmão, Dom Diogo, Duque de Viseu, num episódio que já referi em posts anteriores.

Como D. Manuel queria manter intacta a casa de Bragança, deu a D. Vasco a vila do Redondo, por troca com Borba, e assim nasceram os Condes de Redondo. Esta intervenção foi anos mais tarde retribuída pelo então Duque de Bragança, o desiquilibrado D. Jaime, 4º Duque de Bragança, que deu a D. Manuel a Vila da Vidigueira, para que ele pudesse pagar a Vasco da Gama os serviços prestados, depois de lhe ter prometido Sines, a sua terra natal, mas que não pôde concretizar porque esta era pertença da Ordem de Santiago.

Mais do que um rei de epopeia, D. Manuel foi um homem com um elevado sentido de justiça que conseguiu pacificar a sociedade portuguesa, ensaguentada por um confonto de classes que tinha recrudescido nos reinados anteriores, possibilitando a nossa grandeza. Quando os portugueses remam todos para o mesmo lado, mesmo sendo um povo pouco numeroso, até conseguem ser senhores do mundo. Se tivessemos aprendido esta lição de D. Manuel, hoje estaríamos numa situação bem diferente.

publicado por Rui Romão às 16:22
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Segunda-feira, 12 de Março de 2012

A Relação Difícil de D. João II e Dª Leonor

 

Façamos esta reflexão no plano puramente teórico: imagine que alguém, com quem estamos casados, mata (ou manda matar) o nosso irmão, o nosso cunhado e  força uma irmã ao exílio. Pois bem, foi com esta situação que a Rainha Dona Leonor se deparou nos anos de matrimónio com D. João II, justificando a relação complexa que tiveram até aos últimos dias (ou para ser mais exacto, até ao último dia).

Pela descrição, nada nos levaria a supor que este rei tivesse granjeado a aurora da perfeição, no entanto devemos, em abono da verdade, relativizar estes factos com o contexto dificílimo com que ele se deparou.

O seu pai, D. Afonso V, foi um rei fraco, que se deixou manietar completamente pelas classes abastadas, prodigalizando-as com exacerbadas mercês que deixaram completamente exangue o erário régio. Quando D. João II é aclamado tinha só as estradas do reino (palavras do próprio) e uma nobreza e um clero a rebentar pelas costuras de opulência.  D. João II quis desde o primeiro minuto opor-se a isto, tentando  reverter para a coroa parte do património desbaratado por seu pai. Como seria de supor, a principal vítima foi a Casa de Bragança, cuja fortuna vinha desde os tempos do Condestável Nuno Alvares Pereira. D. Fernando II, que era então o 2º Duque de Bragança, foi acusado de alta traição, por supostamente estar envolvido numa conspiração para matar o monarca. Este duque era casado com uma irmã da rainha, que depois teve de fugir com o seu filho, D. Jaime, para Espanha, na sequência da condenação à morte do seu marido, sentenciado com a pena de morte na Praça do Geraldo, em Évora.  Nesta fuga para Espanha talvez esteja a chave para o enigma da saída de Portugal das célebres tapeçarias de Pastrana, sobre as quais já escrevi há uns anos.

Depois deste episódio, a nobreza portuguesa ficou em choque. Se é verdade que nada se apurou relativamente à culpabilidade do Duque de Bragança, cuja casa foi extinta e em grande parte incorporada no património régio, está provado que os fidalgos mais importantes passaram deliberadamente ao ataque, gizando um plano para eliminar o Rei, antes que este lhes apontasse as suas baterias.

Nesse plano, outro irmão da rainha, D. Diogo, Duque de Viseu, teve um papel de destaque, numa urdidura que tinha também envolvidos, entre outros, o Bispo de Évora (D. Garcia de Menezes) e o Senhor de Sesimbra (D. Guterre Coutinho).

O Plano era o seguinte: D. João II estava em Alcácer a caçar e quando, no regresso, desembarcasse em Setúbal cairíam-lhe em cima os conspiradores, numa situação em que a guarda-real pouco poderia fazer. Sucede que um dos conspiradores, Dom Guterre Coutinho, Senhor de Sesimbra, para demover o irmão, que pretendia ir para o estrangeiro, confidenciou-lhe o plano de regicídio, assegurando-lhe que a situação ia mudar e assim ele não precisaria de ir para o estrangeiro. D. Vasco Coutinho foi no entanto denunciar ao monarca o plano que os conspiradores tinham delineado, mas obteve a garantia deste de que o irmão seria poupado (que este não cumpriu). D. João II regressa por terra e o plano sai gorado. A vingança não se fez esperar. Chama o cunhado a Setúbal e apunhala-o (ou manda apunhalar) no próprio Paço. O Bispo de Évora morreu numa cisterna do Castelo de Palmela e D. Guterre em Avis. Vasco Coutinho foi feito Conde de Borba, terra que tinha sido incluída na coroa depois da extinção da Casa de Bragança, e mais tarde Conde de Redondo, quando D. Manuel restaura a casa Brigantina e inclui novamente Borba nos seus domínios. Não deverá ter sido fácil para Dom Manuel resolver este diferendo, sabendo que na origem daquela casa estaria a causa da morte do seu irmão, Dom Diogo.

A Rainha Dona Leonor teve que suportar toda esta situação. Fê-lo em silêncio, ou pelo menos de uma forma discreta. Não é de excluir, e muito se especula a esse respeito, que tenha assumido uma posição hostil relativamente ao marido. Esta situação deve ter sido agravada quando morreu o filho único do casal, D. Afonso, em Santarém, na sequência de uma queda de cavalo. Quando em 1491 morre o herdeiro, começa a colocar-se o problema da sucessão. D. João II tinha um filho bastardo, D Jorge (que erradamente apelidam de Lencastre), que era Mestre de Santiago. No entanto, caso este não fosse legitimado, seria outro irmão de Dª Leonor, D. Manuel, a herdar a coroa. D. João II fez tudo para o legitimar, inclusivamente tentou-o casar com uma filha dos Reis católicos, mas não teve sucesso nesta iniciativa. Dª Leonor bateu-se por todas as vias contra esta solução, na defesa dos direitos do seu irmão, face ao enteado, o não muito iluminado D. Jorge. 

Foi esta a origem dos rumores sobre o papel da rainha na morte de D. João. Suspeita-se que tenha sido envenenado, e quando agonizava com as sequelas da peçonha que provavelmente  lhe deram, foi para uma termas. O curioso é que ele não foi para as então chamadas Caldas de Óbidos, muito ligadas à rainha, optando antes por Mochique. Quando estaria quase no leito de morte, mandou chamar D. Manuel, seu sucessor presuntivo, mas este parece que resistiu a juntar-se ao monarca, até que este lhe deu uma ordem formal, à qual D. Manuel acatou. No entanto a Rainha, provavelmente temendo pela vida do irmão,  impediu-o de chegar a Alvor, local onde o Rei acabou por falecer.

A especulação em torno da morte de D. João II continua a ser um mistério, que tem alimentado muitas teorias. Umas das minhas predilectas é a história da fonte bicéfala, em exposição no MNAA. A fonte tem duas cabeças e os símbolos de D. Manuel (a esfera armilar) e o camaroeiro(símbolo de Dª Leonor), sendo a escultura cingida por uma pele de serpente, o que levou à teoria de que a serpente significaria o veneno que a Dª Leonor deu ao marido para o matar. 

Mesmo sem o saberem, foram os monarcas uma excelente dupla. Dº Leonor na sua acção caritativa, onde se destaca, evidentemente, a fundação das misericórdias e das caldas públicas, e D. João II no fortalecimento do poder do Estado e na continuação da obra do Infante D. Henrique, que nos levou à Índia. Contudo, essa glória foi cair nos braços de D. Manuel, que muito deve à irmã ter sido o herdeiro do trono.    

publicado por Rui Romão às 08:14
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Segunda-feira, 19 de Dezembro de 2011

No Beco do Chão Salgado - O Triste Fim da Descendência de D. João II

Aqui foram arrasadas e salgadas as casas de José Mascarenhas, exautorado das honras de Duque de Aveiro e outras, condemnado por sentença proferida na suprema juncta de inconfidência em 12 de Janeiro de 1759. Justiçado como um dos chefes do bárbaro e execrando desacato que na noite de 3 de Setembro de 1758 se havia cometido contra a real e sagrada pessoa de D. José I. Neste terreno infâme se não poderá edificar em tempo algum.

  

Este texto está inscrito na face sul da coluna do Beco do Chão Salgado. O facto de se encontrar num beco esconso, rodeado por casas onde, entre outras, se situa a famosa Confeitaria de Belém é a prova de que o propósito do monumento não foi cumprido. A legenda desta coluna dispensa grandes explicações. No local encontrava-se um dos palácios do Duque de Aveiro, que foi demolido na sequência do processo de tentativa de regicídio em que o titular e proprietário foi um dos sentenciados. A execução até nem ficou longe dali, num patíbulo construído para o efeito. Este foi o culminar do que ficou conhecido como o processo dos Távoras, onde foram implicados e sentenciados os Marqueses de Távora e seus filhos e o Duque de Aveiro, com uma violência que impressionou os coevos, pela brutalidade com que foi aplicada a sentença. 

O início da história conta-se em poucas linhas. No dia 3 de Setembro de 1758 o Rei Dom José regressava à real barraca da Ajuda (depois do terramoto nunca mais o Rei quis viver em paços de alvenaria), e foi atingido a tiro na Calçada  do Galvão, sendo o local assinalado pela Igreja da Memória, mandada contruir pouco tempo depois. O Rei sobreviveu ao atentado e Sebastião José (que hoje repousa na dita Igreja da Memória) não perdeu o ensejo para conduzir um processo que, dizem os juristas, é bastante frágil.

Não me alongarei sobre o processo em si até porque não sou jurista (embora também não seja historiador e escreva sobre História) mas não é dificl imaginar que este processo tenha tido uma motivação fortemente política. O futuro Marquês de Pombal tinha uma concepção política que bebera na Austria onde desempenhou uma missão diplomática ainda no reinado de D. João V e que pode ser simplificada na expressão feliz de Despotismo Iluminado. Ou seja, entrava-se na Idade Moderna, privilegiava-se o saber e a divulgação do conhecimento livre de preconceitos religiosos, mas baseado no controlo do processo pela real figura. Por este motivo Pombal perseguiu (e expulsou) os jesuítas, que eram os grandes mestres do ensino em Portugal, e a alta nobreza  - grandes opositores desta política de fortalecimento do poder real nas mãos do homem de confiança de D. José. Pombal também aprendeu que a terceira classe era o Povo e nesta ânsia de tudo controlar puniu severamente um desacato provocado nas tabernas portuenses, provocado pela proibição da venda de vinho a copo. 

Regressando ao monumento de Belém, a primeira ideia que me vem à memória é aquele velho ditado "pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita". Para ser uma fiel representação do que foi a História da Casa de Aveiro, a coluna devia ter uma certa inclinação para cumprir com este adágio. Foi uma casa que começou mal e acabou ainda pior.

A origem do Ducado vem da descendência bastarda do Príncipe Perfeito, D. João II. Ele tinha apenas um filho legítimo, D. Afonso, que morreu numa queda de cavalo em  Santarém. Com a morte do seu único herdeiro, D. João II tentou que lhe sucedesse um outo filho, mas este bastardo, que era D. Jorge, que viria a ser mestre da Ordem de Santiago. Não conseguiu tal intento, ao qual se opôs a rainha e irmã do seu sucessor - o Venturoso D. Manuel. Este facto foi suficiente para ostracizar o infante da corte no reinado mais glorioso da História portuguesa.

O primeiro Duque de Aveiro foi um filho de D. Jorge e  teve ainda um destino mais cruel. A sua desventura foi contada por Camilo Castelo Branco no seu romance "O Marquês de Torres Novas" (título de que também era titular). O drama do primeiro duque resultou do facto de o Infante D. Fernando (filho de D. Manuel) pretender casar com Dª Guiomar Coutinho, herdeira da casa de Loulé e Marialva e, pela grande fortuna, muito cobiçada. Sucedeu que o então Marquês de Torres Novas afirmou que já se tinha casado com a senhora e como tal ela não podia desposar o infante. Essa sua pretetensão levou-o até ao cárcere do Castelo de São Jorge, onde ficou quase uma década. O título de Duque de Aveiro foi-lhe concedido depois deste episódio, por D. João III, quem sabe se para desagravar os tormentos que lhe infligiram.

O 2º Duque, D. Jorge, morreu na batalha de Alcácer Quibir, ao lado de D. Sebastião. Menos glorioso foi o legado do 4º Duque, Dom Raimundo, que foi condenado em estátua por traição à pátria, por passar-se para o lado espanhol na Guerra da Restauração, depois da regente Dª Luisa de Gusmão lhe confiado altas responsabilidades na Guerra da Restauração.     

Por fim, o 8º e último duque morreu no patíbulo de Belém, depois de lhe terem sido quebrados os ossos de braços e pernas, numa cena de violência que apenas tem comparação com a célebre execução dos carrascos de Inês de Castro por parte de D. Pedro.

Hoje resta o monumento a assinalar este pedaço de História.  

publicado por Rui Romão às 08:23
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Sexta-feira, 7 de Outubro de 2011

D. João II - Principe Perfeito ou Imperfeito?

D. João II será certamente um dos reis mais controversos da nossa História. Ninguém questiona que foi um grande Homem, e como todos os grandes, consegue despertar amores e ódios, sendo este efeito polarizador o que os distingue da mediania, palco dos que nunca saíram da sua zona de conforto. Neste  post não me vou debruçar sobre as grandes conquistas de D. João II, até porque elas são sobejamente conhecidas, nomeadamente o impulso que deu à expansão ultramarina através do plano, por si gizado, de chegar a oriente através da circum navegação do continente africano. Assistiu em vida à dobragem do Cabo das Tormentas por Bartolomeu Dias (1488), que baptizou de Boa Esperança, e que representava a esperança de chegar à Índia e às sua riquezas por via maritima e combater o monopólio dos turcos que então forneciam a Europa das especiarias indianas por via terrestre.

Os "podres" de D. João II estão ligados à sua luta sem quartel pelo fortalecimento do poder real, desbaratado pelo seu pai - D. Afonso V. Terá dito que o pai só lhe deixara as estradas do reino para governar, e na realidade não terá exagerado nessa sua análise. Quando assumiu o trono teve que restabelecer o prestígio da coroa e mudar velhos hábitos que já estavam enraizados e assumidos pela nobreza portuguesa. A pergunta a que ainda ninguém conseguiu responder foi esta: terá D. João II perseguido os nobres para reverter para a coroa os bens que o seu pai tinha doado ou, pelo contrário, foram os nobres que tentaram desde o primeiro momento afastar do trono este Rei austero?

Não sei qual das duas teses é a mais correcta, e pode suceder que a verdade não seja nenhuma das duas, mas um intrincado jogo de interesses opostos que coexistiram desde a primeira hora.

Os casos mais celebres foram a execução do Duque de Bragança e a conspiração do seu primo e cunhado D. Diogo. Comecemos pelo Duque de Bragança, que acabou os seus dias enforcado na Praça do Giraldo em Évora. A suspeita de que o Duque estaria a atentar contra a vida do monarca terá sido fundamentada em correspondência que este trocara com o Reis católicos e que chegaram às mãos de D. João II. Após um julgamento foi sentenciado à forca à vista de toda a gente em 1483, para mostrar que os tempos tinham mudado e que o novo Rei (reinava há dois anos) não hesitaria em sentenciar quem quer que fosse para fazer cumprir a sua vontade.

Este episódio terá sido um sério aviso para a restante aristocracia e ao mesmo tempo permitiu ao monarca aceder aos extensos bens da Casa de Bragança, que provinham desde os tempos do Condestável Nuno Alvares Pereira, e que reverteram para a coroa através da extinção da casa brigantina, restabelecida mais tarde por D. Manuel. Houvesse ou não anteriormente um plano da nobreza portuguesa para matar o Rei, este acontecimento tê-los-á levado a definir uma estratégia para o eliminar antes que semelhante sorte lhes batesse à porta.

Assim, dois anos mais tarde, houve uma nova tentativa de regicídio. O estratagema era o seguinte: o Rei gostava muito de ir caçar a Alcácer e os nobres portugueses conceberam o plano de esperá-lo na praia em Setúbal e aí, onde não teria hipótese de recorrer a outra ajuda que não o dos seus homens de confiança, não teria hipótese de se salvar. Nessa conspiração estavam envolvidos, entre outros, o Duque de Viseu (irmão da Rainha), o Bispo de Évora (D. Garcia de Meneses) e D. Guterre Coutinho que era Alcaide-Mor de Sesimbra.  Terá sido por uma inconfidência do Alcaide de Sesimbra a seu irmão - D. Vasco Coutinho - que o plano não vingou. D. Vasco informou o Rei da cilada, mas pediu-lhe que poupasse a vida do irmão. Sabendo de antemão desta conspiração, D. João II regressou por via terrestre a Setúbal e assim que chegou mandou chamar o seu cunhado ao Paço, onde o apunhalou (ou mandou apunhalar...). Conta-se que D. João II lhe terá perguntado "O que farias se soubesses que alguém te quer matar? Matava-o primeiro, respondeu-lhe D. Diogo" e assim o Rei fez justiça. Quanto aos restantes conspiradores, o Bispo de Évora foi encerrado numa cisterna do Castelo de Palmela, onde morreu envenenado. D. Guterre Coutinho, ao contrário do que o monarca prometera a seu irmão, acabou os seus dias no Castelo de Aviz, onde também terá morrido envenenado.

Diga-se, no entanto, que D. João II perdeu esta guerra porque acabou os seus dias num estado de saúde muito frágil, tendo sido, muito provavelmente, também ele envenenado. Viria a falecer em Alvor, para onde se deslocou para fazer um tratamento termal. Curiosamente não terá ído para as Caldas, onde a sua mulher tinha mandado construir uma termas. Este facto não será alheio ao distanciamento que a morte do seu irmão terá causado no seio do casal. O próprio Duque de Beja, futuro D. Manuel I, terá sido chamado pelo Rei, mas este, supostamente por conselho de D. Leonor, não cumpriu esta ordem, talvez por temer pela sua vida. Recorde-se que D. João II tinha um filho bastardo, D. Jorge de Lencastre, mestre da Ordem de Santiago, e que este tentou que lhe sucedesse. 

Perfeito ou Imperfeito? Eu acho que, como todos os homens, foi perfeito e imperfeito. Todos nós, por mais modesto que seja o nosso contributo, temos coisas de que nos orgulhamos e outras que nem por isso. O que importa e fazer um balanço entre estas duas vertentes e ficar com a convicção de que o saldo é positivo. Foi este o caso de D. João II. Perfeito não será mas foi, sem dúvida, um grande Rei.       

publicado por Rui Romão às 08:01
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Quarta-feira, 11 de Fevereiro de 2009

Um Palmo de Terra Para Nascer, Um Mundo Inteiro Para Morrer

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Em 1998 celebraram-se os 500 anos da chegada da armada de Vasco da Gama à Índia. Acontecimento ímpar na História da humanidade, teve direito a uma magnífica exposição a que nenhum português ficou indiferente. No entanto, por paradoxal que seja, no meio do turbilhão que foi a Expo 98 pouco se falou desta epopeia e das suas implicações para a civilização que hoje conhecemos. Infelizmente, perdeu-se uma oportunidade ímpar para se dar a conhecer a missão civilizadora dos portugueses, que substitua de vez os tristes clichés que aprendemos na escola e sobre os quais não se discute, como se fossem vacas sagradas.

São esses dogmas que em vez de nos enriquecerem nos empobrecem, impedindo que vejamos para além das consequências materiais dos descobrimentos.

Comecemos pelo papel do Infante D. Henrique. Pessoalmente, considero que a sua figura está muito sobrevalorizada na historiografia actual, chegando ao ponto de se inventar uma escola (a famosa Escola de Sagres) que na realidade nunca existiu. O seu papel na exploração da costa africana só se verificou quando estas começaram a ser lucrativas, o que apenas sucede com a colonização da Madeira (e não descoberta como incorrectamente vem nos manuais) e o tráfico de escravos das costas africanas para trabalhar nas plantações de cana-de-açucar. Até então, o Infante dedicava-se à "gestão" da sua frota de corso, que equivale a dizer à pirataria de Estado. Não foi o único, o seu irmão, o Infante D. Pedro, cujo papel na exploração da costa africana é no mínimo tão importante como a do Infante de Sagres, também tinha a sua frota particular que se movimentava no Mediterrâneo.

Com isto não desvalorizo o papel das descobertas henriquinas, mas terão que ser relativizadas. Quando o Infante morreu, em 1460, o limite da exploração da costa africana estava na Serra Leoa (viagem de Pero de Sintra), ou seja ainda não tinha sido explorada metade da costa africana pelo lado do Atlântico.

O verdadeiro impulso foi dado pelo Príncipe Perfeito, homem superior, muito à frente do seu tempo, e cujo vigor foi decisivo para atingirmos o marco da passagem do antigo Cabo das Tormentas, baptizado da Boa Esperança por D. João II, com a viagem de Bartolomeu Dias de 1484.

A própria descoberta do Brasil, não a oficial mas a efectiva, ter-se-á realizado no reinado de D. João II. Provavelmente sob o comando de Duarte Pacheco Pereira, o "Aquiles Lusitano" nas palavras de Camões e um dos portugueses mais esquecidos e injustiçados pelos ventos da história,  chegámos à costa do novo mundo. Esta descoberta não foi porventura oficializada porque faltava assinar o tratado que consagrasse à luz do direito internacional este novo território como possessão portuguesa. Este acordo apenas foi conseguido através do tratado de Tordesilhas, que substitui o tratado de Alcáçovas, e no qual ficou acordada uma latitude que colocava o Brasil na esfera portuguesa. 

No entanto, mesmo não sabendo deste antecedente, seria plausível que a armada de Pedro Álvares Cabral percorresse aquela rota para chegar à Índia (mesmo sabendo que a navegação era feita longe da costa por questões de segurança e para aproveitar os ventos alíseos) e que depois de tamanha "descoberta" seguisse em direcção à Índia via rota do cabo, como se nada de significativo tivesse ocorrido? É óbvio que se tratou de uma viagem de soberania porque a descoberta estava feita, sendo apenas necessário chegar primeiro do que os Espanhois para que o Tratado de Tordesilhas não fosse obnubilado pelo poder normativo dos factos.

Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e sobretudo D. Manuel tiveram o seu mérito, mas sobretudo um legado imenso. Como disse Isaac Newton,  "If I have seen further it is by standing on the shoulders of giants". D. Manuel teve a ventura de suceder a este Homem e de colher os louros que lhe eram devidos em vida.

No entanto, na minha opinião, existe quem mereça mais do que D. João II a coroa de glória por esse marco indelével da civilização. Refiro-me ao Povo português, que foi quem suportando privações que vão para além da capacidade humana, deu novos mundos ao mundo, aventurou-se por caminhos que jamais alguém ousara, não vacilando perante os enormes obstáculos que teve de vencer. É este heroi colectivo que Fernão Lopes não se cansou de exaltar e a quem eu presto a minha homenagem e o meu orgulho confesso por descender de tão notável gente.

Foi este povo que deu sentido à célebre frase do padre António Vieira " um palmo de terra para nascer, um mundo inteiro para morrer".

Bem hajam

                                                                               

publicado por Rui Romão às 08:22
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Segunda-feira, 21 de Julho de 2008

O Povo

 

Quando falamos de Povo, podemos referir-nos a coisas bem diferentes, consoante a perspectiva que se perfilhe. Num sentido jurídico, enquanto elemento do Estado, em sentido político, enquanto Nação (e Portugal é dos poucos casos de Estado-Nação no mundo), em sentido cultural, enquanto comunidade histórica e, finalmente, numa perspectiva social referindo-se à divisão classista da sociedade, onde povo se situa num plano inferior. 

Confesso que o Povo enquanto Nação, ou seja enquanto comunidade cultural, é aquela que mais aprecio, por se tratar de uma perspectiva inter-classista e baseada naquilo que nos une, ao invés daquilo que nos separa. Esta noção comporta, no entanto, uma dimensão jurídica e política, como elemento do Estado, para além do Território e do Poder Político. A diferença é que o Povo poderá não corresponder a uma Nação, existindo mesmo nações que estão divididas entre diversos Estados. A África, desenhada a régua e esquadro após a conferência de Berlim, é um exemplo paradigmático de ambas as situações.

Sendo Portugal um Estado-Nação, curiosamente isso não se sente no dia a dia. Quando nos referimos ao Estado, falamos "deles" não realizando que o Estado somos nós todos. O mesmo não se passa por exemplo nos cidadãos britânicos, que não precisam de Bilhete de Identidade nem sequer de Constituição (em sentido formal), para se referirem ao Estado como "nós". Porventura, esta diferença explica a nossa postura em coisas tão díspares como seja o cumprimentos das nossas obrigações fiscais ou mesmo na falta de valores patrióticos.

O Povo enquanto camada social de base foi descrito, por comparação com a Nobreza e o Clero, por D. João II de uma forma lapidar. Através de uma analogia, o Príncipe Perfeito dizia que os países eram como o mar, onde existem  muitas espécies de peixes diferentes. O salmonete que era muito bom mas raro e caro, enquanto que a sardinha existe em abundância, é saborosa e muito barata... E acrescentava  "Eu sou pela sardinha".

Ele bem sabia do que falava, pela luta que travou com as classes dominantes para atenuar os efeitos das doações de seu pai, que o levou a dizer que "o meu pai só me deixou as estradas do Reino para governar".

O Povo sempre foi o elemento dominante e mais preponderante nos momentos decisivos da nossa História, por absurdo que esta afirmação possa parecer. Quem esteve com o Povo sempre venceu. Assim foi em São Mamede, Ourique, Aljubarrota e guerras da restauração. É certo que o Povo esteve sempre numa situação subalterna, mas sempre que teve um desígnio em que acreditava, sempre levou de vencidas as dificuldades que por vezes não foram pequenas. 

Os maiores cronistas portugueses como  Fernão Lopes, Duarte Galvão, Rui de Pina, João de Barros, etc. tiveram sempre no Povo o seu elemento principal, apesar de não terem poupado na glória de quem os comandava.

Camões chama ao Povo "rude" e "néscio", o que não é de estranhar no seio dos poetas humanistas, que se dirigiam apenas a classes letradas. No entanto, a Nobreza também não é poupada, quando o Príncipe dos Poetas se refere à incultura das classes dominantes, que ainda não tinham "gerado" nenhum Homero ou Virgílio para contar as enormes façanhas da raça lusitana. Como Camões se enganou. Esse grande poeta foi ele próprio. 

 

publicado por Rui Romão às 19:56
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Segunda-feira, 2 de Junho de 2008

E Assim Nasceu Espanha

 

A Espanha que hoje conhecemos nasceu da união de dois reinos desta velha península, Castela e Aragão, selada através do casamento de Isabel de Castela e Fernando II de Aragão. Ficaram conhecidos na história como os "Reis Católicos" e foram o pilar da construção da Grande Espanha, um projecto consciente e que incluia o então Reino de Portugal.

Entrando pelo terreno pantanoso da história alternativa, é lícito especular que o curso dos acontecimentos poderia ter sido bem diferente, até porque a Infanta Isabel não seria a herdeira do trono, mas sim a Princesa Joana, filha de Henrique IV e de Joana de Portugal.

Porque motivo o trono foi entregue à Infanta Isabel, em detrimento da Princesa, filha dos Reis? O motivo é simples. O Rei Henrique IV era conhecido como o "Impotente" e como tal, quando nasceu a Princesa Joana, depressa circulou o rumor que a criança não seria filha do Rei, mas sim de um fidalgo, supostamente o favorito da Raínha, de seu nome Beltrão de La Cueva. Foi com o epíteto de "Beltraneja" que a pobre menina passou à história.

Existem versões contraditórias quanto ao testamento de Henrique IV. Alguns historiadores defendem que ele designou a filha para lhe suceder, outras fontes referem que escolheu a irmã, contudo nenhuma é conclusiva.

Quando o Rei morre, os nobres castelhanos, com um golpe palaciano, colocam no trono a Infanta Isabel. D. Afonso V decide intervir em prol da defesa dos direitos de sua sobrinha.

Viúvo de D. Isabel, filha do seu tio, o Infante D. Pedro, o das "sete partidas do mundo", com o qual se confrontou e venceu em Alfarrobeira, o monarca português reclama os seus direitos ao trono de Castela, reforçado pelo casamento com a sua sobrinha (que nunca foi reconhecido pelo Papa, supostamente pelo grau de parentesco).

Não conseguindo vencer no campo diplomático, D. Afonso V escolheu a via militar,  numa batalha de má memória para as hostes portuguesas. O combate dá-se na região de Toro, nome pelo qual ficou conhecida a batalha. No lado português encontrava-se o então Príncipe D. João, futuro D. João II, tendo inclusivamente  surgido a lenda de que a "ala"entregue ao Príncipe teria sido inexpugnável, o que me parece bastante improvável.

Perdida a batalha no campo militar, D. Afonso V parte para França, em procura do apoio de Luis XI, tendo este, após tergiversar, recusado ajuda ao monarca português. Desiludido com o mundo, entrega o trono a seu fiho  e decide ir em peregrinação para a Terra Santa, viagem que não chega a realizar. Regressado a Portugal, reassume o trono, pelo menos formalmente, uma vez que o Príncipe cada vez mais assumia a chefia dos  destinos do país.  

Esta tese de que Espanha nasceu da impotência de um Rei, não deixa de ser um pouco jocosa. Trata-se de uma pequena farpa, ao estilo de Eça e Ramalho, mas que não deixa de ser um motivo de reflexão acerca dos pequenos condicionalismos que, embora não parecendo à primeira vista, podem adquirir repercussões gigantescas.

Isto não significa que caso D. Joana fosse Raínha a Espanha não existiria hoje, ou mesmo, quem sabe, sob coroa portuguesa. Quis o destino que tal nunca se concretizasse. A primeira oportunidade sucede com a morte de D. Afonso, filho de D. João II, numa queda de cavalo. D. Afonso era casado com D. Isabel, filha dos Reis Católicos e sucessora do trono, pelo que o Príncipe se tornaria simultaneamente Rei de Portugal, Leão e Castela. Com a morte de D. Afonso, D. Isabel casa-se com D. Manuel, que sucedeu a D. João II, do qual daria à luz um menino, Miguel da Paz, jurado herdeiro de todas as coroas peninsulares. Quis novamente o infortúnio que o menino morresse quando contava apenas 2 anos de idade. Nova oportunidade viria três séculos mais tarde, quando D. Isabel II foi obrigada a abdicar e o trono foi "oferecido" a D. Fernando II, que não sendo português era Rei Consorte de Portugal. Diz a História que recusou em nome da independência de Portugal, teoria que não me convence. Embora acreditando na bondade e no amor genuíno que nutria pela sua pátria de adopção, creio que D. Fernando se apercebeu que a França nunca permitiria mais um alemão num trono europeu. 

Termino, como se tem tornado hábito, com uma nota de humor, até porque a História não tem que ser entendida como algo de aborrecido. Voltando aos Reis católicos, conta-se que a Raínha não nutria uma grande simpatia pelo embaixador português, um janota, de traje elegante, conhecido pela sua valentia e pelo seu sucesso na arte de cortejar.

Numa corrida de touros, mandou dizer ao embaixador, que se encontrava num palanque, que fosse privar com os reis numa casa onde se encontravam alojados, do outro lado da praça. Com este recado manda outro, dando ordens para que soltassem o touro mais bravo que existisse quando o embaixador estivesse a atravessar a praça. As pessoas recolheram-se aos palanques, e D. João de Sousa ficou sozinho na praça para enfrentar a fera. Despindo o capuz, atirou-o ao touro e, desembainhando a espada, num só golpe cortou a cabeça do touro. Depois de limpar a espada no corpo prostrado do animal,  tomou o capuz e sem perder a pose dirigiu-se calmamente a D. Isabel.

- "Boa sorte fizestes embaixador", disse-lhe a Raínha.

E ele repondeu-lhe:

-" Qualquer português faria o mesmo!"

publicado por Rui Romão às 23:26
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