Em 1498, no mesmo ano em que Vasco da Gama chegava à Índia, o Rei Dom Manuel anunciava a expulsão dos Judeus. O motivo não era de somenos. O Rei queria casar com Dª Isabel, viúva do Príncipe Dom Afonso, e a exigência dos Reis Católicos, seus futuros sogros, foi este aplicar a mesma medida que haviam tomado em Espanha. Portugal viu-se assim privado de uma casta de letrados e de homens de negócios no momento em que mais precisaria deles, nas vésperas da exploração da Rota do Cabo. Tivessem os judeus sido protegidos e o negócio das Índias teria sido muito diferente, com proveito para o país. A este estrangulamento da elite comercial no século XVI, segue-se o período filipino, que foi para Portugal um tempo de estagnação. Uma corte longínqua, atacados no nosso império, seja a Oriente seja no Brasil, principalmente pelos holandeses. Com a Restauração o país canalizou todos os recursos para a guerra e não obstante a tentativa do Conde da Ericeira, o chamado Colbert português, de modernizar o tecido produtivo, continuámos na penúria até ao final do século XVII.
O século XVIII é o século da Revolução Industrial, mas em Portugal não se produzia nada, porque na primeira metade vivíamos anestesiados pela letargia do ouro brasileiro, que conduziu à inacção. O pensamento do português de então era o seguinte: para quê produzir se os quintos do ouro brasileiro permitiam comprar tudo no extrangeiro? Erro crasso. Delapidámos esses proveitos a comprar ao exterior e não investimos nos meios de produção internos. Na segunda metade do século, quando o ouro brasileiro já escasseava, esboçou-se uma reacção pela mão de Sebastião José, que tentou tornar Portugal um país de mercadores, mas 27 anos não foi suficiente para mudar um país. O final do século é abalado pela Revolução Francesa, que haveria de marcar o início do século XIX em toda a Europa, incluindo Portugal. Em1808 acorte está no Brasil, o país é invadido 3 vezes pelos franceses. Do jugo francês passámos ao jugo inglês, do qual também nos livrámos, mas nenhum deles foi tão pesado como aquele imposto pelos próprios portugueses, na sequência da revolução liberal. A reacção absolutista à instauração do liberalismo conduziu à guerra civil, com vitória dos liberais. Mas a vitória liberal também não devolveu ao país a paz que este precisava para prosperar. Liberais radicais e liberais moderados viveram em constante conflito, até metade do século. Em 1851 com o golpe da Regeneração, Portugal entra finalmente nos trilhos da normalidade, vivendo o período de maior crescimento e progresso da sua história, muito por obra de um político muito pragmático, completamente arredio de questiúnculas políticas e ideológicas, e sem grande doutrinação política. Esse político foi Fontes Pereira de Melo. Foi no seu consulado que surgiram as primeiras indústrias, como a CUF, cujo principal accionista era o Conde de Burnay. Surgiram as obras públicas, com destaque para os caminhos-de-ferro, e as avenidas novas. Foi o telégrafo, o aparecimento dos bancos, seguradoras, enfim, foi o despertar de um país, com quase meio século de atraso face aos congéneres europeus.
Foi preciso esperar até ao final do século XIX para aparecerem em Portugal os primeiros grandes empresários. O maior de todos foi Alfredo da Silva, a quem já dediquei alguns posts, e a sua obra só pode ser comparada com outro grande vulto do capitalismo português, já na segunda metade do século XX: António de Sommer Champalimaud.
No próximo post, farei uma análise comparativa à obra de ambos.
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