O Marquês da Bacalhoa não consta nos livros de linhagens da nobreza Portuguesa. Nunca existiu ninguém que tivesse ostentado esse título, nem tão pouco se conhecem pretendentes. No entanto,ele serviu de título ao livro mais polémico editado em todo o século XX em Portugal. Nenhum outro teve impacto semelhante nas esferas políticas do país, nem o célebre "Portugal e o Futuro" do General Spínola. O Marquês da Bacalhoa foi escrito por António de Albuquerque, escritor praticamente desconhecido nos dias que correm, e relata a vivência de uma família aristocrática, residente em Azeitão (Palácio da Bacalhoa). Na narrativa são relatados factos pouco abonatórios, onde se contam relações extra-conjugais, lesbianismo e outras pequenas intrigas palacianas. O livro não seria polémico, nem o impacto que viria a ter, não fosse esta obra um autêntico libelo difamatório em relação à família real portuguesa. O "Marquês" da Bacalhoa retratava, nem mais nem menos, que o Rei D. Carlos I (proprietário do palácio da Bacalhoa)e a "Marquesa" Raínha DªAmélia, sendo o livro especialmente cáustico em relação a esta última-acusada de manter uma relação amorosa com Mousinho de Albuquerque e com uma dama da corte. O propósito do livro era, evidentemente, desacreditar a família real, indo ao encontro dos desejos da turba republicana. António de Albuquerque, autor mediocre ao nível de um Guerra Junqueiro, apenas se notabilizou por esse romance supostamente "neo-queiroziano". Albuquerque foi um arrependido amargurado, chegando inclusivamente a depositar num notário uma declaração de arrependimento em relação à Rainha Dª Amélia e ao Rei D. Carlos (este último a título póstumo). A sua penitência de pouco serviu, numa altura em que já agonizava, pois os ventos da história já sopravam noutra direcção. O seu livro, tal como o célebre "Caçador Simão", apenas tiveram o impacto social (hoje diria-se mediático) pelo facto de irem ao encontro das pretensões republicanas. Quando António de Albuquerque se retratou, em 1921, já a burguesia se passeava pelos corredores do (tumultuoso) poder republicano, pelo que o impacto foi praticamente nulo. Ficou o gesto da Raínha Dª Amélia, que vivendo a sua viuvez no exílio, teve a atitude magnânime de perdoar quem a vilipendiou de uma forma perfeitamente arbitrária e injusta. António de Albuquerque também detém o seu quinhão nas balas do 1º de Fevereiro, mas, façamos-lhe justiça, foi o único que no seu leito de morte teve a lucidez de reconhecer as suas faltas, dando a devida publicidade ao acto .
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