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Segunda-feira, 22 de Outubro de 2012

A TSU da Idade Média nas Cortes de Leiria

Portugal vive um período de turbulência. O equilíbrio das finanças públicas é um desígnio sacrossanto que tem levado o governo a empreender um conjunto de medidas draconianas (pelo lado da receita) mas que não primam propriamente pela originalidade. Agravar ou lançar novos impostos, é sempre assim quando um país vive numa situação deficitária das suas contas públicas. No nosso passado recente, após a implementação do regime democrático, esta é a terceira vez que Portugal tem que pedir auxílio internacional, negociando programas de assistência financeira, que nos ajudem a superar o crónico problema do défice público. Nas duas intervenções anteriores, Portugal tinha uma moeda própria (o escudo) que podia utilizar como mecanismo de ajustamento orçamental. A lógica era simples: ao desvalorizar a moeda diminui-se o salário real dos assalariados e permite às nossas empresas vender para o exterior a preços mais competitivos. Foi essa política que foi aplicada pelos governos “assistidos” de Mário Soares e foi por essa via que conseguimos reconquistar a nossa soberania financeira. O Portugal de 2012 não tem essa permissa. Integrado numa zona monetária que não controla, perdeu o mais importante instrumento de recuperação financeira. Acresce que ao estar inserido numa zona económica onde coexistem diferentes políticas fiscais, economias com grandes assimetrias e sem uma unidade política que permita uma política conjunta que susbtituia a acção individual de cada Estado-membro da “eurolândia”, torna-se vulnerável em períodos de crise, que ataca sobretudo os países da periferia. Este problema também se colocou na primeira república, levando a uma situação caótica que desembocou no 28 de Maio de 1926. Antes, Afonso Costa tinha-se considerado um autêntico “mago da finança”, ao conseguir, por um breve período, o equilíbrio orçamental, o que nos permite ter uma ideia da importância que se atribuía a este tema, para que o principal rosto da Iª Republica abraçasse este desígnio. Evidentemente que esta questão foi empolada, mas o esforço de guerra e o contexto económico da Europa levou o país novamente para a bancarrota, problema urgente que os generais do golpe de 1926 tiveram que pôr cobro. Lembraram-se de um jovem professor de Coimbra, chamado António Oliveira Salazar, mas este apenas ficou alguns dias no cargo de ministro das Finanças, por não ver satisfeitas as condições que entendia serem fundamentais para levar a bom termo a sua missão. Foi substituído por Sinel de Cordes, que não conseguiu grandes resultados, o que motivou uma segunda chamada para Coimbra, desta vez para a vinda a título definitivo do jovem professor. Regressando à temática da moeda e da falta deste instrumento, o governo lembrou-se em Setembro de 2012 de propor um agravamento de um imposto – a TSU (taxa social única) para os assalariados, para permitir a sua redução para as empresas. Foi um mar de indignação que se levantou. Chamou-se Robin dos Bosques (mas ao contrário) ao primeiro-Minstro Pedro Passos Coelho, fizeram-se manifestações gigantescas, e o governoacabou por ceder e abandonar esta medida. Em termos práticos, o que se tentou fazer foi produzir o mesmo efeito da desvalorização da moeda, i.e. aumentar a competividade externa e diminuir o poder de compra para diminuir as compras ao exterior, solução que considero engenhosa, mas que seria mais dificil de aceitar do que uma mera desvalorização monetária. Até aqui ainda não saí do século XX, mas o título que dei ao post remete-nos para as primeiras cortes realizadas em Leiria, no ano de 1254, e que ficaram na História por terem sido as primeiras em que o terceiro Estado, ou seja o Povo, teve assento. Reinava Dom Afonso III, que fora Conde de Bolonha e trouxe para Portugal uma nova concepção de Estado. Vivendo em França apercebera-se da importância do comércio como fonte de riqueza e prosperidade das nações, e com ele Portugal iniciou um caminho de prosperidade que apenas foi interrompido com a guerra civil entre Dom Dinis e o futuro Dom Afonso IV. A presença do Povo nessas cortes ainda não foi cabalmente explicada. Porque motivo o “Bolonhês” se lembrara de convocar representantes do Povo? Eu acho que este facto é explicado antes de mais pelo primado que este queria dar ao comércio, cujos agentes são mercadores e como tal, pertencentes ao povo (mais tarde serão chamados de burguesia). No entanto, com essa classe em franco progresso relaciona-se a temática tratada nessas cortes – a quebra da moeda. A quebra fiduciária era um esquema legal, muito utilizado pelos monarcas, e que consistia na recolha de toda a massa monetária em circulação, retirando uma parte do valor do metal (geralmente ouro e prata) mantendo a moeda o seu valor nominal. Ou seja, na prática era uma desvalorização da moeda. É evidente que a classe mais prejudicada era aquela que lidava com o dinheiro, isto é, os mercadores. Os nobres e os prelados tinham vastos domínios e o pagamento que lhes era feito era em géneros, através de pensões enfitêuticas, pelo que estes não utilizavam dinheiro. Mas para os mercadores esta desvalorização era uma fonte de grandes prejuízos. A moeda tinha sido quebrada em 1249/50 e existia o hábito de não fazer semelhante operação com menos de 7 anos de intervalo. Em 1254 a coroa encontrava-se depauperada e tinha que quebrar moeda ou então pedir dinheiro aos mercadores e foi por esse motivo que estes se reuniram em Coimbra, para combinar o preço a pagar para o Rei não quebrar moeda. Pelo menos esta é a teoria do Prof. Marcelo Caetano, que merece todo o crédito e que configura uma situação muito semelhante aos dias de hoje. Quando não existe desvalorização da moeda, a única solução é lançar ou agravar novos impostos.

publicado por Rui Romão às 08:24
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Sexta-feira, 5 de Outubro de 2012

5 de Outubro, o Último?

 

Comemora-se hoje pela última vez o feriado alusivo ao dia de implantação da República. Já estávamos habituados ao estafado acontecimento do hastear da bandeira pelo presidente da República na varanda dos paços do Concelho, pelo que fui surpreendido pela mudança de local. Por receio dos protestos populares, que se têm feito ouvir em todos os eventos públicos onde participam políticos, desviou-se a comemoração para o esconso Pátio da Galé!

É do conhecimento geral que a República foi proclamada na Câmara de Lisboa. Menos conhecido é o motivo porque escolheram a edilidade Lisboeta para assinalar este feito. Podiam ter escolhido o parlamento, ou mesmo o paço da Necessidades, embora neste último caso se compreenda que não quisessem começar um novo regime num edifício escalavrado pelo bombardeamento do cruzador Adamastor, desferido a partir do Tejo. O motivo é mais simples. Em 1908 os republicanos venceram as eleições para a Câmara Municipal de Lisboa, traduzindo a forte implementação que tinham na capital, centro de negócios onde se movimentava uma burguesia que tinha ganho um grande protagonismo com o fomento fontista. No entanto, à escala nacional, os republicanos eram uma minoria. Se fossem maioritários podiam ter chegado ao poder por via eleitoral, o que esteve sempre longe de acontecer. É verdade que existia caciquismo, ao serviço dos partidos do rotativismo, e a Igreja católica – que tomou uma posição activa anti-republicana (o que lhe valeu muitos dissabores na primeira república), mas este facto não explica tudo. Em 1910, só existia uma república na Europa, que era a França. Porque motivo teríamos que ser pioneiros na mudança de regime se não o éramos em mais nada? É um enigma a que não consigo responder, mas a sucessão de eventos desde o últimatum, passando pelo anacronismo e lutas intestinas dos partidos do rotativismo, e por fim o regicídio, tornaram a mudança de regime inevitável. A crise dos partidos monárquicos foi identificada bem cedo. O sistema de designação do governo era então perverso. O governo quando perdia o apoio no parlamento pedia ao rei a demissão. O monarca nomeava o outro partido (Progressista ou Regenerador) que se encarregava de marcar eleições. Esse partido no poder designava os governadores civis e outras autoridades locais afectas ao seu partido, que arregimentavam os votos de um povo pouco esclarecido, votando massivamente no partido que o cacique indicava.

A este sistema caduco opuseram-se grandes vultos da intelectualidade de então, com destaque para Oliveira Martins, que tentou fundar a Vida Nova, que propunha a refundação da política portuguesa, depositando uma enorme esperança no então príncipe Dom Carlos, propugnando por um papel mais interventivo do Rei. Este movimento não vingou, mas D. Carlos não desistiu de refundar o regime. Apostou num político enérgico, que fundou um novo partido, dissidente do partido Regenerador, e que tentou incutir um novo rumo à política portuguesa. Esse político foi João Franco. Debateu-se com a feroz oposição, quer dos republicanos quer dos tradicionais partidos monárquicos, para além de outro partido que nasceu noutra dissidência, a Renovação Progressista, comandada por José Maria Alpoim.

João Franco foi apelidado de ditador, quando não o foi. Segundo a Carta Constitucional o parlamento tinha que funcionar durante um período mínimo de 3 meses ao ano, período que foi respeitado. O espaço de tempo entre o encerramento das cortes sem eleições também foi respeitado, uma vez que estas estavam marcadas para Abril de 1908, como se veio a verificar. No entanto, já João Franco tinha sido apeado do poder depois do regicídio de D. Carlos, de que foi responsabilizado, pelo ambiente crispado que tinha criado. D. Manuel II afastou-o do poder, e o próprio afastou-se de vez da política até ao final da sua vida. A injustiça de que foi alvo foi uma certidão de óbito para a monarquia portuguesa.

D. Manuel iniciou um período que lhe chamou de “Acalmação”, que de calmo só teve o nome. Sucederam-se os chefes de governo sem conseguir impor um rumo de governação. O 5 de Outubro era inevitável, embora a forma como a manobra militar se desenrolou se tenha assemelhado mais a um filme cómico, argumento digno de um Charlie Chaplin.

O golpe militar propriamente dito teve início no dia 3 de Outubro, quando D. Manuel recebia em Belém o Presidente da República do Brasil. A rebelião não teve contudo a adesão esperada, pelos vários quarteis que não se mobilizaram, e o directório republicano viu-se a braços com um golpe fracassado. O chefe militar da operação, Cândido dos Reis – o célebre Almirante Reis que deu nome a metade das ruas deste país – apercebeu-se do logro e suicidou-se. Na véspera, outra baixa de vulto foi a do médico Miguel Bombarda, psiquiatra, um dos chefes civis do golpe, assassinado por um doente, e que partilha ainda hoje o protagonismo na toponímia nacional com o Almirante Reis.

Perante este cenário de golpe falhado, quando os revoltosos já recordavam o malogro do 31 de Janeiro, houve um oficial, Machado Santos, que não deu por perdida a batalha. Arregimentou os seus homens na rotunda (actual Praça Marquês de Pombal), e dali não saiu. As forças leais ao governo posicionaram-se nos Restauradores e assim ficaram quase um dia. Perante este impasse, o ministro Plenipotenciário da Alemanha (embaixador, na linguagem actual) meteu-se num carro e com uma bandeira branca deslocou-se ao reduto dos revoltosos numa tentativa de mediação entre ambas as partes. Os golpistas viram um homem com bandeira branca a subir a avenida e pensaram que as tropas leais ao governo se estavam a render. Desceram a avenida e ninguém se lhes opôs. Ninguém, para além de Paiva Couceiro, que sozinho não conseguiu inverter a situação comico-militar. O Rei foi para Mafra, de onde partiu para a Ericeira no dia 5 de Outubro, a caminho do exílio londrino, a bordo do Iate Real Amélia. Machado Santos, o herói da rotunda, foi assassinado na célebre noite sangrenta de 1921, pelos próprios republicanos, movidos pela sanha e balburdia que marcaram toda a primeira república.

Paiva Couceiro refugiou-se na Galiza, liderando as incursões monárquicas, conseguindo em 1919, após a queda de Sidónio, restaurar durante 1 mêso regime no Porto, a chamada Monarquia do Norte.

D. Manuel e sua mãe viveram no exílio até ao fim dos seus dias. O Rei dedicou-se a uma intensa actividade bibliográfica em Londres, conseguindo o estudo mais completo feito até hoje sobre livros antigos portugueses. Morreu em 1932, ainda jovem, regressando à pátria, onde foi recebido com toda a dignidade que lhe era devida pelo governo do Professor Salazar.

O mesmo Salazar convidou a rainha Dona Amélia para regressar à sua pátria de adopção, já depois da II Guerra Mundial. A longa vida da rainha permitiu-lhe regressar ao país do qual fora soberana e visitar os seus mortos, onde se demorou durante várias semanas. Não faltou a visita ao Palácio da Pena - onde viveu os melhores momentos em Portugal - e a passagem pelo Terreiro do Paço - onde viveu o momento mais dramático da sua vida, no dia 1 de Fevereiro de 1908. Neste dia, ficou a imagem da rainha, no alto do seu 1,86 m de altura, a enfrentar os regicidas com um ramo de flores.

Neste 5 de Outubro, é para ela que vai a minha homenagem.

publicado por Rui Romão às 08:55
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Segunda-feira, 2 de Agosto de 2010

A Grande Tentação Franquista

 

Para quem pensa que a História é uma ciência do que passou, estanque, sem grande progresso para além do que já foi documentado, o recém editado livro do espanhol Manuel Ros Agudo, aí está para contestar essa teoria. Sob o título "A Grande Tentação" este historiador deita por terra a teoria pacifista de Franco na II Guerra Mundial, através de uma análise dos arquivos governamentais relativamente a esse período e que estão agora disponíveis.

A teoria até há pouco tempo vigente era a de que Franco não cedeu às pressões de Hitler para entrar no conflito devido à sua debilidade militar e económica, em virtude da guerra civil que devastou a Espanha de 1936 a 1939. Se a análise à conjuntura espanhola é acertada, o mesmo não será a postura anti-beligerante.

Franco era acima de tudo um africanista. A guerra civil foi ganha a partir do Marrocos espanhol, onde Franco e uma série de militares e ministros se notabilizaram, pelo que o regime era particularmente sensível à questão do protectorado. Este país estava dividido entre a soberania espanhola e francesa, tendo os primeiros motivos de queixa face à sua vizinha, em virtude de sucessivas humilhações a que esta tinha sido sujeita pelo poderio gaulês. Franco atribuia aos governos da Espanha liberal esta pusilanimidade face ao vizinho transpirinaico, que tinham diminuído consideravelmente a extensão do seu protectorado em proveito da França. Para além deste conflito latente existia o caso particular de Tânger, que era uma cidade administrada por um directório internacional e que a Espanha também reclamava. A conquista de Tânger, feita unilateralmente pela Espanha, acabou por ser a única conquista durante o conflito, embora tenha sido efémera.

Em 1940 com a derrota francesa, Franco teve a intenção de invadir o Marrocos francês sob pretexto da incapacidade da França ocupada para garantir a estabilidade na zona. Sucede que a queda da França não resultou no desarmamento das forças armadas francesas. O regime nazi estabeleceu uma divizão entre a zona norte ocupada e a zona sul com alguma autonomia, com um governo próprio sediado em Vichy e chefiado pelo heroi francês da I Guerra Mundial - Marechal Pétain. Esta zona sul mantinha-se militarizada e com o controlo das colónias do norte de África que mantinham o seu efectivo militar.

Neste contexto Franco apercebeu-se de que militarmente não conseguiria sozinho derrotar uma França que mantinha um considerável contigente no norte de África. Assim, colocada de parte a hipótese unilateral - à semelhança do que fez em Tânger - Franco começou a negociar a entrada na guerra ao lado do eixo, cujo principal marco foi o encontro de Hendaia. Sucede que a exigência de Franco era a atribuição do Marrocos Francês a Espanha, o que Hitler não poderia aceder pelo receio que (legitimamente) este tinha que caso chegasse ao conhecimento dos franceses este acordo, a fidelidade a Vichy do contigente norte africano seria abalada e poderia suceder que se "passassem" para o lado da França Livre de De Gaulle -  como veio a suceder embora não por este motivo.

Para além disso, Hitler tinha em fraca consideração a capacidade militar espanhola, pelo que entendia ser um preço demasiado alto para o benefício que poderia trazer à causa do eixo. O interesse principal da entrada de Espanha no Eixo era Gibraltar - ponto estratégico de controlo de acesso ao Mediterrâneo - bem como uma das ilhas Canárias para aí colocar uma base militar.

Franco não se mostrou sequer disponível para falar da cedência de uma das ilhas das Canárias à Alemanha, sugerindo a ilha da Madeira...

Os planos de Franco e Hitler, que apenas não se concretizaram porque Hitler se recusou a ceder o Marrocos francês, era a ocupação de Gibraltar e um ataque preventivo a Portugal - tradicional aliado do Reino Unido - não obstante o pacto de amizade e não agressão assinado entre Franco e Salazar e do apoio decisivo deste para a vitória dos nacionalistas na guerra civil.

Quem nunca duvidou desta intenção foi o próprio Salazar, que sempre manifestou uma grande desconfiança relativamente ao seu homólogo espanhol, ou não conhecesse ele a tese de licenciatura de Franco na Academia Militar, precisamente como invadir Portugal...

Não obstante, no pós-guerra Franco contestado internacionalmente por ter ganho a guerra civil graças ao apoio italiano e alemão, apenas conseguiu quebrar o isolamento internacional a que foi votado graças ao apoio de Portugal.

Foi o seu seguro de vida.

 

 

publicado por Rui Romão às 20:31
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Sábado, 10 de Janeiro de 2009

O Nosso Património

 

Foi com o coração a sangrar que li a manchete do Expresso de 3 de Janeiro de 2009 " Um terço do património UNESCO em Portugal em risco de derrocada".

Não é que tenha ficado admirado, pois tenho tido oportunidade de o comprovar ao longo das inúmeras viagens que realizo, mas a dimensão do problema ultrapassa o limite do obsceno.

Nos últimos 150 anos, apenas se verificaram duas intervenções de fundo no nosso património arquitectónico. Na segunda metade do século XIX, com o Rei D. Fernando (que chegou a salvar in extremis a Custódia de Belém de Gil Vicente, que se preparava para ser fundida) e com Oliveira Salazar, no âmbito das comemorações de 1940.

Desde então, o nosso património continua a deteriorar-se perante o olhar impávido e sereno dos sucessivos ministros da Cultura, eles próprios instalados num palácio que ainda está por concluir.

Nem se trata apenas de uma questão sentimental, embora estes monumentos façam parte da nossa identidade, e como tal são um importante pólo cultural da portugalidade. Mesmo que o argumento cultural, considerado por alguns sectores da classe política "dispiciente", não fosse suficiente, vejamos a dimensão económica. Sendo Portugal um país que aposta forte na maior indústria do mundo, que como se sabe é o Turismo, haverá alguém que duvide que o património edificado é a maior atracção que o país tem para oferecer? 

Continuaremos nós a apostar num turismo de massas, o típico "sol e praia" sinónimo de um turista indiferenciado, facilmente superado por qualquer república das bananas, em detrimento de um turismo de qualidade, vocacionado para uma camada culta, que procura aquilo que só pode encontrar num determinado país.

Provavelmente, quando nos apercebermos da importância desta mina de ouro que deixámos ruir, já não teremos outra forma de recordar que não seja por foto. E aí, realizaremos que mais valia apostar na recuperação do nosso património do que em pontes para o Barreiro, ou em aeroportos para Alcochete.

Mas aí será tarde demais. 

 

publicado por Rui Romão às 18:42
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Domingo, 14 de Setembro de 2008

Reconhecer o Mérito

 

Ao passar no Chiado, dois monumentos nos lembram o passado literário daquele local. A estátua, na praça central, do poeta António Ribeiro "Chiado", risonho e com o dedo em riste a apontar para  Fernando Pessoa, sentado na sua Brasileira. Parece querer dizer:  " eu que fui tão pequeno em vida, estou aqui no alto, enquanto tu, que foste tão grande, te vês confinado a um canto".

Não muito longe, para lá da antiga muralha fernandina, jaz a estátua de Camões, inaugurada em 1880 por ocasião do IV centenário da sua morte.

Para além do espaço que a posterioridade lhes reservou, estes três poetas têm em comum o facto de nenhum deles ter conhecido a glória em vida.

Para o poeta Chiado é bastante lisonjeiro ser colocado ao lado destes "monstros" da literatura portuguesa. Poeta mediocre, não fora ter sido associado ao local mais nobre da capital e estaria votado ao mais profundo anonimato. Pouco se saber da sua  vida para além de ter sido um boémio incorrigível, amigo de Camões e viver no Chiado. No entanto hoje em dia coloca-se a questão de saber se foi o poeta que deu nome ao Chiado ou se o Chiado que deu o nome ao poeta. isto porque nos últimos anos foi vingando a tese que o topónimo Chiado seria originário do barulho, vulgo "chiadeira", da principal artéria do país, e como tal o poeta, que se chamava António Ribeiro (Chiado era alcunha),  e vivia no Chiado ter ficado associado ao local.     

Obviamente que Chiado não viu, nem poderia ver, os seus méritos literários reconhecidos em vida. Grandes vultos, como Pessoa e Camões, tiveram igual sorte. No entanto, o seu talento foi descoberto e apreciado pelas gerações vindouras.

Os méritos de Camões começaram a ser descobertos após a restauração da independência. Após 60 anos sob o jugo espanhol, Camões surge como uma referência nacional, em cujos versos se exaltava a valentia portuguesa. A segunda "vaga" camoniana teve lugar em meados do século XIX com o esplendor do romantismo e do orgulho imperial (que teve como consequência o célebre Mapa Côr-de- Rosa).

Fernando Pessoa, por seu turno, teve uma vida que apenas saiu do anonimato com a publicação da "Mensagem", única obra publicada em vida, e da sua actividade como técnico comercial. Quando morreu não poderia imaginar que décadas depois estivesse ao nível de um Camões. Estou convencido que Pessoa, quando morreu, pensaria que em 10 anos ninguém o conheceria. Mas foi preciso esperar por uma nova vaga imperialista, nas vésperas desse grande evento que foi a celebração do duplo centenário da fundação e restauração da nacionalidade, para que se começasse a reparar naquele grande talento. Por ironia, foi o evento organizado por António ferro e apadrinhado pelo regime, que acabariam por elevar a auto-estima nacional e  "abrir terreno" para a consagração de Pessoa, este mesmo que um dia escreveu este poema "dedicado" a Oliveira Salazar:

                                António de Oliveira Salazar

                                Três nomes em sequência regular...

                                António é António

                                Oliveira é uma árvore

                                Salazar é só apelido

                                Até aí está tudo bem

                                O que não faz sentido

                                É o sentido que tudo isso tem 

 

                                     (Fernando Pessoa, citado por Rui Romão)

 

Por falar em reconhecimento, não posso deixar de referir o paladino da mediocridade literária portuguesa, cuja roupagem de heroi carbonario-maçónico lhe garantiu a eternidade no Panteão Nacional, ao lado de algumas das mais importantes figuras portuguesas.

Falo de Guerra Junqueiro, cuja obra literária não mereceria mais do que o Alto de São João, como o comum dos mortais, e a obra cívica não menos que a Cadeia do Limoeiro.

Quando visito Stª Engrácia e vejo o túmulo do autor de "Os Simples", recordo-me, inevitavelmente, do comentário de Felipe II quando passou por Portalegre e vislumbrou um enorme túmulo na Igreja da Conceição (12 mt) que lhe informaram pertencer a um Bispo  "Grande gaiola para tão pequeno pássaro".

publicado por Rui Romão às 18:00
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Quinta-feira, 29 de Maio de 2008

Fado, Futebol e Fátima

 

Somos um país de divisas. Não me refiro a divisas fiduciárias, pois, à excepção das remessas dos imigrantes, não abundam em terras lusas desde os tempos de D. João V. Refiro-me a lemas, geralmente expressos de uma forma menemónica para permitir ao povo memorizar de uma forma simples.

É comum identificar três pilares do regime salazarista, curiosamente todos começados pela letra F: Fado, Futebol e Fátima. Aos 3 F's haveriam de suceder, hélas, três D's, a saber: "Democratizar, Descolonizar e Desenvolver".

Comecemos pelos F's. Fado, expressão musical exclusivamente portuguesa, teve uma origem ainda não completamente esclarecida, embora hoje se tenha alguma certeza que esteja relacionada com o regresso da corte de D. João VI a Lisboa, proveniente do Brasil. Desta melange de cultura africana, brasileira e portuguesa nasceu uma música original que começou inicialmente a ser cantada em casas "mal-afamadas" da capital. Teve na "Severa" a sua primeira grande intérprete, e em Amália o seu apogeu. Não obstante, continuou a ser vista como uma música boémia, de gente pouco recomedável e terrivelmente desprezada pela intelectualidade. Recordo uma entrevista do fadista João Braga, em que relata a forma como disse a seu pai que queria ser fadista. Conta-nos Braga, que o pai foi consultar o dicionário e, em voz alta e bom vernáculo, leu o significado do adjectivo fadista que encontrou no dicionário: chulo, proxeneta, meretriz... 

Salazar não gostava de fado. Entendia que era uma canção que conduzia a um melancolismo abúlico, preferindo estilos mais ritmados como o "Vira do Minho". Amália, símbolo apropriado do regime, e o Fado foram muito maltratados no pós 25 de Abril, por existir a ideia que eram instrumentos do regime cessante. A reabilitação do Fado, já em pleno século XXI, veio com uma nova geração de fadistas, onde o nome mais  sonante é Mariza.

O Futebol teve o seu momento mais marcante como instrumento político em 1966 no Mundial de Futebol de Inglaterra. Os "magriços" cumpriram dois objectivos do regime:

1º Provar que os portugueses se podiam bater de igual para igual com todos os países, consonante com a célebre postura do "orgulhosamente sós".

2º Demonstrar, em plena guerra colonial, que as colónias eram tão portuguesas como qualquer região da Metrópole, através da estrela maior do futebol português de então, Eusébio, originário de Lourenço Marques, Moçambique.

A colagem de Eusébio ao Estado Novo trouxe-lhe mais tarde (à semelhança de Amália) alguns dissabores. Já no ocaso da sua carreira, o então futebolista encontrava-se nos EUA a jogar quando a sua mãe faleceu, tendo-lhe sido vedada a entrada no seu país de nascimento para assitir às cerimónias fúnebres.

O 3º F, Fátima, foi um fenómeno anterior ao regime, mas acentou que nem uma luva numa Igreja Católica ameaçada pelo fanatismo republicano. Com o reconhecimento das aparições por parte da cúria romana, tornou-se no símbolo máxima de fé em Portugal. Salazar, que frequentou um seminário e chegou mesmo a receber ordens menores, ao contrário do que se pensa estava longe de ser um "beato". Não comungava, nem sequer se confessava (D. Maria dizia que tinha uma dispensa do papa!) olhando com reserva para alguns bispos rebeldes. Penso que adoptaria a fórmula do célebre Bispo de Viseu, D. Alves Martins, " a religião quer-se como o sal na comida, nem de mais nem de menos".

Apesar da utilização do milagre no contexto doméstico, o seu alcance foi muito para além do âmbito nacional. A principal mensagem mariana aos "pastorinhos", expressa nos célebres "segredos", destinava-se à conversão da Rússia bolchevique. Em 1917 dá-se a Revolução Russa que desde primeira hora assume a sua vocação internacionalista. A Santa Sé  não menosprezou este ambiente revolucionário e o tempo viria a dar-lhe razão.

A mensagem de Fátima viria a causar algum mau estar em plena II Guerra Mundial. A invasão da Rússia (Já então União Soviética) por parte da Alemanha Hitleriana parecia ser legitimada pela mensagem mariana.

Os D's encerravam os desafios mais prementes que o país, saído de um contexto revolucionário, teria que enfrentar. Democratizar foi um processo difícil, só completamente estabilizado em 1982 com a revisão constitucional que extingue um orgão militar não eleito: o Conselho da Revolução.

O processo de descolonização foi conturbado, mal conduzido, caótico e negligente, cujas sequelas ainda hoje se fazem sentir na antiga África portuguesa. Este imbróglio, que colocou os comunistas no poder em todas as ex-colónias, tem dois rostos. Mário Soares e Almeida Santos. Não obstante, o povo português compensou (e de que maneira) a inaptidão dos políticos, com um processo de integração dos chamados "retornados" exemplar.

Finalmente o "D" de desenvolver continua a ser o mais difícil de concretizar. Caímos no mesmo erro dos nossos antepassados no reinado de D. João V. Recebemos o dinheiro de Bruxelas, mas não o aplicámos convenientemente. D. João V construiu o Palácio de Mafra, Cavaco Silva construiu muitas estradas mas investiu pouco no maior capital que um país tem: as pessoas. 

 

publicado por Rui Romão às 07:15
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Sexta-feira, 24 de Agosto de 2007

Herois ou Vilões?

Como escreveu Hegel "A coruja de minerva só levanta voo ao anoitecer". Esta frase pode ser interpretada de diversas formas, embora o filósofo alemão se quisesse referir à necessidade de distanciamento dos factos para os poder interpretar do ponto de vista estrutural e não apenas conjecturalmente.

Esta citação vem a propósito da interpretação que a história faz de personagens controversas.  Pessoas odiadas em vida, cujos ventos da história se encarregaram de lhes conceder uma biografia mais bondosa. São vários os exemplos, no entanto Pombal parece-me o mais paradigmático. Se dissessem aos seus contemporâneos que teria uma estátua no sítio mais nobre do país, passados apenas duzentos e poucos anos, provavelmente não acreditariam. Ironia das Ironias, no topo de uma avenida com o nome de liberdade! Outro caso mais recente, Oliveira Salazar, também já se encontra em fase de reabilitação, como atesta um recente programa televisivo e a profusão de obras, originais ou reeditadas, dadas à estampa ultimamente.

No entanto já tive oportunidade de falar nestes casos, pelo que gostaria de referir três personalidades da história recente de Portugal que, numa escala mais reduzida, reúnem os mesmos condimentos dos dois casos que mencionei. Pessoalmente, não as consigo catalogar tout court nem como herois nem como vilões, porquanto que a espectacularidade das suas façanhas só esbarra na ilicitude dos seus actos. São eles o "Remexido", o Zé do Telhado e o Alves dos Reis.   

 O "Remexido", alcunha herdada de família, foi o nome com que ficou conhecido na história José Joaquim de Sousa Reis,  combatente indefectível da causa de D. Miguel I. Consideram-no vilão provavelmente porque a História é sempre contada pelos vencedores, e como derrotado sujeitou-se ao rótulo que os liberais lhe colocaram. A lógica é semelhante à do tribunal de Nuremberga, quando questionaram um general do exército nazi sobre as causas que o levaram a estar sentado no banco dos réus. Este respondeu simplesmente que se encontrava nesta situação porque perdeu a guerra, porque se tivesse ganho era o seu interlocutor que ali estaria a responder pelos seus actos. É verdade que o "Remexido" espalhou o terror muito para além do final da guerra, no entanto também não deixa de ser verdade que as prerrogativas da Concessão de Évora-Monte, que previam a amnistia a todos os combatentes que lutaram pela facção absolutista, não foram cumpridas, dadas as represálias de que estes foram alvo. O "Remexido" perante este cenário de retaliação,  a que a sua família não foi poupada, resolveu então não entregar as armas e resisitir praticamente até ao último homem, que foi ele.

Executado em Faro, em 1838, não teve direito a estátuas como Saldanha, Sá-Nogueira ou Terceira. Mas só não as teve porque perdeu, ao contrário dos nomes que citei. Inclino-me mais para o considerar heroi pela bravura e dedicação, mas sei que se trata de uma posição polémica. 

O "Zé do Telhado" é considerado o Robin dos Bosques português, aparentemente por partilhar os proventos da sua actividade criminosa com os mais necessitados. Tinha por zona de actuação o norte do país, tendo sido preso em 1859 e encaminhado para a Cadeia da Relação do Porto, onde privou com Camilo Castelo Branco, a braços com o caso de adultério com  Ana Plácido. Considero Zé do Telhado um vilão. Ele não lesou apenas os ricos. Remediados, pobres e gente trabalhadora viram-se extirpados de rendimentos de trabalho honesto por obra e graça de Zé do telhado e da sua equipa de bandoleiros. No século XIX, em pleno dealbar do romantismo, esta figura suscitou admiração e interesse que justifica que alguém lhe dedique algumas linhas 150 anos depois, mas na essência nada o distingue dos restantes bandidos que existiam naquela altura.

O último caso, Alves dos Reis, é de todos o que mais facilmente eu setencio de vilão, até porque não se conhece nenhuma actividade benemérita que pudesse contrabalançar com a sua actividade criminosa. No entanto, dos exemplos que citei, foi o único que nunca empregou força física para conseguir os seus intentos, a que se soma uma genialidade a todos os títulos notável. A sua actividade burlesca começou desde cedo. Forjou um diploma de engenharia de uma universidade fictícia, comprou acções de empresas com cheques sem fundo, entre outros episódios recambulescos. Tornou-se célebre quando em 1925, aproveitando a balbúrdia republicana, fundou um banco em Angola - Banco Angola e Metrópole - financiado através de notas de 500 escudos falsas, num montante que se aproximava de cerca de 1% do produto interno bruto português na altura. O caso teve repercussões internacionais e levou à saída de circulação de todas as notas de 500$. A prisão foi o seu destino, não antes sem ter acumulado riqueza através da compra de participações sociais em diversas empresas, tentando inclusivamente adquirir o Diário de Notícias.

Serão os ventos da história magnânimes ao ponto de os absolver?

publicado por Rui Romão às 13:11
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